Capítulo vinte

13.2K 1.2K 186
                                    

Quando entramos no quarto onde Pedro estava, rapidamente fomos tomados pelas risadas altas, daquelas que só os homens sabem dar. Meu irmão estava sentado na cama, suas mãos sobre a barriga e seu rosto cheio de lágrimas. Mas ele estava rindo, e não chorando. Riu tanto que começou a tossir. Se eu não estivesse escutando sua risada, estaria apavorada com a quantidade de machucados que ele tinha nos braços. Em seu rosto havia apenas uma grande marca no lado direito, como se sua bochecha tivesse sido arrastada no asfalto. Eu sinto meu corpo estremecer; talvez isso tenha mesmo acontecido.

Ao lado dele, estavam papai e os garotos da banda, também rindo. Sorrio ao ver meu pai se divertindo. Isso não aconteceu muito nos últimos anos, então vê-lo sorrir está entre minhas coisas preferidas nesse mundo.

- Oli! Gabriel! – Pedro quase grita, erguendo os braços e tentando parar de rir. Vejo que um braço está engessado até o cotovelo – Que bom que vocês vieram.

Eu abro um sorriso. Diferente do que pensei que aconteceria, não estou ao ponto de começar a me descabelar de tanto chorar por encontrar meu irmão machucado em uma cama de hospital. Gabriel, por outro lado, está pálido e percebo que se esforça para sorrir.

- Claro que viemos, amigão – Gabriel diz e Pedro abre um sorriso ainda maior.

Os rapazes se levantam, indicando que estão de saída e se despedem de Pedro, bagunçando seu cabelo e batendo seus punhos juntos.

- Nós precisamos ir agora porque vamos cobrir o turno do Gabriel no pub – Felipe diz ao meu irmão, que assente. – Mas não se preocupe, vamos cantar uma música em sua homenagem.

- Legal! – Pedro responde, feliz.

Antes que saiam do quarto, Beto dá um abraço apertado em Gabriel e sussurra alguma coisa para ele. Gabriel fecha os olhos e relaxa um pouco.

- Nos vemos mais tarde, cara. Fica tranquilo – diz antes de sair.

- Hoje à noite vamos tocar tão bem que eles nem vão mais querer que você vá se apresentar lá – Mateus o provoca.

- Com o Beto cantando? Duvido – Gabriel pergunta, debochando. – Quando chegarem em casa cobertos de tomate podre, não sujem o chão.

Mateus o abraça e então todos eles se vão.

- Oi, querida – papai diz, dando um beijo no alto de minha cabeça.

- Como ele está? – pergunto baixinho.

- Ele está muito bem – responde, suspirando. Posso ver em seu rosto o alívio que sente. Isso faz com que eu me sinta melhor e, pelo jeito com que Gabriel passa a mão pelo rosto, vejo que ele também se sente. – Foi um milagre. Mas ele vai passar a noite aqui para ficar em observação. Se estiver tudo bem, receberá alta amanhã.

- Eu estou aqui – Pedro me notifica. – Por que não pergunta para mim?

Levanto uma sobrancelha para ele e sento ao seu lado na cama.

- Como é que você está se sentindo?

- Ótimo – diz. – E agora tenho um gesso que parece uma luva de boxe.

Eu balanço a cabeça, concordando.

- Doeu muito para consegui-la?

Ele franze o nariz.

- Um pouquinho – admite. – Mas agora já passou.

Papai segura minha mão e a aperta, como se estivesse me consolando.

- Filha, preciso passar a noite na delegacia. Não tem ninguém para me cobrir – diz, visivelmente triste por ter que ir. – Você pode passar a noite com Pedro aqui?

Depois que você chegouOnde histórias criam vida. Descubra agora