Naquela noite, ao chegar em casa, encontrei Pedro e Gabriel na sala, jogando vídeo game, comendo pizza e rindo um monte. Fui silenciosa o máximo que pude, porque queria poder ver o sorriso de Gabriel enquanto podia; se me visse, tenho certeza de que aquela alegria sumiria de seu rosto.
- Estou quase ganhando! – Pedro grita, quase se jogando para fora do sofá com o controle em suas mãos.
Gabriel caiu na gargalhada.
- Não acredito que vou perder para um menino de cinco anos!
Eu olho para a tela para encontrar os dois em um jogo animado de corrida. Enquanto que na metade da tela que indica o desempenho de Gabriel os pontos não param de crescer, na tela de Pedro tudo o que posso ver é seu carrinho destruído indo de encontro aos muros, postes, pessoas e outros carros. A expressão em seu rosto, no entanto, é de alguém que não faz nem ideia de sua própria pontuação.
- Já está acabando? – meu irmãozinho pergunta, tentando manter a atenção no jogo, mas ao mesmo tempo encarando a caixa de pizza. – Estou morrendo de fome.
- Você comeu duas fatias de pizza há dez minutos – Gabriel o responde, colocando a língua para o lado ao fazer uma curva no jogo. Uma graça. – Crianças não podem comer demais. Faz mal.
- Mas você comeu sete fatias! – Pedro o acusa.
Gabriel começa a rir, e eu estou rindo também, em silêncio.
- Você contou quantas fatias eu comi? – pergunta, pausando o jogo para olhar para o pequeno garoto que o observava com um olhar travesso.
E nesse momento ele me vê. E meu corpo inteiro treme quando seu olhar pousa sobre mim.
Ficar dez dias longe de minha família foi difícil, sem dúvidas, mas foi um tipo... diferente de difícil. Ficar dez dias longe de Gabriel foi como ficar dias sem água; agora que a tenho em abundância bem na minha frente, tudo o que eu quero é bebê-la.
Seu rosto, como primeira reação, mostrou que estava feliz em me ver. Um sorriso genuíno estampou seus lábios por alguns momentos antes de desaparecer. Eu me forcei a sorrir também - a verdade é que meu coração batia tão aceleradamente por vê-lo, que precisei de muita força de vontade para que meus músculos obedecessem. Tudo o que eu pensava era "MEU DEUS, SORRIA MAIS UMA VEZ, POR FAVOR".
Repreendi a vontade absurda de ir abraça-lo (vontade que agora era comum em minha vida), porque isso certamente não ajudaria em nada no clima estranho em que estávamos e, além disso, me faltava coragem. Uma vez que seu olhar parou de sustentar o meu, ele se virou para Pedro, que devorava uma fatia de pizza. Então, antes que eu desistisse (e que Gabriel inventasse uma desculpa para sair da sala), eu caminhei até o sofá e me sentei ao seu lado.
Por estarmos lado a lado, nossos braços se tocavam e, eu juro que, depois que me sentei, seu corpo se inclinou um pouco mais para o meu lado, para que nossas pernas se tocassem também. Pedro, após super discretamente ter terminado de comer a pizza, finalmente notou minha presença e correu na minha direção. Eu quase o esmaguei com o meu abraço.
- Finalmente! – Pedro diz, com seus bracinhos ao redor de meu pescoço. Eu sei que parece absurdo, mas tenho a impressão de que ele está maior do que da última vez em que o vi. – Eu estava com tantas saudades, Oli.
Eu sorrio.
- Eu também.
Ele me aperta um pouco mais.
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Depois que você chegou
RomanceApós o acidente que matou sua mãe, Olívia mudou. Antes, sua vida se resumia a festas e diversão, mas depois da trágica noite, ela passou a cuidar de seu pai, um policial, e de seu irmão, Pedro, de apenas três anos. Dessa forma, quando terminou o últ...