Capítulo dezesseis

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Depois que Gabriel (aparentando estar muito irritado) me deixou sozinha na cozinha, fui ao encontro de Bernardo. Sinceramente, não entendi o motivo da irritação, e nem consegui compreender a mágoa por trás dos seus olhos quando disse que meu namorado havia chegado. Eu pedi para que ele me explicasse o que estava acontecendo, mas não obtive respostas.

- Amor! – Bernardo me chama, do outro lado da sala.

Eu aceno e aponto para as escadas, indicando para que ele fosse para o andar de cima. Preciso contornar muitas pessoas bêbadas antes de conseguir chegar aonde queria.

- Eu não sabia que você viria – digo, sorrindo ao me aproximar.

- Eu quis fazer surpresa – fala, me puxando para um beijo.

Eu o abraço com todas as minhas forças. Não percebi o quanto senti sua falta até que estivéssemos juntos novamente.

- Obrigada por ter vindo.

Ele passa a mão por meus cabelos, carinhosamente.

- Eu precisava ver você. Não aguentava mais de saudades – comenta. Sua voz é calma e me traz tranquilidade, assim como sempre fora com ele.

- E desculpe pela festa rolando lá embaixo. Eu descobri que ela estava acontecendo dez minutos antes de você chegar.

Ele me olha, confuso.

- Amanhã eu te explico – falo, rindo. – Vamos para o quarto? Se fecharmos a porta a música não fica tão alta.

Conversamos por cerca de duas horas; havia muito assunto para colocarmos em dia, já que estávamos há muito tempo sem nos encontrar. Preciso confessar, no entanto, que embora eu ame Bernardo, eu não gosto que praticamente 95% de nossas conversas envolviam o tema faculdade. Ele estava sempre me dizendo o quanto estava difícil e cansativo, enquanto o que eu queria era que nós dois aproveitássemos o pouco tempo que dispúnhamos para aproveitar a companhia um do outro.

Em certo ponto da noite, acordo em um sobressalto. Eu nem mesmo havia me dado conta de que estava com sono. Esfreguei os olhos e olhei para o relógio, que marcava cinco horas. Ao meu lado, Bernardo dormia tranquilamente.

Não havia mais música tocando, então resolvi dar uma olhada no andar de baixo apenas para ter certeza de que não havia mais nenhum estranho na casa. Eu não queria que quando papai chegasse, dentro de algumas horas, ele encontrasse um sujeito desconhecido dormindo no nosso sofá.

Desço as escadas em silêncio, embora acredite que os rapazes da banda estavam tão bêbados quando foram dormir, que provavelmente não me ouviriam nem se eu estivesse sambando com salto alto nas escadas de madeira. O pensamento me faz rir.

O sorriso some de meu rosto quando me deparo com Gabriel, sozinho, na cozinha. Ele está de costas para mim; seus braços estão apoiados na pia e sua cabeça está baixa. Obviamente está pensando em alguma coisa que não o agrada.

Fico parada, observando-o por algum tempo, até que ele expira o ar com força e se vira. Quando me vê, vejo surpresa percorrer seu rosto. Ele abre a boca, como se estivesse prestes a dizer alguma coisa, mas então desiste na metade do caminho, e ficamos apenas nos olhando por infinitos segundos.

- Oi – eu digo. Ele fecha os olhos com força antes de voltar a me olhar. Sua mão percorre seu cabelo, como ele sempre faz.- Por que você ainda está acordado?

- A casa estava suja – diz, dando de ombros. – Não queria que Carlos chegasse e encontrasse tudo como estava.

Eu balanço a cabeça, concordando.

Depois que você chegouOnde histórias criam vida. Descubra agora