Capítulo catorze

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A noite passada terminou tarde - após muita humilhação com as risadas de Gabriel, a história trágica de meu primeiro beijo e a negação dele de me contar como fora sua experiência. Apesar de tudo, eu me diverti muito. Ontem, eu não era mais a garota que havia perdido a mãe e que assumira grandes responsabilidades cedo demais; não era a pessoa deprimida que preferia sempre estar sozinha. Eu era apenas uma garota se divertindo numa noite de sábado com um garoto... E foi tão bom.

Bocejo ao abrir a porta de meu quarto para preparar o café da manhã, e dou uma olhada em meu relógio. Ainda eram oito horas, provavelmente ninguém estava acordado. Talvez eu poderia dormir mais alguns minutos...

Quando estou fechando a porta escuto Gabriel subir as escadas. Aparentemente, ele está conversando ao telefone. Por algum motivo, deixo a porta um tanto aberta para ouvir sobre o que ele está falando (sei que é errado, mas não posso evitar).

- Isso é mesmo necessário? – pergunta. Ele para de caminhar quando chega ao topo da escada e fica algum tempo escutando o que a outra pessoa tem a dizer. – Essa casa não é minha, eu não posso fazer o que eu quiser, Beto. Temos que respeitar... Ela o quê? Minha mãe ligou para ele? – mais um tempo em silêncio. Ele suspira alto antes de continuar. – Tudo bem, então, se o Carlos deixou e se vocês querem tanto fazer isso, acho que pode até ser divertido... Beleza, qualquer coisa me liga.

E então ele desliga. Logo em seguida escuto passos, que soam cada vez mais alto. Ele está vindo para cá! Para fingir que eu não estava escutando sua conversa, vou correndo para o outro lado do quarto, para olhar pela janela.

Porém, com toda a sorte que tenho, bato o dedinho do pé no canto da cama antes que eu possa dar cinco passos. Eu solto alguns palavrões antes de me abaixar para analisar o estrago. Como é que isso pode doer tanto?

- Devo chamar uma ambulância? – Gabriel pergunta, rindo, ao aparecer em minha porta meio aberta.

- Acho que quebrei o dedo – reclamo.

Ele franze o cenho e se aproxima, analisando meu pé. Seus dedos estão levemente apoiados em meu tornozelo e fazem um movimento circular discreto, como um carinho.

- Não... O formato do seu dedo já era estranho antes de batê-lo – diz, contendo um sorriso. – Compare com o outro pé. Está vendo? Os dois são feios.

Eu reviro os olhos e dou um tapa em seu ombro, mas nós dois acabamos rindo.

- Engraçadinho.

- Eu tento – ele dá de ombros. – Mas, falando sério, não há nada de errado com o seu dedo.

- Quer dizer que meu dedo não é feio?

- Não, o seu dedo é mesmo feio, mas não está quebrado.

Idiota!

- Ah, vê se me dá um tempo – eu reclamo, mas estou sorrindo. – Veio aqui só para me irritar?

- E para dizer bom dia – responde com aquele sorriso maravilhoso em seus lábios.

- Certo. Já terminou?

- Acho que sim.

- Será que agora você pode deixar meus dedos feios e eu em paz? Nós meio que precisamos ir ao banheiro.

Ele se levanta e me estende seu braço para me ajudar.

- Tudo bem – diz. – E tem mais um motivo para eu ter vindo.

- Que é...?

- Não marque nada para semana que vem. Nós teremos uma festa.

- Festa?

Depois que você chegouOnde histórias criam vida. Descubra agora