Os dias da semana iam passando, os rapazes da banda continuavam a me irritar e Gabriel parecia me evitar (até rimou). Contei sobre Gabriel para Lúcia e ela disse que provavelmente eu estou imaginando coisas. Mas eu acho que não, porque a) ele não sorri para mim há dias; b) quando eu tento conversar, ele diz que está atrasado para um compromisso (porém entra em seu quarto e não sai mais de lá); c) se ele vê que eu estou na cozinha, mesmo que esteja morrendo de fome, não entra; d) sai de casa pelo menos três horas antes de começar a trabalhar e volta apenas depois que eu já estou dormindo. Preciso citar mais algum exemplo? Está na cara que ele não quer falar comigo. A questão é: por quê?
Se eu ao menos tivesse a coragem de perguntar...
Na quinta-feira à noite, eu sem querer entrei no banheiro enquanto ele escovava os dentes. Ele tomou um susto e, contra a sua vontade, abriu um sorrisinho cheio de espuma de creme dental. Eu nunca fiquei tão feliz na minha vida por ver uma pessoa sorrindo ao escovar os dentes.
Na sexta-feira, quando Pedro e eu chegamos da escola, Gabriel estava na sala, tocando violão e rabiscando algumas coisas em um papel. Meu irmão passou correndo por ele, gritou um "oi" e depois subiu as escadas rapidamente, como sempre fazia. Eu, no entanto, fiquei parada na porta, apenas observando a cena que acontecia em minha frente.
Ele estava de costas para mim, por isso não havia me visto. Gabriel tocava uma nova melodia e, de segundos em segundos, ele rabiscava alguma coisa na folha de papel que tinha ao seu lado. Eu estava muito curiosa para perguntar o que ele estava fazendo, mas não me atreveria a chamar sua atenção para mim, porque eu sei que ele pararia de tocar.
No entanto, como se estivesse lendo meus pensamentos, ele se vira para me olhar. Quando me vê, sua expressão passa de tranquila para triste. Seus olhos estão fixos no meu e eu sinto como se ele quisesse me dizer algo, mas não tivesse certeza se deveria. Era possível ver a luta no seu olhar.
- Escrevendo uma música? – pergunto, porque os segundos de silêncio entre nós estavam ficando sufocantes.
Ele pisca algumas vezes, como se estivesse saindo de um transe.
- Hum... sim, eu estou. Mas não está ficando bom – diz, forçando um sorriso.
- Posso ouvir? – caminho devagar até o outro sofá.
Ele passa a mão pelos cabelos e respira fundo.
- Acho que não é uma boa ideia. E, de qualquer forma, eu estou um pouco atrasado.
De repente, sinto vontade de rir, mas não estou achando nada engraçado, e sim triste. Escuto minha risada baixa e amargurada e não consigo deixa-lo ir.
- Atrasado para que, Gabriel?
Ele arregala os olhos, surpreso pela pergunta.
- Tenho muitas coisas para fazer.
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Depois que você chegou
RomanceApós o acidente que matou sua mãe, Olívia mudou. Antes, sua vida se resumia a festas e diversão, mas depois da trágica noite, ela passou a cuidar de seu pai, um policial, e de seu irmão, Pedro, de apenas três anos. Dessa forma, quando terminou o últ...