Capítulo doze

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Lúcia chega logo em seguida, a tempo de vê-lo subir no palco.

- Eu sinceramente não sei como você consegue – ela diz ao me dar um beijo no rosto e sentar-se onde Gabriel estava há poucos segundos.

- Como eu consigo o quê?

- Olhar para ele todos os dias e não se apaixonar – Lúcia ri.

Eu rio também, mas não acho engraçado.

- Você sabe se ele tem namorada?

Provavelmente não, é o que eu penso.

- Provavelmente sim – é o que eu digo, dando de ombros.

Eu sei, sou uma pessoa horrível. Deveria ter falado a verdade... Ou não. Não quero nem pensar nos dois juntos. Gosto muito de Lúcia, mas não quero vê-la o tempo inteiro na minha casa.

Ela suspira.

- É uma pena.

Eu aceno com a cabeça e, assim que o garçom chega com minha bebida, dou um gole.

- E então, como está a faculdade? – pergunto.

- Complicada. O terceiro ano é mais difícil – responde, não tão empolgada. No entanto, quando volta a falar, seus olhos adquirem um certo brilho. – Vi Bernardo por lá algumas vezes nas últimas semanas.

- É mesmo?

Legal, isso quer dizer que ela já o viu mais do que eu no último mês.

- Sim, ele está sempre coberto de livros – comenta com um sorriso.

Eu aceno com a cabeça novamente. Serei uma péssima amiga se disser que não estou interessada na conversa?

Felizmente, ela fica em silêncio e eu posso prestar atenção em Gabriel. Ele está concentrado, com seus olhos fechados e um leve sorriso nos lábios, tocando seu violão e cantando uma música que não conheço, mas que é incrivelmente linda. Pelo jeito, não sou a única a admirá-lo; várias das garotas das mesas mais próximas ao palco não desgrudam seus olhos dele, lançando-o sorrisos mesmo que ele não esteja as vendo.

Lúcia e eu ficamos incontáveis minutos em silêncio, até que ela recebe uma ligação de sua mãe, e precisa sair. Eu suspiro. Mas ficar sozinha em um bar não é a pior coisa do mundo. Aproveito para assistir a Gabriel que, a cada música que toca, anima ainda mais o público.

Não sei há quanto tempo o estou assistindo mas, em certo ponto da noite, ele já estava de pé na beirada do palco, cantando com uma emoção palpável. Todos no bar também estavam de pé, aplaudindo e movimentando o corpo no ritmo da música que ele tocava. Fiquei surpresa ao perceber que eu estava fazendo o mesmo.

Ao terminar sua apresentação, Gabriel introduz a banda que vem em seguida e faz um rápido agradecimento à plateia, que o aplaude insanamente por vários segundos. Quando está descendo do palco, seus olhos pousam em mim, e eu sorrio e aceno. Ele passa uma mão pelos cabelos loiros, um pouco molhados, e sorri antes de começar a andar em minha direção.

No entanto, ele rapidamente é parado por um grupo de mulheres. Espero um pouco, na esperança de que elas só queiram parabeniza-lo, mas pela maneira como uma delas está com seu braço por trás das costas dele, acho que a pequena reunião vai demorar mais do que eu esperava.

Sentindo-me um tanto irritada por ter que esperar, decido ir até o balcão pedir mais um refrigerante. Sento no único lugar disponível na bancada e espero pelo garçom.

- Posso te dar uma bebida? – o cara que está ao meu lado pergunta. Ele parece alguns anos mais velho que eu.

- Você é o garçom, por acaso?

Ele baixa a cabeça e ri. Depois, toma mais um gole de sua cerveja e estica uma mão para me cumprimentar.

- Meu nome é João – diz. – E o seu?

Meu nome é não-estou-interessada.

- Olívia – respondo sem olhá-lo.

Quando João percebe que não vou cumprimenta-lo, ele deixa seu braço cair e ri mais uma vez. Gostaria de saber qual é a graça.

- Você está sozinha aqui? – pergunta, se inclinando um pouco em minha direção. – Se estiver, talvez nós possamos ir a algum outro lugar. O que acha?

Eu bufo, irritada.

- Eu acho que você deveria parar de falar comigo.

Ele sorri. Mas seu sorriso é um pouco perturbador.

- Só quero conversar.

- E eu só quero um refrigerante mas, aparentemente, não se pode ter tudo o que quer – comento, esticando o pescoço para ver se encontro algum garçom.

João coloca uma mão sobre meu braço e eu rapidamente me levanto do banco. Ele segura meu braço antes que eu consiga me afastar.

- Fique mais um pouco.

- Me solta, idiota.

- Que tal mais cinco minutos? – ele pergunta, apertando meu braço.

- Você é surdo? – escuto a voz de Gabriel se aproximando. – Deve ser, porque eu escutei a cinco metros de distância que ela pediu para que você a soltasse.

João ergue os olhos pesadamente, claramente bêbado, para olhar para Gabriel.

- Você é o namorado dela?

- Sou – diz, colocando um braço em volta de minha cintura. – E se você não tirar a porcaria da sua mão dela agora, eu vou fazer sua cara ficar pior do que já é.

Embora eu esteja nervosa com toda a situação, me sinto bem melhor pelo simples fato de tê-lo ao meu lado agora. Olho rapidamente para seu rosto e vejo que sua expressão é dura. Ele estava realmente falando sério.

João solta meu braço, toma o último gole de sua bebida e sai de perto de nós sem dizer qualquer outra palavra. Quando ele se vai, sinto Gabriel relaxar.

- Que idiota – ele diz, irritado.

Eu respiro fundo e calmamente tiro sua mão de minha cintura. Por mais que eu esteja gostando da proximidade, eu sei que não deveria. Isso é errado.

- Obrigada pela ajuda – digo, sorrindo. – E, a propósito, você estava demais hoje.

Sua expressão muda, em cerca de dez segundos, de irritado, para tranquilo e então para feliz. Um sorriso maravilhoso curva seus lábios. Consigo prever algum comentário engraçadinho.

- E então, já estou conseguindo te impressionar?

Rapidamente me lembro da conversa que tivemos na cozinha, no outro dia.

Eu rio.

- Não, você vai ter que fazer mais que isso para me impressionar. Mas, pelo jeito, você conquistou um bom número de mulheres. Aquele grupinho não te largava nunca! – comento.

- Ciúmes? – Gabriel levanta uma sobrancelha.

Eu rio ainda mais.

- Cale a boca.

Ele sorri e revira os olhos. Ficamos olhando um para o outro por algum tempo.

- Posso te fazer uma pergunta?

- Acho que sim – respondo.

- Vamos comer uma pizza?

Depois que você chegouOnde histórias criam vida. Descubra agora