Capítulo cinco

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- O que temos para hoje? – Gabriel diz enquanto adentra a cozinha, uma hora depois, tão confortável como se estivesse em casa.

- Lasanha – eu respondo, olhando-o de relance enquanto ajusto a temperatura do forno.

Ele veste jeans desbotados e uma camiseta preta de manga curta. Seus pés estavam descalços e seu cabelo loiro escuro molhado parecia quase preto. Preciso admitir que ele é um cara bonito.

- Não brinca! – ele diz, surpreso. – Já percebi que vou gostar de você, Olívia.

- Nós nos conhecemos há uma hora – eu digo rindo enquanto me dirijo para sentar ao lado dele.

Ele sorri e me observa por algum tempo. Eu decido quebrar o silêncio.

- Ouvi dizer que sua banda está fazendo sucesso.

Ele bufa e se estica na cadeira. Uma expressão sombria toma conta de seu rosto. Imagino que esse assunto seja algo delicado para ele, considerando o que passou com o sequestro. Honestamente, acho que ele lidou muito bem com tudo. Eu provavelmente estaria traumatizada até agora.

- Estava, antes de eu ferrar com tudo.

- Você fez o certo. Estaria errado se soubesse quem estava por trás de toda a confusão e continuasse calado.

- Eu sei – ele fala, passando a mão pelo cabelo distraidamente. – Só estou um tanto decepcionado com os rapazes da banda. Eles estão furiosos comigo.

- São uns idiotas se pensam que você fez algo errado.

Ele assente e ficamos em silêncio por alguns momentos.

- E então, qual o seu papel na banda?

Ele abre um sorriso debochado.

- Meu papel na banda?

- Você entendeu o que eu quis dizer – respondo, sorrindo.

- Eu canto – Gabriel responde, me observando com atenção. – Toco guitarra também, como você já deve ter percebido. Você toca algum instrumento?

Costumava. Até que mamãe morreu e eu passei a ter outras preocupações.

- Não.

- Mas gosta de música?

- Não.

Ele franze o cenho e se inclina um pouco para a frente.

- Sua mãe não era produtora musical? – ele diz, e assim que termina a frase vejo seu olhar mudar com a percepção de que esse era um assunto sobre o qual eu provavelmente não queria falar. – Desculpe, eu...

- Não tem problema – forço um sorriso. – Eu só... Não tenho gostado muito de música desde o acidente.

- Eu entendo.

O forno apita, avisando que a lasanha está pronta. Assim que me levanto, Gabriel se levanta também e começa a abrir os armários. Quando encontra os pratos e copos os coloca sobre a mesa.

- Você tem alguma fruta? E gelo? – pergunta ao abrir a geladeira.

- Acho que sim – respondo enquanto levo a lasanha à mesa.

Quando me viro para olhá-lo, ele já está espremendo laranjas em um espremedor que eu nem sabia que tínhamos. Enquanto ele prepara o suco, coloco os talheres e sento para espera-lo.

- Prontinho – Gabriel diz ao sentar à mesa, repousando a pequena jarra com suco em nosso meio.

Gabriel pega um pedaço grande de lasanha e o coloca em seu prato. Antes que eu pudesse o avisar para comer devagar porque estava quente, ele já havia levado uma garfada generosa à boca. Resultado: queimou a língua e começou a rir com ela para fora, feito um cachorro. Eu não consigo segurar a risada.

- Desculpe, acho que estou um pouco faminto – ele disse, mas o que ouvi foi "desulbe, abo que etou um bouco faminbo".

- Percebi – digo, colocando um pouco de suco em seu copo.

Ele toma o suco e me dá um sorriso, agradecido. Por algum motivo, não consigo ficar séria quando o vejo sorrir.

Continuamos a comer, em um silêncio confortável. Quando terminamos, levantei-me para lavar a louça, mas Gabriel rapidamente colocou sua mão sobre a minha, me impedindo.

- Não vou deixar você lavar a louça. Você fez a comida.

Eu arqueio uma sobrancelha.

- Não é que você é mesmo um cavalheiro? – digo com divertimento. – Estou chocada.

Ele dá de ombros enquanto leva os pratos até a pia.

- Faço meu melhor para impressionar as damas – diz, piscando dramaticamente para mim.

- Quer dizer que você está tentando me impressionar?

Ele joga a cabeça para trás e ri.

- Depende, estou conseguindo?

Eu faço uma careta a balanço a cabeça em negativa.

- Então, não, não estou tentando impressionar – ele diz, rindo. Depois de alguns segundos, volta a falar. – Por enquanto.

Eu sinto meu rosto corar. COMO ASSIM? Falando sério, não sou uma garota tímida. Não fico envergonhada por besteiras que garotos falam. Então, por que raios estou corando?

Se ele percebeu meu embaraço, não demonstrou nenhuma reação a isso. Ele apenas ficou parado em frente a pia, olhando para a torneira.

- Agora eu devo usar a esponja, certo? – ele pergunta.

- Você não sabe lavar a louça?

Ele se vira para mim com um olhar divertido no rosto.

- Eu não disse que não sei lavar a louça. Apenas porque nunca fiz isso antes, não significa que eu não saiba fazer.

- Então você tem 20 anos e nunca lavou a louça na vida? – questiono, perplexa.

Ele faz uma expressão falsa de ofensa.

- Tenho 21!

Eu dou uma risada.

- Sim, você usa a esponja. E coloca detergente. Depois passa a esponja na louça e enxágua.

Ele levanta uma sobrancelha.

- Isso é muito fácil.

Depois de vinte minutos, Gabriel conseguiu finalmente terminar de lavar três pratos, dois copos, alguns talheres e uma pequena tigela de vidro. Infelizmente, um dos copos acabou quebrando, "porque o sabão deixou o vidro escorregadio".

Passamos o resto do dia conversando. Ele não apenas era muito simpático, como também muito engraçado e divertido. Quando a noite chegou eu nem mesmo lembrava de ter ficado chateada por Bernardo não poder vir me visitar.

Fiquei surpresa quando vi que já estava escuro lá fora.

Depois que você chegouOnde histórias criam vida. Descubra agora