Capítulo seis

11.9K 1.4K 76
                                    

- Tá, mas então você acha que ela gosta de mim? – escuto Pedro perguntar a alguém enquanto desço as escadas.

- Claro – outra pessoa responde. É Gabriel. Percebo divertimento em sua voz.

- Mas se ela gosta de mim, por que fica dizendo que eu sou quatro olhos? – Pedro pergunta, meio chateado. Mesmo sem vê-lo, sei que deve ter ajeitado os óculos sobre o nariz, como sempre faz quando está incomodado com alguma coisa.

- Às vezes as pessoas fazem isso quando gostam umas das outras.

- Você incomoda as meninas quando gosta delas?

Escuto a risada de Gabriel e fico surpresa ao perceber que estou sorrindo, escutando a conversa dos dois, escondida.

- O tempo todo.

- Mas elas não acham você chato por esse motivo? Eu acho a Luana uma chata por me incomodar tanto.

- Você já disse à Luana que ela é chata?

- Ainda não – Pedro diz, com um tom de voz preocupado. – Será que devo?

- Olha, cara, eu acho que você deveria dizer a ela que não gosta de ser chamado de quatro olhos.

- E se ela continuar a me chamar assim, só para me irritar?

- Daí você me conta e eu vou ter uma conversa séria com essa garota. Valeu?

Eu entro na cozinha a tempo de ver os dois batendo os punhos um contra o outro em um estranho cumprimento masculino.

- Valeu – Pedro diz, sorrindo.

Eu levanto uma sobrancelha para Gabriel, questionando-o sobre o papo que ele acabara de ter com Pedro, e ele apenas sorri e balança a cabeça. Acho que não estou convidada a participar da conversa de homem.

- Bom dia – digo, abaixando-me para dar um beijo na testa de Pedro. – Oi, Gabriel.

- Fiz sanduíche de queijo. Quer? É minha especialidade – ele responde. – E também a única coisa que sei fazer.

- Hum, deve estar ótimo – digo, fazendo uma careta.

Pedro ri.

- Está muito bom, Oli. Pode comer.

Eu aceno com a cabeça.

- E então, sobre o que estavam conversando?

Rapidamente vejo Pedro balançando a cabeça discretamente para Gabriel. Quase tenho vontade de rir.

- Sobre... hã... Livros – Gabriel diz, se divertindo.

- É mesmo? Que livros?

- Você sabe, apenas... Livros – ele olha para Pedro. – Me ajuda aqui, cara.

- Livros infantis – Pedro acrescenta rapidamente. – Nós dois gostamos muito dos três porquinhos.

- Interessante – digo. – Não sabia que você era um fã dos três porquinhos, Gabriel.

- Eu sou. História fascinante sobre porquinhos que lutaram para sobreviver.

Pedro olha de Gabriel para mim, atentamente, balançando a cabeça em concordância.

Eu sorrio.

- Ok, meninos, se não querem me contar sobre o que vocês estavam falando, tudo bem – digo, olhando para meu irmão. - Mas mentir não é legal, Pedro.

Ele está com a cabeça baixa, envergonhado.

- Eu sei, desculpe.

- Desculpado – respondo, sorrindo para Gabriel, que olha pra mim balançando a cabeça, também com um sorriso no rosto.

Eu como meu sanduíche, esperando não passar mal depois.

- Vocês têm planos para hoje? – Gabriel pergunta.

- Nadinha – diz Pedro. Afinal, que tipo de planos um menino de cinco anos poderia ter?

- Não, por quê?

- Vou tocar algumas músicas em um restaurante, hoje à noite. É de frente para o mar, bem tranquilo – ele diz. – Gostaria que vocês viessem. O que acham?

Pedro arregala os olhos como se tivesse acabado de ouvir a coisa mais incrível do mundo.

- Nós vamos! – ele exclama com um enorme sorriso no rosto. – Nós vamos, né Oli? Diz que vamos!

- Eu não sei – respondo. – Provavelmente vai ser muito tarde, e você tem escola amanhã. Precisa dormir cedo.

- Por favor, Oli, qual o problema? Quero muito ir.

Gabriel está sério, e Pedro me olha com expectativa. Eu suspiro.

- Está bem, nós vamos. Mas vamos voltar antes das 21 horas para você ir para a cama.

Os dois me olham com um sorriso no rosto e, sem querer, eu me pego sorrindo também.

Depois que você chegouOnde histórias criam vida. Descubra agora