- Tá, mas então você acha que ela gosta de mim? – escuto Pedro perguntar a alguém enquanto desço as escadas.
- Claro – outra pessoa responde. É Gabriel. Percebo divertimento em sua voz.
- Mas se ela gosta de mim, por que fica dizendo que eu sou quatro olhos? – Pedro pergunta, meio chateado. Mesmo sem vê-lo, sei que deve ter ajeitado os óculos sobre o nariz, como sempre faz quando está incomodado com alguma coisa.
- Às vezes as pessoas fazem isso quando gostam umas das outras.
- Você incomoda as meninas quando gosta delas?
Escuto a risada de Gabriel e fico surpresa ao perceber que estou sorrindo, escutando a conversa dos dois, escondida.
- O tempo todo.
- Mas elas não acham você chato por esse motivo? Eu acho a Luana uma chata por me incomodar tanto.
- Você já disse à Luana que ela é chata?
- Ainda não – Pedro diz, com um tom de voz preocupado. – Será que devo?
- Olha, cara, eu acho que você deveria dizer a ela que não gosta de ser chamado de quatro olhos.
- E se ela continuar a me chamar assim, só para me irritar?
- Daí você me conta e eu vou ter uma conversa séria com essa garota. Valeu?
Eu entro na cozinha a tempo de ver os dois batendo os punhos um contra o outro em um estranho cumprimento masculino.
- Valeu – Pedro diz, sorrindo.
Eu levanto uma sobrancelha para Gabriel, questionando-o sobre o papo que ele acabara de ter com Pedro, e ele apenas sorri e balança a cabeça. Acho que não estou convidada a participar da conversa de homem.
- Bom dia – digo, abaixando-me para dar um beijo na testa de Pedro. – Oi, Gabriel.
- Fiz sanduíche de queijo. Quer? É minha especialidade – ele responde. – E também a única coisa que sei fazer.
- Hum, deve estar ótimo – digo, fazendo uma careta.
Pedro ri.
- Está muito bom, Oli. Pode comer.
Eu aceno com a cabeça.
- E então, sobre o que estavam conversando?
Rapidamente vejo Pedro balançando a cabeça discretamente para Gabriel. Quase tenho vontade de rir.
- Sobre... hã... Livros – Gabriel diz, se divertindo.
- É mesmo? Que livros?
- Você sabe, apenas... Livros – ele olha para Pedro. – Me ajuda aqui, cara.
- Livros infantis – Pedro acrescenta rapidamente. – Nós dois gostamos muito dos três porquinhos.
- Interessante – digo. – Não sabia que você era um fã dos três porquinhos, Gabriel.
- Eu sou. História fascinante sobre porquinhos que lutaram para sobreviver.
Pedro olha de Gabriel para mim, atentamente, balançando a cabeça em concordância.
Eu sorrio.
- Ok, meninos, se não querem me contar sobre o que vocês estavam falando, tudo bem – digo, olhando para meu irmão. - Mas mentir não é legal, Pedro.
Ele está com a cabeça baixa, envergonhado.
- Eu sei, desculpe.
- Desculpado – respondo, sorrindo para Gabriel, que olha pra mim balançando a cabeça, também com um sorriso no rosto.
Eu como meu sanduíche, esperando não passar mal depois.
- Vocês têm planos para hoje? – Gabriel pergunta.
- Nadinha – diz Pedro. Afinal, que tipo de planos um menino de cinco anos poderia ter?
- Não, por quê?
- Vou tocar algumas músicas em um restaurante, hoje à noite. É de frente para o mar, bem tranquilo – ele diz. – Gostaria que vocês viessem. O que acham?
Pedro arregala os olhos como se tivesse acabado de ouvir a coisa mais incrível do mundo.
- Nós vamos! – ele exclama com um enorme sorriso no rosto. – Nós vamos, né Oli? Diz que vamos!
- Eu não sei – respondo. – Provavelmente vai ser muito tarde, e você tem escola amanhã. Precisa dormir cedo.
- Por favor, Oli, qual o problema? Quero muito ir.
Gabriel está sério, e Pedro me olha com expectativa. Eu suspiro.
- Está bem, nós vamos. Mas vamos voltar antes das 21 horas para você ir para a cama.
Os dois me olham com um sorriso no rosto e, sem querer, eu me pego sorrindo também.
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Depois que você chegou
RomanceApós o acidente que matou sua mãe, Olívia mudou. Antes, sua vida se resumia a festas e diversão, mas depois da trágica noite, ela passou a cuidar de seu pai, um policial, e de seu irmão, Pedro, de apenas três anos. Dessa forma, quando terminou o últ...