Capítulo trinta e um

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Por motivos desconhecidos, na sexta-feira à noite eu estou extremamente nervosa. Isso é o que eu digo a mim mesma, porque é claro que o fato de que Gabriel está no quarto ao lado se arrumando para sair comigo não me causa nenhuma ansiedade. E eu disse que apenas Gabriel está se arrumando, porque, embora nós tenhamos marcado de sair às 19h, que é em menos de trinta minutos, eu ainda não estou vestida.

O problema é que nenhuma de minhas roupas parecem apropriadas para a ocasião, e o pior de tudo é que eu nem sei aonde vamos. Isso mesmo. Gabriel fez o desfavor de não me dizer. Por isso, sentada em minha cama, de pijama, eu estou tendo um mini ataque de pânico vinte minutos antes do momento que tenho esperado pelo o que parece um século. Qual é o problema em dizer "Olívia, nós vamos ao cinema", "Olívia, nós vamos ao restaurante", ou "Olívia, nós vamos para Marte, vista algo leve?"

Antes que eu perca a coragem, bato na porta do quarto de Gabriel, que a abre poucos segundos depois, vestindo nada além de jeans. Ele lutava com o fecho do cinto em sua cintura, e solta uma risada quando me vê.

- Boa escolha de roupa - comenta, divertido.

- Você também - respondo imediatamente, desviando meu olhar de seus ombros descobertos.

O sorriso bobo em seu rosto pareceu aumentar ainda mais.

- Mas, sério, Oli, nem tente inventar alguma desculpa. Nós vamos sair de qualquer jeito.

- Eu não ia inventar uma desculpa - me defendo. - Apenas não sei o que vestir.

- Qualquer coisa está bom - diz, voltando a se concentrar no cinto que parece não querer fechar e... Olívia, pelo amor, pare de encarar!

- Qualquer coisa? Posso ir de pijama? - eu o provoco na tentativa de descobrir pelo menos alguma dica sobre o lugar que vamos.

- Olívia - ele diz, segurando minhas mãos contra seu peito. Eu me forço a olhar em seus olhos, que estão atentos sobre mim. - Vista o que quiser. De qualquer forma, nós dois seremos os únicos no lugar.

Eu mando meu coração ficar quietinho e ignorar o calor de sua pele contra minhas mãos.

- Certo - digo, por fim. Minha voz sai muito mais baixa do que eu pretendia. - Estarei pronta logo.

-||-

Estando ainda mais nervosa que antes, encontrei Gabriel na sala, vestindo jeans e uma camisa social escura, que contrastava com o tom de sua pele e cabelos. Ele estava lindo, como sempre. Fomos com meu carro, mas foi ele quem dirigiu, já que eu não sabia nosso destino.

Passamos todo o trajeto em um silêncio confortável; eu, imersa em meus pensamentos e ele, concentrado na pista à sua frente. Com a cabeça encostada contra o vidro, ao som de um CD antigo de Mumford & Sons, eu sorri ao pegarmos o caminho para o Morro da Cruz, um pico alto de Florianópolis de onde era possível avistar toda a cidade. Eu nunca havia ido lá durante a noite, mas a escolha de Gabriel me fez feliz. Para ser sincera, eu esperava por um programa cliché e agradável, como ir ao cinema, boliche ou restaurante. No entanto, para a minha surpresa, ele havia escolhido um lugar onde não haveria ninguém além de nós dois e uma visão incrível.

E era realmente de tirar o fôlego ver os prédios e a Ponte cobertos de luzes; era como olhar para um céu estrelado. Fiquei imaginando que em pelo menos uma daquelas luzes acesas havia alguém, que assim como eu teria passado por coisas difíceis na vida e sofrido por muito tempo. Ao mesmo tempo, me peguei pensando se essa pessoa teria alguém que a fizesse se sentir feliz com um simples toque, como Gabriel me fazia sentir.

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