Capítulo quinze

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A semana seguinte passou em um piscar de olhos. De manhã ia às aulas, de tarde passava horas conversando sobre tudo e nada com Gabriel e, à noite, Pedro, papai e eu assistíamos a TV. Monótono, porém agradável.

Felizmente, o assunto sobre Gabriel gostar de mim não veio à tona novamente; depois que saímos do parque, foi como se aquilo nunca tivesse sido dito em voz alta. E eu acho que isso com certeza significa que Pedro entendeu tudo errado. Por algum motivo que desconheço, essa certeza me causou um sentimento estranho de desapontamento.

Quando parei para me perguntar que dia era, já estávamos na noite de sexta-feira, o que significava que os amigos de Gabriel chegariam na próxima tarde. Por esse motivo, nós estávamos fazendo tudo o que era necessário: aparar a grama, limpar os banheiros, organizar o quarto de hóspedes e consertar a janela (o conserto da janela decidimos deixar para papai fazer, depois que Gabriel quase bateu com o martelo em seu próprio dedo) e, por fim, tirar o pó dos móveis. Essa última tarefa Pedro insistiu em fazer, porque disse que queria ajudar. O resultado foi que meu irmão teve um ataque de espirros, que cessou apenas depois que o forcei a tomar um longo banho quente. Coloquei-o na cama logo em seguida, já que papai chegaria em casa apenas mais tarde.

Quando termino de arrumar as camas para os rapazes da banda, Gabriel entra no quarto, cheio de grama em sua roupa.

- Terminou? – ele pergunta, visivelmente cansado.

- Sim – digo. – E você estava fazendo o quê? Rolando na grama? Sua roupa está toda suja.

- Talvez eu tenha desmaiado de emoção uma ou duas vezes por estar sendo forçado a roçar a grama – responde, revirando os olhos.

- Foi você quem convidou seus amigos roqueiros para vir aqui, não eu – eu o lembro. – Portanto, precisamos deixar as coisas em ordem.

Gabriel começa a caminhar lentamente em minha direção.

- Meus amigos roqueiros? – pergunta rindo.

- Você sabe o que eu quis dizer.

Ele sorri quando para em minha frente e coloca as duas mãos em meus ombros. Quando suas mãos começam a massageá-los, eu preciso lembrar minhas pernas de que têm a função de sustentar meu corpo em pé. Eu fecho os olhos e relaxo instantaneamente.

- Você está muito estressada, Oli. Tente relaxar – ele diz, ainda massageando meus ombros. Eu apenas balanço a cabeça, confirmando. – Suas aulas não foram boas hoje?

Eu balanço a cabeça mais uma vez. Gabriel ri e me puxa para um abraço. Imediatamente, meu corpo fica tenso - o gesto era carinhoso, porém muito íntimo. Não deveríamos estar fazendo isso.

Parecendo que leu meus pensamentos, ele se afasta, devagar. Agora ele não está mais sorrindo. Ao invés disso, há uma expressão séria em seu rosto. Percebo, então, que o abraço fora um ato impulsivo. Seu olhar cai de meus olhos e viaja lentamente até meus lábios e isso é o suficiente para que eu pare de respirar.

O que você está fazendo, Olívia? Saia daí! Vá para longe dele!

Não sei há quanto tempo estamos parados frente à frente, mas no momento em que Gabriel estica seu braço e afasta uma mecha de cabelo que estava caída sobre meu rosto, escutamos a porta da frente se abrir, e ele se afasta. Papai estava em casa.

Eu levo meu olhar para longe. Sinto vergonha de olhar para Gabriel agora.

- Eu... hum – começa, passando uma mão nervosamente por seus cabelos. – Se já terminamos tudo, acho que vou dormir. Estou cansado.

Balanço a cabeça, concordando. Sou incapaz de dizer qualquer coisa e por isso fico em silêncio até que ele saia do quarto.

O que acabou de acontecer aqui?

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