Dylan Narrando - I Parte

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Desde o início, eu sabia que daria em problemas. Aliás, tudo com Scarlatti acabava em conflito. Conflito ou sexo. Pra ser sincero, eu não sabia qual dos dois era pior. Principalmente quando o primeiro levava ao segundo.


Ir aquele bar realmente foi uma péssima ideia. Mas, desde que soubera o que tinha combinado com Laura, fiquei inquieto. Já tinha marcado uma saída com os parsas, uma boate nova que tinha sido inaugurada fazia menos de uma semana. No entanto, no ultimo instante, joguei tudo pro alto e resolvi dar uma passadinha por lá. Não sei qual ideia fora a pior: Passar lá, ou levar os caras comigo. Sabia que tinha a probabilidade de nenhum deles resistirem quando vissem Scarlatti.

E foi no que deu.

 Todos os olhares se voltaram para ela quando chegou, linda e deliciosa naquele vestidinho solto vermelho. Nenhum deles sabia o motivo de eu tê-los arrastado para aquele bar de quinta, mas, por alguma razão, gostaram do lugar. Eu não podia negar que era um ambiente agradável, grande e bem arejado, com duas opções para uma diversão. Um barzinho para uma bebidinha calma e noite de paquera com os amigos, e uma balada para extravasar logo acima. Uma ótima combinação, que de imediato encantou meus amigos farristas e a mim. Eles tinham olhares de águias e ficavam sempre a postos a qualquer sinal de carne nova no pedaço. Eu também vigiava a porta, mas por um motivo particular que eles não faziam idéia. Quando Scarlatti apareceu, foi como se tivesse atiçado neles o espírito competitivo de galos de rincha. Tentei me manter neutro enquanto eles quase se estapeavam para decidir quem atacaria primeiro. O papo já me irritando. Por fim, Fernando tomou a dianteira com a brilhante idéia de lhe enviar bilhetes. Não pedi para que me deixasse ler nenhum, e fiquei feliz ao ver sua expressão frustrada a cada indiferença dela. Até que ela resolveu corresponder. Quando li o bilhete de resposta dela, quase morri sufocado. Foi como se tivesse alguém me suspendendo pela garganta, meu sangue sendo preso e me impedindo de pensar.

Sem mais, resolvi finalmente mostrar que estava ali e que sabia de tudo. Sabia que em algum momento ela iria me encontrar, mas pretendia ir embora antes. Não queria que achasse que eu a estava perseguindo ou algo do tipo - mesmo que no fundo fosse verdade.

Fiquei tão furioso, que nem tive paciência de esperar sentado por sua resposta, vendo meu amigo contar vitória de que já a tinha nas mãos. Babaca! Se conhecesse Scarlatti, saberia que quem estava nas mãos de alguém ali era ele, e em muito boas mãos.

Contudo, minha cegueira foi maior quando os vi aos beijos e roça roça na pista de dança. Minha vontade era de arrasta-la pelos cabelos até lá fora e deixar claro que somente eu poderia toca-la.
Não sabia o que estava dando em mim. Droga! Não me sentia assim nem quando estava com a Ludmila!

 É claro que tinha ciúmes dela, mas não esse sentimento possessivo como tenho com Scarlatti. E porque? Se nem conseguia o que de fato queria com ela?! Só podia supor que tudo estava assim justamente porque ainda não a tive como queria.

Era a única resposta!

 Mas, qual era a desculpa para o que senti quando vi sua expressão pouco antes de me deixar? Como se eu tivesse tocado em algum ferida exposta e incurável? A dor profunda em seus olhos e os lábios tremendo de nervosismo.

 A visão dela daquele jeito me quebrou por completo, me deixaram no chão. De forma tão intensa, que se o táxi não tivesse chegado teria me jogado aos seus pés e implorado perdão por cada palavra dita.
Eu fui duro. Cruel. E só de pensar em seu rosto desfigurado em dor daquele jeito, algo corroía e se contraía em meu peito. Era mais do que culpa; era remorso. Lembrar de como Scarlatti tinha sido doce comigo naquela primeira semana, me encorajando a continuar, me dizendo que eu era bom e capaz, só tornou tudo pior.

Minha Tentação - CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora