Dylan Narrando - I Parte

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Dia nublado, nuvens cinzentas. O clima parecia estar em total sintonia com meus sentimentos. Os únicos raios de sol estavam tímidos em alguma parte do céu que eu não conseguia visualizar através da janela do meu escritório. E assim como o sol era a única fonte de iluminação e guia para aquelas nuvens bravas, Scarlatti era a razão dos meus sentimentos tempestuosos. A protagonista da minha agonia não estava bem. Tinha convicção disso não apenas por ter sido expulso da sua sala de forma suspeita ou por ela ter me cedido o controle que sempre almejei - controle esse que não foi nem de longe como imaginei que seria - mas sim pelo jeito como tudo acontecera. Queria ter ficado lá e exigir uma explicação. Sentaria na porta do banheiro e esperaria que ela saísse para me enfrentar cara a cara. Ao invés disso, decidi ir embora, dando-lhe algum tempo. O sexo foi bom, porém nada me tirava da cabeça que algo estava errado. Eu sentia o toque de Scarlatti, mas era como se ela não sentisse os meus; eu a beijava e era como se ela não retribuísse, mesmo sentindo seus lábios se movendo contra os meus. Eu fiz amor com ela, e foi como se ela nem tivesse estado ali, apenas uma sombra dela. Apesar de tudo, foi bom. Claro que tinha sido. Ela estava distante, quieta e frívola, mas ainda era minha Scar, a mulher por quem eu era louco, a mulher que incendiava meu corpo com apenas um olhar e que me levava ao clímax sentimental apenas com um toque. Ela não estava ali, mas eu estava por nós dois, entao tinha que ter sido suficiente. Mas não foi.

Eu não tinha idéia do que estava havendo, e isso me preocupou. Nem quando terminamos - ou apenas tentamos fazê-lo diversas vezes - tinha me sentido tão perto de perdê-la como quando ela me mandou sair. Quando a possui a minha maneira, ao invés de ter soado como uma entraga refletiu como uma despedida, e entender isso só agora me pôs louco. De alguma forma, Scarlatti estava se distanciando de mim, quando tudo o que eu mais ansiava era trazê-la para mais perto.

Eu larguei uma respiração e passei ambas as mãos pelo cabelo. Deus! Como esse mulher é problemática! Scarlatti era tão bipolar que não era possível nem mesmo identificar os dias que estava de TPM. Minha vontade às vezes era de segura-la e dar-lhe uma sacudida para ver se reprogramava sua personalidade. Mas não funcionava assim, não é mesmo? E a quem eu queria enganar? Seu gênio difícil, arredio e impertinente eram exatamente uma das coisas que mais me atiçava nela. E aquele ar arrogante... Jesus! Como amo essa mulher!

Atormentado, eu ando de um lado a outro a frente da minha janela. Nem mesmo as nuvens estavam sendo capazes de me acalmar. E, como se não bastasse tudo isso, ainda tinha a apresentação oficial do novo diretor aos acionistas - que no caso seria eu. E que cabeça tenho para isso, se tudo o que penso é em ir atrás da mulher que amo e me declarar para ela!?

Paro a frente da minha mesa e olho para o meu aparelho celular apagado. Ligo ou não ligo? Ligo ou não ligo... Ando mais alguns passos e tiro a mão do bolso, apanhando a bendita coisa. Clico na tela e a imagem de Scarlatti surge. Um bico emburrado esta formado em seus lábios e uma sobrancelha de fios contidos e lisos está arqueada. O cabelo negro e longo de antes se encontra caído como uma franja ondulada para o lado. Como sinto falta dessas madeixas... Eu suspiro e apago a imagem. Guardo o aparelho no bolso e me sento para tentar trabalhar um pouco. Ela me expulso da sua sala. Não vou correr atrás desta vez. Tiro novamente o aparelho do bolso, inquieto, e deixo-o ao lado dos papéis que estou manuseando. Com um único clique, reacendo a tela. Uso sua foto para não me sentir tão só. Tinha programado as configurações de luz para que durassem o tempo máximo aceso para me atormentar com a imagem dela sempre que necessitasse - o que se resumia em muitas noites antes de dormir - assim não teria que ascender a coisa de minuto a minuto.

Tento trabalhar, mas vez ou outra lanço olhares a foto da maldita. O aperto em meu peito é estrangulador, como se uma sensação ruim tivesse se instalado ali e feito moradia por tempo inderteminado.

Minha Tentação - CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora