Dylan Narrando

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O apartamento de Scar era simples, nada muito glamoroso. Mas a organização era impecável. Não havia sequer uma única coisa fora do lugar ali, tornando-o totalmente o oposto do meu. Se não fosse dona Estela, minha simpática diarista de cinqüenta anos, eu não sei o que seria da minha vida. Ou melhor, do meu AP!

Eu tento enxergar algum erro ou uma mísera sujeira esquecida pela sala; um copo na mesinha, o tapete empoeirado ou torto, ou sapatos espalhados pelo assoalho, mas não encontro nada.

- Você tem TOC? - Eu pergunto-a com voz elevada e com o cenho franzido para a sala límpida.

Scarlatti, que até então estava a procura de um lugar adequado para o troféu, apontou na entrada da sala, mais baixinha que o normal sem os saltos.

- So porque sou organizada, não quer dizer que eu tenho TOC - ela rebate, adentrando de vez no ambiente.

- Verdade - eu maneo com a cabeça - So comprova que você é sistemática.

Enquanto se aproxima de mim, Scarlatti vai diminuindo o olhar. Ela para a minha frente, sem muita altura, o alto da cabeça mau chegando no meu nariz - não que isso a intimide, claro.


- Você tem muitos pensamentos erráticos sobre mim.

Eu ergo uma sobrancelha surpresa e ao mesmo tempo desafiadora e seguro ambos os lados da sua cintura.

- Ah, é? Então porque você não tenta melhora-los de um jeito mais agradável? - Sugiro.

Scarlatti passa as mãos por meu peito e empurra o paletó do smoking por meus ombros. Separo-me dela apenas para me livrar da peça e logo volto a toca-la, ansiando o contato.

- Não sei se você merece... - ela deixa no ar. Scarlatti desabotoa com cuidado e gentileza minha camisa, e eu amo observa-la me despir.

- E o que eu posso fazer para merecer? - Nem sei mais do que estamos falando, mas continuo seguindo o fluxo. Com um movimento rápido, puxo os quadris de Scar para junto dos meus, fazendo-a sentir meu desejo por ela pulsando em meu pau já semiereto. Ela solta um ofego com o impacto e se agarra a minha camisa entreaberta.

- Você pode... - ela respira com dificuldade - Pode me dizer quem era sua coleguinha.

Eu franzo a testa, atônito. Coleguinha? Que... Então minha mente regressa até Cleo. Provavelmente Scarlatti me viu com ela em algum momento, já que não nos desgrudamos mais após sua chegada. Mas isso queria dizer que Scarlatti estava me vigiando, não? E porque perguntar sobre a Cleonice agora!? É possível que estivesse com ciúmes?

Eu tento não sorrir amplamente com este ultimo pensamento e abaixo meus olhos para ela.

- Coleguinha? Não sei de quem você está falando - minto.

Scarlatti levanta os olhos para mim de imediato, e vejo um resquício de irritação no fundo deles. Incrível como ela fica linda com esse jeitinho irritadiço.

- Como não? Vocês ficaram toda a noite juntos - ela se afasta sutilmente, mas percebo e não deixo que comece a escapar dos meus braços.

- Assim como você e o Jorge, você quer dizer? - Aponto, deixando claro que também não tinha estado satisfeito com aquilo. Queria ter ido a premiação com ela, entrar de braços dados e passar a noite bebendo champanhe e falando safadezas ao pé do seu ouvido, ou somente observando-la falar. Qualquer coisa ao lado dela seria bom, menos vê-la ao lado daquele idiota.

Scarlatti amarra a cara em um bico perfeito e se afasta visivelmente, aborrecida.

- Se você for começar com isso, é melhor ir embora.

Minha Tentação - CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora