Dylan Narrando

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Eram só três horas da manhã de uma sexta-feira. Eu estava mais do que cansado por estar acordando todo santo dia como qualquer outro trabalhador, e fazendo mais esforço que o comum para pensar e ser criativo. Sem contar com a pequena sessão de sexo que tive aquele com Scarlatti - que foi tão sensacional como a ultima, e que ainda me fazia sentir mau e bem ao mesmo tempo. Então, tudo o que eu mais ansiava era um pouco de paz e descanso. Mas o celular não parava de berrar, e eu era o tipo de sujeito que tem o sono leve. Queria mandar o desgraçado ou a desgraçada que estivesse me ligando aquela hora pro raio que o parta! Mas não pude fazer ao descobrir que era meu irmão, contando que Nora tinha acabado de entrar em trabalho de parto.

Nunca o vi tão tenso e agitado, falando desenfreadamente e de um jeito quase inteligível. Despertei imediatamente, dando um salto da cama e mando-o se acalmar. Derik parecia nervoso, e eu descobri que ele ficava insuportável daquele jeito.

O mais difícil foi tentar mudar roupa com ele pendurado no telefone, eufórico. Fiquei tão desnorteado, que mudei a primeira peça de roupa que encontrei pelo chão. Não era do tipo que dormia com roupas, mas não ficava vagando nu pela casa, e naquela noite tinha vestido calças de moletom cinza e uma blusa dos Simpsons, com o Homer nu, que foi justamente o que encontrei no chão.

Cheguei ao hospital correndo, só tinha notado que estava de chinelos quando um deles escapou de mim. Uma recepcionista loira - para o meu agrado interno - me mostrou onde ficava a ala da maternidade. O celular no meu bolso vibrou outra vez e eu ignorei a chamada de Derik enquanto corria pelo corredor. Ele estava tão desesperado ao telefone, que tive de desligar e botar no silencioso em seguida. Parecia que era ele quem estava dando a luz, e não a Nora.

Encontrei-o numa sala de espera ampla e bem clara, sozinho e andando de um lado a outro enquanto me xingava de filho da puta com o celular na orelha, o meu vibrando outra vez em meu bolso.

- Cara, você precisa se acalmar! - Eu anunciei ao entrar na sala.

Sua cabeça se ergueu para mim e quase foi como se ele derretesse em alivio ao me ver, antes de se voltar nervoso no instante seguinte.

Eu fui até ele e o peguei num abraço, murmurando que iria ficar tudo bem.

- Eles estão lá a mais de uma hora! - Ele grunhiu, se soltando de mim - Não sei mais o que faço, Dylan. Eu... - ele parecia estar prestes a chorar, o que me assustou muito.

Lembrei-me de quando éramos pequenos e em como eu sempre estava lá para ele, tanto durante o nosso tempo no orfanato quanto depois. E eu era a única família dele agora, assim como ele era a minha.

A necessidade de protege-lo aflorou dentro de mim como anos atrás, e nem me importei dele já estar grande ou para o fato de agora ser mais responsável que eu; Derik ainda era meu irmãozinho.

- Ei! Relaxa, campeão - eu o chamei pelo antigo apelido e passei um braço por seus ombros largos - Vai ficar tudo bem. Nora é uma mulher saudável, e os médicos sempre diziam que estava tudo bem com elas não é mesmo? - Tentei tranquiliza-lo, apertando de leve seu braço do outro lado.
Ele balançou a cabeça em negação.
- Mesmo assim. Mesmo assim... - ele tentou se desvencilhar de mim, mas o puxei para mais perto.
- Porque não se senta um pouco? - Sugeri, o puxando para um conjunto de sofás de couro mostarda - Caramba, mano! Parece até que você vai desmaiar!

Ele negou com a cabeça de novo e se levantou, me deixando sozinho.

- Não... Não consigo ficar parado.
Eu suspirei e passei a mão pelo cabelo. A noite iria ser longa...
- Porque você não está la dentro com ela? - Inquiri, talvez faze-lo falar adiantasse, como nos velhos tempos em que ele acordava de pesadelos - Não é uma coisa de que os pais podem fazer?

Minha Tentação - CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora