Minha Tentação - CONCLUÍDO

Dylan Narrando - III Parte

A ira que se apossou de mim foi tão arrebatadora, que eu nem sequer tive tempo de racionar ou frear meus movimentos. Um rugido feroz saiu da minha garganta ao mesmo tempo em que eu empurrava o cara para trás. Ele cambaleou para longe de Scarlatti, que liberou um grito de susto, e caiu sobre a mesa. Estando ainda fora de mim, não perdi tempo em desferir meu punho contra seu rosto logo em seguida. O homem, negro e alto, mais forte do que aparentava, me empurrou de volta, assustado. Eu estava tão cego de ódio, que lutava contra as mãos que de repente puxavam meu paletó para trás.

- Para, Dylan! - Era Scarlatti, mas nem dei ouvidos a ela.
- Qual é o seu problema, cara? - O homem latiu para mim, a mão em concha contra o nariz que escorria sangue.

- Se tocar nela de novo, vai se ver comigo! - Esbravejo, novamente avançando para cima dele.
- Dylan! Para! - Scarlatti grita, puxando-me para trás - Ficou louco? Para com isso!

Eu me viro para Scarlatti, totalmente alucinado. Ela me segurava juntamente com Otávio. Parecia aturdida, e a fúria em sua face era inconfundível.

- Eu fiquei louco? - Cuspo - Eu fiquei louco, Scar!? - Estou tão enraivecido, que chego tremer a sua frente - Você estava aos beijos com esse mané - aponto na direção do idiota recostado na mesa, resmungando do nariz quebrado.

Scarlatti arfa e arregala os olhos.
- Você não sabe o que está falando!
- Eu não sei do que estou falando! -Rio, irônico - Eu vi, Scar! Você não tem que mentir pra mim ou pagar de santinha agora!

Ela arfa mais uma vez e se afasta, como se tivesse sido golpeada por minhas palavras. Quem via pensava que ela realmente era inocente em tudo aquilo.

- Pagar de santinha!? Quando foi que paguei de santinha alguma vez? - Revidou.

- Tem razão - eu assinto, e embora saiba que devia ficar calado, não consigo frear minha língua - Você sempre foi essa piranha, eu é que via diferente! - Grito, e no mesmo  instante sou gratificado com um tapa. Scarlatti bateu tão forte, que o impacto fez meu rosto virar para o outro lado. Podia sentir meu rosto queimar numa mistura de raiva e dor que imediatamente me levou ao ápice de fúria.

- Nunca. Mais. Fale assim. Comigo - ela sibila entre dentes.
Massageando o rosto com lentidão, eu me viro para encara-la.
- Não se preocupe - eu esboço um sorriso forçado - Falar com você é a ultima coisa que vou querer na vida!
Scarlatti fica em silêncio, imponente e com aquela arrogância presente nas sobrancelhas elevadas. Eu a encaro pela última vez, me permitindo ver a piranha que ela realmente é.

Como fui idiota - eu rio internamente, amargo. Scarlatti sempre deixou claro o que era, não? Eu é que nunca percebi. Como pude achar que ela podia ser diferente ou especial das outras? Como pude me apaixonar por ela, confundindo sexo com amor!? No fundo, ela era tão cachorra e vaca quanto Ludmila. Talvez até pior! De repente, entendo porque sempre as comparo; elas são da mesma laia. Sempre foram.

Dando um passo atrás, eu quebro nosso contato visual e olho ao meu redor. Otávio está atrás de Scarlatti, calado e embasbacado com a situação. Atrás de mim se encontra o idiota que a beijou, pressionando um lenço manchado de vermelho num lado do nariz. Ele me olha com revolta e indignação, mas não diz nada. No fundo, acabo sentindo pena do otário. Ele era só mais um, nada mais que isso. Assim como eu fui. Talvez eu tenha errado com ele, pois quem merecia umas belas porradas ali era Scarlatti - não que eu fosse do tipo que batesse em mulher, para a sorte dela. Mas eu também não pediria desculpas a ele por isso. Nem fodendo! Ele, seja lá quem for, se meteu com Scarlatti porque quis!
 
Voltando a encarar Scarlatti ainda muda, eu ajeito meu paletó e passo uma mão pelo cabelo. Eu bufo mentalmente. O cabelo. O cabelo que penteei pela primeira vez por causa dela. Meu Deus! Como fui ser tão idiota!?