Scarlatti Narrando - II Parte

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Eu não desejava ir, de verdade, pensando que essa não era uma boa ideia, já que estava com fome e pretendia comer. Dylan iria me irritar, eu sabia disso, e sempre como demais quando estou irritada. Adicione isso a minha fome e temos uma gralha em ação. Eu raramente comia, podia passar longas horas sem comer, parte de como consigo manter esse corpo - além de malhar de vez em quando, é claro. Todavia quando parava para comer, compensava pelas horas perdidas; comia em dobro. E isso não era algo que eu quisesse deixar ele ver. Além do mais, tinha realmente marcado de almoçar com Laura. Ela não ficou muito feliz quando eu disse que não iria mais - quando eu decidi ir por fim - e só me liberou quando eu prometi que diria tudo depois.

Encontrei Dylan conversando com o guarda, que agora estava perto da porta. Olhei para o pequeno restaurante ao lado, pouco movimentado hoje, e me perguntei porque ele não tinha me esperado lá em alguma mesa.

Dylan batia boca para o guarda, que por sua vez se mantinha calado e imóvel, com os olhos atentos a tudo, menos a ele.

- Porque não pediu uma mesa para nós e me esperou lá? - Foi a primeira coisa que disse assim que cheguei perto. O guarda se mexeu pela primeira vez para me olhar, e acenou com um sorriso educado no rosto e os olhos pegando fogo. Dei uma rápida olhada nele: Alto, negro, forte e bonito. Muito bonito. Não tanto quanto Max, mas era.

- Eu não disse? Ela é intragável as vezes - Dylan murmurou para o guarda, que voltou a ficar sério e observar ao seu redor - Não pedi porque não é ali que vamos almoçar - me respondeu, se achegando mais perto e encaixando uma mão nas minhas costas, na altura da coluna, enquanto me conduzia para fora - Tem um restaurante aqui pertinho. A comida é ótima e o ambiente bem agradável.

Eu permaneci quieta, olhando para ele de canto. Dylan estava diferente, não se parecendo em nada com o cara carrancudo de minutos atrás. Eu não soube o que mudou, mas fiz uma notam mental de ficar atenta.

Deixei que ele me guiasse até mesmo depois que saímos do prédio. O clima estava quente e bem ensolarado, quase não tinha vento, e o movimento de carro nas ruas era constante.

Dylan não disse nada enquanto andávamos pelas calçadas, desviando de pessoas e mais pessoas andando apressadamente para resolver questões no horário de almoço. Em nenhum momento ele tirou a mão das minhas costas, conseguindo nos guiar sem problemas pela multidão de pedestres, seu corpo musculoso muito próximo do meu. Quando finalmente chegamos ao restaurante, que realmente não ficava tão longe, o metre o cumprimentou informalmente, e eu soube que era porque eles já se conheciam. Era baixinho, e novo demais para o cargo geralmente atribuído a pessoas de mais idade e experiência. Não era bonito, mas também não era desprovido de um certo charme vestido com aquele terno de preto e branco.

- A mesa de sempre, che-chefe? - O cara sorriu, gaguejando ao se virar para mim.

- Pode ser... Ei! - Dylan o cutucou com um soco de leve nas costelas, chamando a atenção do homem de volta para ele.
- Eu... Sim? - O cara pigarreou, tentando inutilmente prestar atenção em Dylan ao meu lado. Seus olhos se viravam para mim a intervalos de segundo.
- Melhor manter os olhos em mim, cara - embora o tom de Dylan tenha soado descontraído para quem ouvisse, só quem estivesse olhando para ele veria que falava muito sério.

Sentindo que ele estava me tomando para si como posse, dei um passo pro lado, me desvencilhando da sua mão. Ele me olhou intrigado, mas não disse nada. Deixei que falasse com seu parceiro enquanto investigava o lugar. Muito vidro e espelho por todo lado, cadeiras e mesas de madeira antiga e sofisticada, e o chão de mármore. Havia um pequeno bar na recepção, e um jogo de sofás marrom  ali perto me sugeria uma social. O restaurante estava cheio de pessoas elegantes conversando baixinho e rindo, mas ainda havia lugares vazios.

Minha Tentação - CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora