Scarlatti Narrando

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Eu não desejava me sentar. Acompanhei Jorge Lucas apenas para evitar Dylan. No entanto, era fato que foi um alivio para minhas pernas. Aqueles saltos eram lindos, mas estavam me matando. Sem contar que eu me sentia um pouco temerosa de voltar fraquejar. Ainda não sabia o que tinha ocorrido comigo. Desmaiar depois de horas chorando era quase comum para mim, mas tonturas era algo que nunca me ocorreu antes. Além do mais, eu não estava totalmente sem nada no estômago. Fora o café da manhã, lembro-me de ter comido uma maçã assim que voltei do salão. Então, essa tontura realmente me pegara desprevenida. O que poderia ser vira uma incógnita para mim.

 Todavia, não me permitiria ficar preocupada com aquilo. Mau estar era normal para a maioria das pessoas, e embora não fosse para mim, eu podia me acostumar - caso viesse se tornar decorrente. E não tinha porque me afligir também. Meu Check-up estava marcado para daqui a duas semanas. Se tudo desse certo e ganhássemos a premiação, após a viagem que teríamos de fazer consequentemente, eu saberia de fato o que tinha acontecido. Provavelmente não passava de mais uma obra causada por meu emocional.

Ainda sentada na mesa que Jorge escolheu, lembro-me da conversa com Dylan. Não faço idéia do que pensar a respeito. Vi sinceridade em seus olhos ao me pedir desculpas, e confesso que balancei diante do seu desespero. Mas de forma alguma eu poderia aceitar. Pelo menos não ainda. Suas palavras tinham sido duras, amargas e dolorosas. E em pró delas a ruptura em meu peito não somente se rompeu como também aumentou.

"você está linda, Scar"

A memoria de suas palavras me vem a mente, e sinto um sorriso involuntário se erguer em meu rosto ao meu recordar do seu olhar, a forma como falara e efeito que me causou. Logo, obrigo-me a deixar isso pra lá.

Sacudindo a cabeça, desvencilho esses pensamentos para longe. Isso não faz diferença. Dylan sempre me achou linda, então não é como se fosse mudar alguma coisa agora. Somente provava que ele tinha mais que aprovado o novo visual.

Todavia, a preocupação que tivera comigo e sua dedicação durante meu pequeno mau estar, fora outro dardo que me surpreendeu. Dylan provou realmente saber cuidar de uma mulher - embora cuidar de uma mulher envolvesse bem mais do que ele tinha realizado. No entanto, havia sido outro ponto que me bambeou. Durante um longo tempo eu estive sozinha. Sem amigos, família, menos ainda namorado, e ver alguém de fato se importando com meu estado de saúde amoleceu parte da Scarlatti que eu montara. Este era o problema de deixar que as pessoas entrassem na sua vida; elas te desvendavam sem seu consentimento.

Porém, eu necessitava me impor e prosseguir forte. Intacta. E perdoa-lo pelo que me fez significava sentença de fracasso.
 Dylan não confiava em mim, e me humilhara na primeira chance que teve quando se sentiu de alguma forma magoado. Se eu o perdoasse agora, não somente estaria sendo fraca como também estaria dando-o esperanças de que poderíamos voltar ao que era antes. E isso? Isso nunca mais teríamos.

- Aqui está - Jorge Lucas se agacha a minha frente para me oferecer o copo d'água com açúcar que foi buscar.

Há muito eu já me sentia bem, mas ele insistira.

- Obrigada - eu sorrio para ele e aceito o que me estende. Bebo sem muita vontade, e acabo deixando mais da metade do líquido.

- Está mesmo se sentindo melhor? Se quiser, posso leva-la a um pronto socorro...

- Não é nada demais. Sério - Eu o tranquilizo, um pouco farta de ter que repetir isso - Provavelmente é exaustão ou estresse. Tenho trabalhado mais que o normal nesse tempo que não tenho ido a agência.
Ele franze a testa.
- Ainda não compreendo o porquê disso - ele confessa. Se erguendo, ele se senta a cadeira ao meu lado. A música suave continua a ser tocada pela banda de jazz, bem como os murmúrios de conversas pelos círculos de pessoas prosseguem. - Fui a R & A noutro dia, e me informaram que estava de licença.

Minha Tentação - CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora