Consegui sair da casa, sem ninguém me ver. Provavelmente ninguém viu o pessoal saindo, segui o caminho, mandei Hugo levar as meninas, para aquela pequena casa que eu tinha no meio da mata, ninguém sabia da existência daquilo, então dava para esperarmos o dia amanhecer. Não era muito perto, então demorei um pouco para chegar, mas logo passei pela cachoeira e avistei a casa. Abri a porta, as meninas estavam sentadas no chão, Hugo estava abraçado com a Júlia, Kaila estava encolhida em um canto.
- Nossa! Você demorou. - Hugo pronunciou.
- Eu precisava ter certeza que ninguém viria atrás da gente.
- E está tudo limpo? - Ana perguntou.
- Está sim. Vamos passar a noite aqui, amanhã de noite vamos embora.
- Como vamos embora? - Jaqueline perguntou.
- Eu ainda não sei, mas vou dá um jeito.
- Vamos dá um jeito, estamos juntos nessa. - Hugo disse.
Aproximei-me da Kaila, e sentei ao seu lado, ela me olhou com os olhos cheios de lagrimas, a puxei fazendo encostar a cabeça em peitoral, ela desabou a chorar. Eu sei que ela estava segurando isso desde hora que estávamos no quarto.
- Eu estou com nojo de mim. - Ela falou baixo em meios o choro.
- Para com isso, não fala assim. - Passei a mão no seu cabelo acariciando o mesmo. - Desculpa, me desculpa de verdade.
- Pelo o que?
- Eu prometi que não deixaria nada de mal te acontecer, e não consegui cumprir.
- Eu to viva não to? Então pronto.
Ela olhou para mim e forçou um sorriso, fiz o mesmo. Ficamos abraçados, as meninas conversavam sobre alguma coisa que eu não estava prestando atenção. Eu estava pensando no corpo do meu pai no chão, pensando que eu o matei. Não interessa o que ele tenha feito, ele merecia ser preso, e pagar por tudo que ele fez. Mas eu agi no calor do momento, além disso, ou eu o matava, ou ele iria machucar mais a Kaila, ou até mesmo mata-la. Eu iria levar as meninas para casa, eu precisava disso para pelo menos limpar uma parte da minha consciência. Olhei para baixo, percebi que Kaila havia cochilado. Pedi o Hugo para abrir o sofá cama, e a coloquei em cima.
- Vamos ali fora, precisamos conversar. - Falei direcionado para o Hugo.
- Vamos sim, já volto. - Ele beijou a testa da Júlia.Hugo me olhou, esperando qual era minha grande ideia. Na realidade o que eu fosse fazer, iria envolver nós dois.
- Então... O que vamos fazer? - Ele perguntou.
- Eu não sei. Não vamos consegui sair da cidade.
- É obvio que não vamos. - Suspirei.
- Provavelmente a policia está atrás delas.
- O que você me sugere?
- E se a gente se entregar? -Eu o olhei.
- Ficar anos preso? Não Hugo, precisamos de outra ideia.
- Então vamos fazer o que? Manter-nos aqui pelo resto da vida? Você acha que eles não vão mandar alguém pela mata atrás da gente.
- Eu sei Hugo, eu sei que estamos fodidos. Mas vou dá um jeito de levar as meninas de volta.
- Arrependimento?
- Do que?
- O que fez com seu pai.
- Ele matou minha mãe e estuprou a Kaila. Acha mesmo que me arrependi? - O olhei sério, e ele assentiu.
- Pensa, no que falei.
- Sobre o que? Se entregar? - Ele assentiu. - Vou pensar.
Ele fez um toque com a mão e entrou na casa. Coloquei minhas mãos no bolso, e fiquei olhando para o céu. Lembrei-me do sonho em que minha mãe apareceu, em tudo que ela me disse, sobre o fato de eu ter que me sacrificar para salvar a Kaila. Será que eu teria que me entregar para policia? Era disso que ela estava falando? Eu não sei. Não sei o que pensar, eu não quero ficar anos preso. Mas eu preciso que a Kaila volte para família dela, eu quero vê-la feliz, quero concertar a burrada que eu fiz na vida dela. Toda minha vida eu achei que tivesse fazendo algo certo, mas na realidade eu perdi toda minha vida, em algo que só me destruiu.
- Tudo bem? - Ouvi a voz da Kaila. Virei-me para ela.
- Está tudo bem.
Ela passou o braço pela minha cintura, e eu passei meu braço pelo seu corpo.
- Vou te levar para casa. - Respirei fundo. - Nem que pra isso eu tenha que me fuder.
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Proibida pra mim.
RomanceDizem que a frieza é uma saída pra quem já sofreu demais. Talvez seja por isso que Leonardo seja assim, talvez seja isso o motivo que ele não nutri sentimentos. Ele talvez possa ter se transformado nisso, depois que sua mãe morreu ou pode ter sido t...