Estávamos quase uma hora parados, a chuva só aumentava, a neblina estava tomando conta da estrada. Estava impossível dirigir assim.
— Acho que vamos ficar aqui um bom tempo. — Ela falou olhando pela janela.
— É o que eu acho. — Falei e ajeitei o banco um pouco para trás, deitando um pouco meu corpo.
— Vamos ficar aqui mudos?
— O que você sugere?
— Conversar.
— Não sou muito de conversar.
— Vamos fazer assim, eu faço 5 perguntas para você e você faz 5 para mim. — Olhei para ela e assenti.
— Tudo bem, pode começar.
— Humm. Aquele lance que você tem ex namorada com mesmo nome que eu é mentira né?
— Hummm. É.
— Por que estava chamando meu nome?
— Sonhei com você.
— Sonho o que? — Ela se ajeitou no banco e ficou me olhando curiosa.
— Você sabe que já foram três perguntas né? — Ela assentiu e continuou esperando minha resposta. — Meu pai estava te levando para onde as meninas vão.
— Entendi. O que aconteceu com sua mãe?
— Morreu e não quero falar disso, tudo menos isso.
— Tudo bem, desculpas. — Ela mexeu no cabelo e voltou a me olhar. — Por que você fica me encarando?
— Não sei, seu olhos... sei lá. — Estava começando a falar merda já.
— Sua vez.
Eu queria perguntar coisas, mas ao mesmo tempo não queria perguntar.
— Quantos anos você tem?
— 16.
— Achei que fosse mais velha. Então, por que me ajudou naquele dia, se poderia me deixar morrer? — Dessa vez olhei para ela.
— Já disse, tenho coração mole. Faria por qualquer um.
— Certo. Você me odeia?
— Não. — Olhei surpreso.
— Não?!
— Não. Falta só uma.
— Está com fome? — Dei um sorriso torto e ela retribuiu.
— Seu sorriso... — Ela começou a falar e eu fechei a cara. — Deveria sorrir mais vezes.
— Não tenho motivos para sorrir. — Falei sério.
Eu não estava com raiva. Não estava irritado. Não estava pensando em nada ruim. Só estava ali, eu simplesmente não consegui tratar ela mal, como eu deveria. Eu sinceramente não tenho noção do que está acontecendo.Estávamos parado a mais de duas horas, a chuva havia diminuído, mas a pista estava muito molhada ainda e tinha muita neblina.
— É melhor esperarmos mais um pouco. — Kaila disse olhando para fora.
— Já cansei de ficar aqui, trancadado com você. — Falei de forma grosseira.
— Que foi? — Ela perguntou sem entender. — Você muda de humor como muda de cueca.
— Você acha o que? Que trocamos algumas palavras e viramos amigos para sempre? — Ironizei. — Você parece que esquece que isso aqui não é diversão. Você se lembra por que você está aqui? — Ela me olhou assustada, nessa altura eu estava gritando. — Eu te sequestrei garota, para de me olhar desse jeito, para de me ajudar. Para de querer se aproximar de mim. Não haja como se me conhecesse, por que você não me conhece e não sabe do que eu sou capaz. — Seus olhos estavam arregalados.
Respirei fundo e liguei o carro, dirigi devagar, eu precisava sair daquele carro. Precisava sair de perto dela, eu estava ficando louco, completamente louco. O caminho foi em total silêncio, aquele silêncio chato, que incomodava. Liguei o rádio, comecei a cantar a musica que tocava. Percebi que no meio do caminho, ela chorou baixo, e novamente uma sensação ruim, não sei, parecia que ver ela mal me causava alguma sensação de arrependimento, e isso me deixa irritado, por que eu nunca fui isso. Demorei muito mais do que demoraria para chegar, fui devagar, não queria tacar o carro em alguma árvore ou joga-lo em alguma ribanceira. Finalmente chegamos na pista de barro, isso significa que faltava pouco para chegar. Senti o carro caindo em um buraco.
— Merda! Hoje não é meu dia, puta que pariu. — Soquei o volante.
Desci do carro, enfiando literalmente o pé na lama. Procurei uma madeira, tentei tirar um pouco da lama que estava no pneu.
– Kaila... – Chamei-a e ela continuou olhando para janela. – Birra agora não, estamos no meio da lama se você não percebeu, e o carro está atolado. – Ela cruzou os braços e continuou com os olhos fixados na janela. – É assim então né? – Abaixei devagar, enchi a mão de lama, taquei no cabelo dela, sei que essa merda ia sujar meu carro todo e que isso também foi muito infantil, mas dane-se.
– Você está maluco? – Ela me olhou irritada e abriu a porta do carona, saindo do carro em seguida.
– Aprende a me dá atenção quando te chamo. – Falei erguendo uma de minhas sobrancelhas.
Ela deu a volta no carro ficando na minha frente, abaixou e encheu a mão de lama tacando em mim seguida.
– Que merda garota! – Falei tirando o excesso de lama da minha camisa.
– Você que começou. – Ela disse dando de ombros.
E ali se iniciou uma guerra de lama. Parecíamos duas crianças, estávamos de lama da cabeça aos pés.

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Proibida pra mim.
RomanceDizem que a frieza é uma saída pra quem já sofreu demais. Talvez seja por isso que Leonardo seja assim, talvez seja isso o motivo que ele não nutri sentimentos. Ele talvez possa ter se transformado nisso, depois que sua mãe morreu ou pode ter sido t...