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Uma semana. Estou em Nova Iorque há uma semana e estou a odiar tanto como pensei que iria odiar. Talvez não me esteja a adaptar por que nem estou a dar uma oportunidade mas não quero saber. Hoje é o meu aniversário mas não estou interessada em festejar, apesar de a minha mãe insistir que me quer dar alguma coisa. É irónico ser ela a querer festejar este dia quando o arruinou por completo quando fiz 10 anos. Ouço a campainha tocar e vou abrir.

- Olá. - a minha mãe diz e entra em casa.

Não respondo. É assim que estamos agora. Eles esforçam-se, eu ignoro-os. O meu pai está para fora uma semana o que até é bom pois ignorar só a minha mãe é mais fácil do que ignorar os dois. Volto para o sofá da sala e a minha mãe senta-se ao meu lado.

- Eu sei que nos andas a ignorar, mas só te peço que me digas o que queres de prenda. - ela diz a medo.

Penso em não responder. Bufar, ir para o meu quarto... Mas há realmente algo que eu quero.

- Voltar para casa. - digo e surpreendo-me com o tom frio e cruel que a minha voz adota.

- Joanne, não podemos. Está é a tua casa agora.

Eu sabia que não ia servir de nada pedir para voltar, mas é só isso que quero agora. Já que não o posso ter, tudo vai ser diferente. Eu vou ser diferente.

- Então que seja dinheiro para... Para mudar. - acabo por dizer sem tirar os olhos da televisão.

- Mudar o quê? - a minha mãe pergunta confusa.

- Para me mudar. - digo amargamente.

Ela tira dinheiro da carteira e estende-mo. Pego-lhe rapidamente e levanto-me.

- Volta ced... - ouço a minha mãe dizer mas já fechei a porta de casa.

Desço o elevador do grande prédio onde vivo e acabo numa rua cheia de gente, de carros, de confusão. Mais um dia no inferno. Já conheço esta minha rua de uma ponta à outra e sei que o que quero não é longe. Vou andando, apanhando encontrões de pessoas apressadas para chegar aos escritórios, desviando-me de bicicletas, vendo como ninguém parece feliz nesta confusão. Entro no cabeleireiro e dirijo-me ao balcão.

- Boa tarde! - uma mulher baixa exclama.

- Olá. Gostava de lavar o cabelo e... E vou pensar o que lhe faço depois. - digo e ela parece confusa mas indica-me para onde ir.

Sento-me numa cadeira confortável e inclinam-me a cabeça para trás. Fecho os olhos e aproveito pelo menos estes momentos sem ter de pensar em nada a não ser na coisa vulgar que tantas mulheres adoram que é o cabelo. Num instante, estou em frente a um espelho a olhar para uma rapariga desconhecida. Esta última semana mudou-me mais que os últimos 17 anos da minha vida. Estou mais magra, se é que é possível, o que faz com que os meus lábios pareçam mais carnudos, tenho olheiras profundas e o verde brilhante dos meus olhos parece quase preto. Agora percebo a cara preocupada de Shawn sempre que fazemos video-chamadas. Shawn. A melhor coisa que tenho. Talvez a única coisa que me mantenha minimamente feliz. Shawn é parecido comigo no que conta a cores. Preto. Cinzento. Azul escuro. Por aí.

- Já decidiu? - a mulher pergunta e mostra-se um pouco irritada.

Amo-te, Shawn. Isto é por ti.

- Pinte-o de azul. - afirmo e fecho os olhos.

An All New LifeOnde histórias criam vida. Descubra agora