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Depois de muitos gritos indignados e quando digo muitos, são muitos mesmo, a porta da sala finalmente se abre e o meu pai sai disparado de lá com a chefe atrás de si. Saem de casa e batem com a porta atrás deles. Levanto-me de um salto e corro para dentro da sala, encontrando a minha mãe a chorar no sofá. Sento-me ao seu lado e passo um braço à sua volta.

- Por que é que eu já suspeitava disto? - ela pergunta antes de soltar um soluço. - Ele estava sempre fora e...

- Shhhhh... - murmuro e ela cala-se de repente.

Deixo a minha mãe chorar tudo o que quer e passados quinze minutos, ela já foi buscar duas chávenas com chá e sentou-se ao meu lado, pousando uma mão no meu joelho.

- Diz-me que não nos mudamos para Nova Iorque por causa dela. - digo calmamente.

- Quem me dera. - a minha mãe dá um gole e suspira. - Começou na nossa segunda viajem de trabalho a Nova Iorque.

- O quê? Mãe, o que vamos fazer? - pouso a minha chávena na mesa e espero respostas.

- Não sei. Amanhã já temos de estar fora desta casa, filha... Foi o teu pai que a comprou, por isso pertence-lhe. - ela fecha os olhos para não voltar a chorar.

- Vai correr tudo bem. Pelo menos, descobriste, não é? E no outro dia falaste-me das tuas poupanças para a minha Universidade... Vamos usá-las para... Um apartamento ou um quarto num hotel, temporariamente.

Ela abre os olhos lentamente e sorri.

- Oh querida... Claro que vai correr tudo bem... - ela murmura. - Eu vou embalar as minhas coisas para me distrair, ok?

A minha mãe dá-me um abraço e vai para o seu quarto levando a pequena chávena consigo. Respiro fundo e vou até ao meu quarto, e depois até à varanda.

- Hei! Coruja! - ouço Ryan chamar-me do pátio. - Está demorado, hein?!

- Sobe. - digo e entro no meu quarto.

Não tenho tempo nem de me sentar na cama antes de ele já estar na minha varanda.

- Que foi? - pergunta meio irritado.

- Eu vou mudar-me. - digo rapidamente... Pudemos dizer que tenho más experiências por causa de esconder mudanças a pessoas.

- Já? Nem há dois meses chegaste! Isto é alguma brincadeira?

- Achas que eu ia brincar com uma coisa destas? - passo a mão pela minha testa e fico parada a olhar para ele.

- Precisas de ajuda a arrumar as coisas? - ele pergunta quase forçosamente.

Acena que sim com a cabeça e ele entra no quarto.

- Eu vou tratar da roupa, podes tratar dos livros? - sugiro e ele, sem responder, vai até à estante. - Ok, obrigada Ryan.

Vou à sala buscar algumas caixas de cartão que usamos quando noa mudamos e levo-as até ao quarto.

- Por que raio é que tens tantos livros?! - Ryan exclama indignado quando um livro lhe cai em cima do pé.

✖️✖️

Definitivamente odeio mudanças. O-dei-o. Já são nove da noite e apenas o piano, a cama e alguns posters ainda estão nas paredes.

- Toma. - digo e dou uma tosta mista para a mão de Ryan.

- Estive a pensar, sabes? - ele dá uma trinca e fica a mastigar durante muito tempo. - Não precisam de gastar dinheiro num quarto de hotel, Coruja.

- Como assim?

- Podem ficar em minha casa. Tu no meu quarto e eu vou dormir para a sala, a tua mãe no quarto da Olivia. Ela está para fora com umas amigas. Que achas?

- E os teus pais? Não queremos chatea-los.

- Eles viram como te preocupaste comigo no hospital e disseram-me que se precisares de alguma coisa, que não exitavam.

Olho para baixo.

- Tenho de falar com a minha mãe. - digo e levanto-me para o ir fazer.

- Coruja! - ele chama-me antes de eu fechar a porta. - Desde aquele beijo que estás esquisita. Aquilo não significou nada, ok? Relaxa.

- Ok.

Fecho a porta e vou até ao quarto da minha mãe.

- Mãe, o Ryan ofereceu-se para nos deixar ficar na casa dele.

✖️✖️

- Aqui tens. Um quarto só para ti. - Ryan abre a porta e deixa-me entrar pela segunda vez no seu quarto.

- Sabes que gosto mesmo muito do teu quarto?

Ele ri-se e pousa as duas caixas de livros que tinha nos braços. Sem saber por quê, corro para o seu lado e abraço-o com muita força. 

- Obrigada. - murmuro baixo.

Ryan passa a mão pelo meu cabelo e afasta-se. 

- Que foi? - pergunto estranhando a forma como se afastou. 

- Não quero que te arrependas de nada, nem que te sintas culpada, e por isso vamos tentar não te dar razões para ficares assim. - ele sorri de lado. - E não vamos dar razões ao Shawn para ter ciúmes.

Shawn disse exatamente a mesma frase no aeroporto. Congelo por uns segundos e quando volto a mim, Ryan já não está no quarto. Pego no telemóvel. 

- Olá! - ele exclama do outro lado. 

- Onde estás? - pergunto enquanto me sento na ponta da cama de Ryan. 

- Neste momento? Com o Ian, a Lauren e a Aaliyah a ver The 100. 

Solto uma gargalhada.

- E deixa-me adivinhar: Aaliyah a dormir, Ian no telemóvel e Lauren a comer. - digo com um sorriso nos lábios. 

- Exatamente. Mas no fundo estão a ver. - ele faz uma pausa. - E por aí?

Conto-lhe tudo o que se passou nas últimas horas e ele parece ficar muito surpreendido. 

- E onde estão agora? Já saíste de casa?

- Sim... Viemos para... - respiro fundo. - A casa do Ryan.

Ele tosse e finge-se indiferente.

- Ok. - diz num murmuro. - Então estás com ele agora?

- Agora não. Não sei onde ele foi. 

Ficamos em silêncio durante muito tempo enquanto ouço os gritos da série que dá na sua televisão e os resmungos de Lauren. 

- Quando vais para a Europa? - pergunto.

- Amanhã vou para Inglaterra. 

- A sério? Manda muitas fotos, por favor! - exclamo como uma criancinha excitada.

- E tu vai dando notícias. - ele faz uma pausa. - Amo-te.

- Eu amo-te mais. 

- Oh, pelo amor de Deus! Desliga a porcaria do telemóvel e tira o raio da série! - Lauren grita do outro lado fazendo-me rir. 

- Eu acho-os fofinhos. - Ian grita imitando a voz de Lauren. - Agora a sério, meu, tira-me isto da televisão. 

- E tu, Jo? O que achas? Tiro The 100 ou não? - Shawn pergunta pedindo ajuda. 

- Sim, já viste isso mil vezes. - digo a rir-me. 

- SIM! OBRIGADA JO! - Lauren berra. 

- ADORO-TE! - Ian grita e ouço o som de um beijo. 

- Chatos... - Shawn murmura entre dentes e ouço os gritos da televisão acabarem. - Vá, amo-te. Beijinhos! 

Noto irritação na sua voz, o que só me faz rir e desligo a chamada. Quero tanto voltar para lá. Nem que seja para passar os dias a ver The 100 enquanto Lauren e Ian descutem.   


An All New LifeOnde histórias criam vida. Descubra agora