Um carro. Ryan no chão. Gritos. Choros. Ambulância. Mais choros. Hospital. Médicos. Maca. Ryan é afastado de mim. Ajoelho-me no chão. Uma mão de uma enfermeira no meu ombro.
- Anda para ali. - uma voz feminina ordena.
Levanto-me e vou sentar-me numa cadeira dura e desconfortável. Choro e soluço sem parar. Vejo que tenho chamadas dos meus pais no telemóvel.
- Filha, onde estás? Por favor diz-me que não fugiste outra vez! - a minha mãe diz ofegante.
Esforço-me para controlar o choro e falo.
- Não fugi. Vim só ajudar um amigo. Volto quando puder.
Desligo antes de ouvir uma resposta e fecho os olhos. Não consigo pensar direito. Sinto-me como se uma nuvem preta me tivesse invadido a mente. Pouso as mãos nos joelhos e sinto uma substância estranha em contacto com a pele das minhas pernas. Abro os olhos e vejo sangue. Solto um grito e tento acalmar a respiração, em vão. Esfrego as mãos nos bancos à minha volta e levanto-me até ao balcão.
- O que lhe estão a fazer? - pergunto.
- Lamento, mas não vai puder vê-lo até daqui a três horas, pelo menos. - a enfermeira responde sem tirar os olhos do computador.
- Eu tenho de o ver, agora.
- Vou repetir. Lamento, mas não vai...
- Eu ouvi à primeira! - grito.
Ela parece ofendida e tira os olhos do computador para me olhar de cima a baixo. Não devo parecer muito sã. Com lágrimas, a soluçar, sangue nas minhas mãos e a gritar com uma enfermeira.
- Muito bem, vou ver o que posso fazer. - acaba por dizer e volta a teclar.
Suspiro e sento-me contra a parede, junto à porta para entrar nos quartos dos doentes. Três horas. Fecho os olhos e, não sei bem como, adormeço.
✖️✖️
- Menina, já pode ir. - a mesma voz fria soa muito perto de mim.
Levanto-me de repente e vejo as horas. Cinco da manhã. A enfermeira abre a porta e dá-me passagem.
- Ele está sob efeito de muitos medicamentos. É capaz de não estar a pensar com clareza. Não se assuste, por favor.
- Por que me iria assustar?
- Ele... Está com amnésia. Os médicos suspeitam que é temporária.
A minha garganta aperta-se e não sou capaz de dizer nada. Entro num quarto com paredes brancas. Várias máquinas estão à volta de uma cama, onde um corpo imóvel está. Ando calmamente até me pôr de joelhos junto à cama. Ryan olha para mim. Não com o seu olhar normal. Os seus olhos parecem quase embaciados e... Mortos.
- Olá... - murmuro.
Ele parece assustado e olha em volta antes de falar.
- Quem és? - pergunta.
- Eu sou a Joanne. - digo e pego na sua mão gelada.
- E eu...
- Ryan.
Ele aprece ficar a assimilar a informação durante imenso tempo.
- Eu posso dormir? - pergunta.
- Claro que sim. - digo a sorrir.
Passo uma mão nos seus cabelos até o ver fechar os olhos e a sua respiração acalmar. Levanto-me.
- Acho melhor ir, menina. Nós cuidamos dele. Volte quando quiser. - a enfermeira diz quando volto ao corredor do hospital.
Vou até lá fora. Odeio hospitais. A minha casa não é longe e num instante estou a bater à porta. A minha mãe vem abrir.
- Joanne! - o meu pai diz e puxa-me para dentro.
- Estou bem. Vou para o quarto. - afirmo.
Hoje não tenho aulas de manhã, o que calhou muito bem. Vou à casa de banho e lavo as mãos muito rápido, sem olhar para o sangue de Ryan que se espalha no lavatório. Vou deitar-me e adormeço.
✖️✖️
O meu despertador toca. Desligo-o de imediato e pego no telemóvel. Uma mensagem.
Shawn: Bom dia. Não temos falado muito e ando preocupado contigo, Jo. Por favor desculpa estar com tantos ciúmes, sei que nunca me farias nada do que me anda a atormentar. Eu amo-te muito (até ao infinito e voltar multiplicado por mil vezes)! Telefona-me quando puderes. Video-chamada de preferencia, quero ver a rapariga mais bonita do mundo à minha frente.
Com imensas saudades (e beijos),
Shawn.Sorrio levemente e faço uma nota mental para ligar a Shawn depois da escola. Para já, vou visitar Ryan.
- Bom dia, filha. - a minha mãe diz mal entro na cozinha. - As tuas aulas não são só de tarde?
- Sim. - respondo enquanto pego num pão para comer no caminho para o hospital.
Deixo a minha mãe confusa a conversar com o meu pai e saio de casa.
- Bom dia, ele já acordou. Pode entrar. - a mesma enfermeira de ontem diz-me.
Provavelmente não se esquecerá de mim tão facilmente. Abro a porta do quarto muito devagar e entro.
- Olá, Ryan. - digo com uma voz doce.
Ele continua com o mesmo ar distante e assustado. Não o censuro. Sento-me na ponta da cama e esboço-lhe um sorriso.
- Sentes-te bem? - pergunto.
Ele acena que sim com a cabeça e não tira os olhos de mim.
- Gosto do teu cabelo. - diz muito baixo, e eu solto uma gargalhada.
Levanto-me e vou mais para o seu lado, pegando-lhe num braço. Os cortes ainda não formaram crostas.
- Sabes por que tenho isso aí? - Ryan pergunta.
- Sim. - digo com a voz arrastada. - Não é preciso tu saberes.
Ouço alguém bater à porta e a enfermeira carrancuda entra, com três pessoas atrás. Uma mulher alta, de cabelo castanho escuro e olhos verdes, um homem de cabelo preto e sobrancelhas carregadas e uma rapariga com os olhos verdes da mulher e o cabelo preto do homem.
- São os pais e irmã do paciente. - enfermeira diz e dai lentamente do quarto.
- Podemos saber quem és? - a mulher pergunta.
- Joanne, amiga do Ryan. - digo envergonhada. - Prazer.
Os três fazem um sorriso forçado e vêm para perto de Ryan.
- Estes são a tua mãe, o teu pai e a tua irmã, ok? - digo ao rapaz deitado na cama.
Desloco-me para um canto do quarto e fico a observá-los. A irmã dele é muito querida e paciente mas simplesmente não consigo deixar de os culpar pelo estado de Ryan. A mãe dele passa o tempo todo a chorar, agarrada ao marido e é Olivia, a irmã, que consegue falar com Ryan e nunca larga a sua mão.
- Pareces estar preocupada com o meu irmão. É que... Ele nunca me falou de nenhum amigo ou amiga. - Olivia diz-me.
- Sim, ele não gostava muito de... Quero dizer, sim estou preocupada com ele. - respondo.
- Ok. Mmmm... Então até depois. - ela dá-me dois beijos e sai do quarto, seguida pelos pais.
Quando a porta se fecha, Ryan senta-se na cama.
- Eles são chatos, gosto mais da tua companhia. - diz e sorri para mim.
Rio-me e vou para o seu lado de novo. Ele pega na minha mão.
- És muito bonita. És a minha namorada? - pergunta.
O meu estômago aperta-se levemente.
- Não... O Shawn é o meu namorado. E... Obrigada, mas não me acho assim tão bonita.
- Ooooh... Então ele é muito sortudo. - Ryan diz e aperta a minha mão.
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An All New Life
FanfictionSequela de Stitches. Aconselho a lerem primeiro a "Stitches (Shawn Mendes)". Chamo-me Joanne. - Não. - Como? - Para mim, passas a ser a Coruja. Franzo o sobrolho com o seu comentário. - Por quê coruja? - pergunto. - Os teus olhos são muito par...