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O despertador do meu telemóvel toca e acordo de repente. Hoje vou encontrar-me com Sarah para ir ao Central Park. Levanto-me e visto-me.

- Joanne? - a minha mãe chama enquanto bate à porta.

- Que foi?

- Amanhã à tarde tens outra consulta.

- Mas o Shawn vem visitar-me amanhã e...

- Lembra-te do que acontece se não fores. Eu vou para o trabalho. Amo-te.

Ponho o telemóvel no bolso, pego na mochila e vou até à escola.

✖️✖️

- Jo! - ouço alguém gritar atrás de mim e viro-me.

- Bom dia, Monty. - digo.

- Bom dia. A minha irmã pediu-me para te avisar que hoje não vem. Está a sentir-se mal.

- Ok, as melhoras para ela. - digo.

- Tu estás bem?

Aceno que sim com a cabeça.

- Ok, tem um bom dia! - ele exclama e corre de volta para os amigos.

Não. Não estou bem. Aquele comentário não me saiu da cabeça a noite toda. Sem Alicia não sei o que vou fazer.

- És a Joanne, certo? - uma voz desconhecida soa atrás de mim.

Viro-me e deparo-me com um rapaz baixo e ruivo. Felix.

- Sou. - respondo desconfiada.

- Vi... Que estavas sozinha e... Bom, eu também estou e...

- Queres vir comigo até à sala?

Ele cora e acena que sim com a cabeça. Faço-lhe um sorriso enviesado e ele passa para o meu lado.

✖️✖️

Pego no meu telemóvel e vou verificar se Shawn não me ligou. Nada. Ugh, não tenho ninguém... Saio dos grandes portões de metal e começo a tentar lembrar-me das indicações que Sarah me deu ontem. Passo pela mesma confusão. Pelo mesmo que tanto odeio. Já ouvi falar de Central Park. Não deve ser nada de especial. Vejo o café de que Sarah me falou e entro. Ela já está sentada numa mesa junto à janela.

- Olá. - digo e sento-me.

O mesmo sorriso radiante de ontem não desapareceu do seu rosto.

- Nem sabes como isto é surreal... - ela diz olhando para baixo. - Estás preparada para conhecer a melhor parte de Nova Iorque?

- Claro! Estou a sentir a falta de verde.

Levantamo-nos e voltamos à rua. Temos de andar apenas uns cinco minutos até eu começar a ver um portão de ferro aberto. Sarah olha-me e pica-me o olho. Estava enganada. Central Park é lindo. Pode parecer esquisito, termos um mar de arranha-céus e de repete um bosque cheio de árvores, mas (na minha opinião) é a única coisa boa de Nova Iorque. Inspiro profundamente e olho em volta. Árvores, flores, água, crianças a brincar, patos... Vou passar aqui muito tempo.

- E então? - Sarah faz-me acordar do meu "sonho".

- E então?! É maravilhoso! Obrigada! - viro-me para ela e abraço-a.

Sarah aperta-me com bastante força e pega na minha mão, levando-me até ao lado de um lago. Sentamo-nos e ali ficamos a falar.

- Como estás? - ela pergunta. Olho-a confusa. - Em relação a... Tu sabes... A hashtag...

- Oh, isso... Não muito bem.

- Mas depois do que o Shawn fez já estás melhor, certo?

- O que é que o Shawn fez?

Ela sorri e pega no telemóvel. Ignoro o Shawn no seu papel de parede e ela mostra-me uma foto minha e dele publicada no instagram com um grande texto.

"Tenho a certeza que já todos vocês conheceram alguém especial. Alguém que vos fizesse sorrir. Alguém que estivesse sempre do vosso lado. Alguém que simplesmente não vos sai da cabeça. Então imaginem-se a namorar com esse alguém. A serem a pessoa mais feliz do mundo com esse alguém. E agora... Por muito que custe, imaginem que se tinham de separar. Quilómetros e mais quilómetros a separarem-vos. É triste, mas às vezes a sorte não está connosco. E imaginem-se a irem-se deitar. Estão prestes a adormecer quando esse alguém vos liga. Ficam radiantes, vão puder falar mais uma vez! Mas esse alguém está a chorar. Está a chorar por que viu alguém dizer algo injusto, imaturo e rude. Como ficariam? Imaginem tudo isto e digam-me sinceramente. Ora... O "meu alguém" é Joanne Mason. A minha namorada. A minha melhor amiga. A melhor coisa que já me aconteceu. Por favor, pensei antes de dizer o que quer que seja. Os nossos atos vão ter consequências e vamos todos tentar não magoar ninguém, ok? Obrigado."

- Ele fez mesmo isto?

- Eu acho que foi querido...

- Sim, claro! Claro que foi querido, mas por este andar começam a odia-lo também.

Suspiro e Sarah olha-me curiosa. Provavelmente ela estava à espera da reação de namorada completamente apaixonada que rebenta em lágrimas por tudo e por nada.

- Foste muito simpática em trazer-me cá, a sério. Mas eu tenho de ir...

- Ok... Obrigada por tudo. - ela sorri.

Levanto-me e recomeço a andar pelo caminho de terra rodeado de árvores. Quero tanto ver o Shawn de novo. Acho que vou visitar o Ryan. Chamo um táxi e num instante estou em frente ao hospital.

- Boa tarde. - cumprimento a mesma enfermeira de sempre.

Ela parece irritada por me estar sempre a ver e apenas abre a porta do quarto de Ryan e deixa-me entrar.

- Por cá outra vez? - ele pergunta.

- Senti a tua falta! - digo e sento-me na ponta da cama.

- Também senti a tua falta, Joanne. Olha... Eu estive a pensar e eu acho que me começo a lembrar de.. Alguns momentos.

- A sério? Tipo o quê?

- Não sei bem explicar... Lembro-me de um pátio no meio de uns prédios...

- Nós costumávamos encontrar-nos nesse sítio. Fico tão feliz por te começares a lembrar de algumas coisas!

- Eu... Antes do acidente éramos mesmo amigos? Quero dizer... Alguém que se corta e se quer matar não costuma ter muitos amigos ou ser muito simpático...

- Tu não eras muito simpático, mas quando estavas comigo mudavas um bocadinho. Eras mais doce.

Faz-se um grande silêncio durante uns minutos. Ryan parece abalado por alguma coisa.

- Eu não mudei de ideias, sabes? Continuo a achar que o correto era eu ter morrido. - diz olhando para baixo.

Aproximo-me dele e pego mas suas mãos.

- Se não morreste talvez seja um sinal ou assim. Um sinal de que tens de viver.

- Não é sinal nenhum! - ele diz irritado no meio do choro.

- Ok, não é um sinal. Mas não podes morrer!

- Mas eu quero! - ele começa a soluçar e o meu coração aperta-se cada vez mais.

Apercebo-me de que estamos a centímetros de distância.

- Eu quero morrer... - ele murmura.

Ponho ambas as mãos nos seus ombros e abano-o levemente.

- Tu não vais morrer. - murmuro-lhe.

Ele olha-me. Os seus olhos estão repletos de pânico. Ele continua a chorar.

- Ryan... Tem calma... 

Eu... Não pensei. Cheguei-me mais a ele e juntei os nossos lábios. Ele estava gelado. Um milésimo de segundo depois, afastei-me abrutadamente.

- O que... - ele começa a falar e eu saio a correr.

O que raio é que tu fizeste?! Se  antes concordavas com os comentários que diziam que magoaste o Shawn... Então e agora? Agora que beijaste outro rapaz? Só me apetece enfiar-me num buraco e nunca mais voltar. Ugh, odeio-me.

An All New LifeOnde histórias criam vida. Descubra agora