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Acordo com o sol a bater-me na cara. Abro os olhos e vejo que já é de dia, mas muito cedo. Ainda devem estar todos a dormir, por isso levanto-me sem fazer barulho e visto-me rapidamente. Saio pela janela do quarto de Ryan e vou pelas escadas de emergência até à janela do meu antigo quarto. Tive o cuidado de a deixar aberta, mas não sei se o meu pai já a fechou entretanto. Felizmente, não. Abro a janela e entro sorrateiramente no quarto. Está vazio, à exceção do piano. Sento-me no pequeno banco e ponho-me confortável, endireitando as minhas costas. Começo a tocar a Memories. Aos poucos canto muito baixinho e acabo a cantar normalmente. Esta casa não deixou de ser um pouco minha. Apanho um pequeno susto quando a porta do quarto de abre e o meu pai entra.

- Olá, filha. - ele diz num murmuro.

- Olá, pai. - respondo amargamente.

Ele vem sentar-se ao meu lado, na ponta da cama.

- A mãe tem chorado imenso. Estamos a viver numa casa que nem sequer é nossa. Como é que o pai pôde fazer-nos isto?

Ele olha para baixo e não me responde. Lentamente, ele pega na minha mão e fixa os nossos olhares.

- Joanne... Minha querida. Os adultos são complicados e...

- Pai, eu vou fazer dezoito anos, não precisas de me explicar as coisas como se fosse fazer sete.

Ele ignora o meu comentário e continua a sua frase.

- E às vezes... Bom, já não há mais abraços, beijos, carinhos que sobrem. Já não sentimos necessidade de nos ter um ao outro. Foi ótimo enquanto durou mas...

- Pai, eu percebo isso. Percebo muito bem, mesmo. Mas é diferente quando existe uma traição.

- Eu sei... - ele murmura e larga a minha mão. - Eu estarei sempre aqui contigo. Percebo que vás com a tua mãe e nem te vou impedir mas vem visitar-me aqui de vez em quando, sim?

Não sei o que responder, por isso não o faço e levanto-me do pequeno banco.

- Adeus, Joanne. Amo-te. - ele diz.

Percebo que ele ficou à espera de um adeus, ou um também te amo, mas tudo o que eu disse foi:

- Por favor, envia o piano para a nossa casa no Canadá.

Sai pela janela e fechei-a de seguida. Andei rapidamente pelas escadas de metal barulhentas e entrei de novo no quarto de Ryan.

- Onde andas-te? Toda a gente está à tua procura! - ele exclama mal ponho um pé no chão.

- Fui tratar de umas coisas. - respondo e fungo levemente, mas consigo impedir-me de chorar.

Ele olha para mim durante algum tempo, provavelmente pensando se fala do facto de eu estar a chorar ou não, e depois sai do quarto. Pego no meu telemóvel e telefono a Aaliyah.

- JOOO!!! Olá!! - ela grita do outro lado.

- Olá, Aaliyah! - digo a rir-me. - Amanhã já vou estar aí! Estou tão ansiosa!

- Eu também! Mal posso esperar!

É tão bom ouvir a sua voz. Tenho tantas saudades dela que não dá para descrever. Acho que a vou abraçar com tanta força que a vou sufocar e nunca mais a largo.

✖️✖️

- Feliz Natal adiantado, Coruja. - Ryan diz e abraça-me durante pouco tempo e depois diz com ironia. - Dá um abraço ao Shawn por mim.

Reviro os olhos e passo para a mãe e o pai de Ryan, que me abraçam e dão dois beijos e ficam os três a acenar enquanto eu e a minha mãe entramos no aeroporto. Fazemos tudo muito rápido e num instante estamos sentadas no grande avião.

- Canadá, aqui vamos nós. - digo e a minha mãe sorri-me.

- De volta a casa, não é? - ela olha-me durante uns segundos.

- É. - pisco-lhe um olho. - De volta a casa.

✖️✖️

Agarro as minhas duas malas com força por causada ansiedade e olho em volta. Não demoro muito a ver um grande grupo de pessoas e os meus olhos logo se encherem de lágrimas de alegria. Todos seguram um cartaz com frases como "Bem vinda de volta!", "Tivemos saudades"... Olho de lado para a minha mãe e desato a correr em direção às quatro pessoas que eu mais queria ver no mundo, para além de Shawn, Aaliyah, Manuel, Karen e Cody. Corro, corro e corro e finalmente os alcanço saltando-lhes para cima no abraço mais demorado e sentido que alguma vez dei na vida.

- Acho que morria se não vos visse por mais uma semana. - digo no meio de choro e riso.

Aos poucos, acalmo-me e começamos a falar sobre como é Nova Iorque, de novos amigos e tudo. Acho que nem me tinha apercebido que tinha tantas saudades disto. Sinto um braço passar à volta dos meus ombros.

- Então, princesinha? - a voz doce de Cody pergunta. - É bom estar de volta, hein?

Sorrio-lhe de lado e vamos os dois até ao carro. Tivemos de usar vários carros, mas conseguimos caber todos e chegamos à minha antiga rua num instante. Cody dá-me um beijo na testa e eu saio do carro, deixando-o ir para a sua casa partilhada com Sophia em Toronto. Aaliyah cresceu imenso e já está quase da minha altura.

- A tia Lauren não deixou que ninguém comprasse a vossa casa. Está exatamente como a deixas-te. - ela diz-me.

Pego-lhe numa mão e aperto-a com força.

- Sabes? Trouxe-te umas coisas de Nova Iorque. - digo e ela sorri.

Vamos as duas para sua casa e abro a minha mala. Comprei um hoddie a dizer 'I love New York' para a Aaliyah e ela adorou. Sentamo-nos as duas no sofá, Aaliyah com a cabeça nas minhas pernas, Luise, Sierra, Bella, Ian e Laur sentados no chão e nos sofás e a minha mãe numa conversa interminável com Karen, Manuel e a tia Lauren.

- O que vemos? - Ian pergunta.

Ligo a televisão e ponho num canal de filmes. Está a dar 'Sozinho Em Casa 2'.

- Sim! - Bella exclama.

Luise resmunga qualquer coisa mas todos concordamos em ver o filme.

✖️✖️

- Acabou! Finalmente! - Ian exclama e levanta-se de um salto.

Fico com a tarefa de acordar Aaliyah, Luise e Laur, que adormeceram a meio do filme. Não demoro muito tempo e depois subo as escadas e vou para o quarto do Shawn. Está desarrumado, como sempre, mas eu gosto tanto do seu quarto. Deito-me na cama e sinto o seu cheiro invadir-me.

- Também tenho saudades dele. - Karen entra no quarto. - Acho que nos compreendemos uma à outra muitíssimo bem.

Sento-me na cama e ela vem para o meu lado. A sua mão vai de encontro ao meu joelho e preciona-o.

- Ele fica sempre tão contente quando fala de ti... - ela sorri abertamente.

Sinto-me corar e olho para baixo.

- Ele está em Espanha, não é? - pergunto.

Ela fica em silêncio uns segundos.

- Oh, sim. Claro, em Espanha. - diz rapidamente. - Vá, anda jantar. Estamos todos à espera.

Levantamo-nos as duas e descemos as escadas.

An All New LifeOnde histórias criam vida. Descubra agora