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(Ora bem, eu não costumo por nada na multimédia mas ya, aquele é o Cascavel. Boa leitura!) Amanhã vou para uma nova escola. Não faço a mínima do que me espera, só sei que terei de andar todos os dias uns quinze minutos, o que de certa forma pode ser bom para espairecer. O meu telemóvel toca e por momentos penso que é Shawn, mas vejo "Cody" escrito no pequeno ecrã luminoso.

- Olá, princesinha! - ele exclama. - Como estás?

- Não muito bem. - admito.

- Que se passa?

- Não te quero estar a chatear, Cody. - digo e suspiro.

- Não chateias, a sério. - ele diz e sorri. Aliás, penso que ele esteja a sorrir.

- Bom, basicamente fiz um amigo aqui em Nova Iorque...

Conto-lhe toda a história cheia de promenores, pois ele assim pediu. No final, ele fica em silêncio por alguns momentos.

- Gostas do Cascavel? - ele pergunta.

- Eu... Eu não sei.

- O Shawn tem razões para estar com ciúmes, Jo.

- O quê? Por quê?

- A Jo extremamente apaixonada pelo Shawn que vivia no Canadá não responderia "não sei" à minha pergunta.

Cody deixa-me sem resposta. Ele tem razão e fico irritada comigo mesma por isto estar a acontecer.

- Não gosto do Cascavel. - digo.

- Eu conheço-te, Jo. O suficiente para saber quando estás a mentir. - ele respira fundo muitas vezes. - Se não gostas mesmo dele, então pede desculpa ao Shawn. Afasta-te do Cascavel.

- Ok.

- Vais fazer isso?

- Sim. O Cascavel é só um amigo. Obrigada, Cody.

- De nada, princesinha. Boa sorte na escola.

- Xau!

Desligo a chamada e vou até à varanda. Vejo Runner a correr com Cascavel de um lado para o outro no pátio. O rapaz olha para cima e os seus olhos encontram os meus. Desvio o olhar e relembro-me de que, para além de estar chateada com ele, tenho de me afastar. Mas ele sobe as escadas a correr e, sem que eu possa sequer pensar, está ao meu lado.

- Ainda não me falas? - pergunta.

Ignora. Viro-me de costas para ele e cruzo os braços.

- Oh, vá lá! - ele implora. - Fala comigo!

- Pensei que não precisasses de mim. - digo amargamente.

Ouço passos e sinto-o a centímetros atrás de mim.

- Desculpa, a sério. Juro que não te queria magoar. - ele murmura.

A minha respiração está um pouco descontrolada e fecho os olhos. Afasta-te do Cascavel. Ele pousa uma mão no meu ombro.

- Desculpas-me? - pergunta.

- Sim. - digo fingindo-me irritada.

Ele faz com que eu me vire e ficamos a olhar um para o outro. Olho para baixo e reparo no seu braço.

- Cascavel?

- Sim?

Agarro o seu pulso e levanto o seu braço.

- Cortaste-te... - murmuro olhando para os golpes repetidos na sua pele.

Ele esconde o braço com uma sacudidela.

- Diz alguma coisa! Por que o fizeste? - pergunto.

- Não ias perceber. - diz e baixa a cabeça.

- Ok, eu não percebo. Mas pára de o fazer.

Ele não responde e aproxima-se mais de mim. A princípio, não percebo o que está a fazer mas de repente ele abraça-me com força. A sua cabeça pousa no meu ombro. Passo os meus braços lentamente à volta do seu tronco.

- Posso fazer uma pergunta?

- Sim. - ele responde.

- Agora que já conheço o Cascavel não-durão, posso saber o nome não-durão dele? - pergunto.

Ele continua agarrado a mim.

- O nome não-durão dele é Ryan.

- Então... Ryan, por que me estás a abraçar?

Ele não responde e, depois de passar a mão no meu cabelo azul, afasta-se. Esfrega as mãos nas calças e salta para as escadas de emergência, até ao seu quarto.

- Sou tão estúpida. - digo ao voltar para dentro.

Tens de te afastar! Dispo-me e entro na banheira de água muito quente. Começo a cantarolar uma canção. Acho que Shawn lhe chamou Imagination. É apenas mais uma das canções que ele tem guardada  e que ainda não terminou. Visto o pijama e vou para a cozinha.

- Joanne! - o meu pai exclama ao ver-me.

Abraça-me e mexe no meu cabelo.

- Até gosto da cor. - diz, mas sei que só está a tentar ser simpático.

Ignoro-o e pego num pedaço de lasanha, para ir comer no meu quarto. Sento-me na cama e pego no telemóvel. Quase ao mesmo tempo, Aaliyah liga-me.

- Olá! - exclamo.

- Olá, Jo! Podias explicar-me o que se está a passar? - ela pergunta.

- Como assim?

- Sei lá, o Shawn está super esquisito. Ora parece a criatura mais triste e deprimida de sempre, ora está irritado com tudo e todos. Se as raparigas "são complicadas", então o que é que o Shawn é?

- Deve ser por termos discutido.

- Mas vocês estão bem, certo?

- Sim, não te preocupes Aaliyah.

- Ótimo. Boa sorte para amanhã! Estou cheia de saudades...

- Eu também... Adeus, Aaliyah.

Desligo e fico a olhar fixamente para a parede branca à minha frente. Ouço um choro ao longe. No pátio. Vou a correr à varanda e salto para as escadas. Runner vem de encontro às minhas pernas, assustando-me.

- Onde está ele? - pergunto-lhe.

O cão começa a correr para o beco onde o encontramos e o som do choro aumenta.

- Ry... Ryan? - chamo a medo.

O escuro da noite não me deixa distinguir nada a não ser... Aqueles olhos. Corro em direção a eles e baixo-me ao seu lado.

- O que se está a passar? - pergunto-lhe.

Ele chora compulsivamente. Esforço-me para habituar os meus olhos à escuridão e vejo-o com uma faca na mão. Arranco-lhe aquilo com brutalidade.

- Não, Coruja! - ele grunhe. - Deixa-me!

Dou um pontapé à faca para ela ir para longe e agarro os seus ombros.

- Ouve-me. Não te vou deixar fazer isto, ok? - afirmo.

Pego nos seus braços e vejo os golpes muito profundos que ele fez. As lágrimas começam a aparecer aos poucos.

- Imploro-te... - ele murmura.

- O quê?

- Imploro-te que me deixes levantar.

- Para fazeres o quê?

Ryan não responde e eu deixo-o levantar-se. Ele olha-me durante imenso tempo, sem nunca parar de chorar.

- Por que... - começo a falar mas ele já desatou a correr.

Vou atrás dele o mais rápido que posso até ao passeio. Estamos em Nova Iorque, há imensos carros a passar. Olho para o rapaz ao meu lado. No mesmo segundo em que percebo o que vai acontecer, ele continua a correr. Sempre em frente. Para o meio dos carros.

An All New LifeOnde histórias criam vida. Descubra agora