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Acordo com o sol a bater-me na cara. Ryan não fechou as cortinas quando aqui entrou. Viro-me para o lado e ele não se encontra lá.

- Ryan? Onde estás? - chamo-o mas não obtenho resposta.

Levanto-me e vejo um pequeno papel na minha secretária.

"Fui-me embora quando comecei a ouvir a tua mãe na cozinha. Não achei boa ideia ela ver-me. Obrigado, Coruja."

Faço um pequeno sorriso e deixo o papel onde estava. Vou até à casa de banho e tomo um duche rápido. Visto-me e pego no telemóvel.

- Olá! - a voz radiante de Luise exclama do outro lado. - Como está a correr Nova Iorque?

- Agora até está a correr bem. Tenho imensas saudades...

- Tens de cá vir num fim de semana, sentimos todos a tua falta!

- Como estão os outros?

- A Sierra finalmente namora com o Peter, o que fez com que ela e o Cameron andem chateados, o Thomas continua solteiro - ela faz uma pausa. - Lembras-te da Susan?

- Claro.

- Pronto, ela namora com o Marvin. Mas cá para mim, não duram nem mais uma semana. E acho que está tudo. E por aí? Algum rapaz guardado para mim?

Solto uma gargalhada involuntária.

- Conheci o Ryan, um bom amigo e...

- É giro? - ela interrompe-me. 

Tusso em seco e olho para a parede branca à minha frente.

- Sim. - digo esforçando-me por parecer indiferente.

- Ok, continua.

- E uma amiga. A Alicia, que tem três irmãos: o Will, o Monty e o Charles.

- Que bom! Fico super contente! Jo... Achas que podias vir passar uns dias cá? Temos todos mesmo muitas saudades...

- Eu não sei, Luise. - admito indo para a varanda. 

- Ok... Mmmm, vai pensando nisso. Xau!

- Beijinhos, adoro-te!

- Eu também!

Desligo a chamada e olho para o pátio de cimento. Runner está lá sozinho. Eu e Ryan já não temos tomado conta dele, tenho de lhe arranjar um dono que trate dele. Desço as escadas e ponho-me de cócoras para estar à altura do pequeno cão. 

- Desculpa, lindo... Não tenho tido muito tempo para ti, pois não? - vou passando uma mão pelo seu dorso enquanto  falo. 

Acabo por me sentar no chão frio de cimento e deixo-o subir para o meu colo.

- Tens-te entretido sozinho?

Não sei por que falo com Runner. Não me vai responder de qualquer forma... Runner levanta as orelhas ao ouvirmos um "click" vindo do pequeno beco. Aquilo era uma máquina fotográfica? Levanto-me um pouco assustada e ando tentando manter a calma. Aclaro a garganta com uma tosse propositada. 

- Está aí alguém? - pergunto. 

Um vulto salta e aterra mesmo à minha frente.

- Bú! - Ryan exclama. 

Suspiro de alívio e vejo o pânico abandonar-me. 

- Tinhas mesmo de me assustar?! - pergunto enquanto ele se ri. - O que estavas a fazer?

- Já te tinha dito que adoro fotografia. - ele levanta uma máquina fotográfica com as duas mãos. - E tu és basicamente a única pessoa com quem eu me dou que é minimamente bonita para fotos.

Sinto-me corar um pouco e encolho os ombros. Nunca fui muito fotogénica. 

- Posso ver? - pergunto tímida.

Ele sorri de lado e mostra-me a foto. A minha primeira impressão, é de apenas uma rapariga de cabelo azul com um cão ao colo e alguns graffitis nas paredes à sua volta, mas Ryan tem talento para isto e a luz, o ângulo de que foi tirada... tudo está perfeito na foto! 

- Ficou mesmo bem! - exclamo e ele tira a máquina da minha frente.

- Mas quero mais. - ele diz. - Por favor?

- Por que não? - encolho os ombros e espero por ordens dele. 

Ryan pede-me para me por em frente a uma das paredes e saltar. Assim faço e ali passo a manhã com ele.

- Acho que já tenho algumas para editar. - ele diz distraído a ver as fotos.

- Vou buscar alguma coisa para comermos. 

Ele não responde e apenas acena que sim com a cabeça. Vou até às escadas de emergência e subo até à minha varanda. Ouço barulhos vindos da sala. Deve ser o meu pai. A minha mãe ontem avisou-me que o chefe da empresa onde o meu pai tem ido fazer algumas reuniões vem cá almoçar. Vou até à cozinha, tentando não fazer barulhos e encontro lá a minha mãe a cozinhar.

- Joanne! O teu pai já está na sala com o chefe... Aliás, a chefe. Afinal é uma mulher. - ela desvia o olhar para o forno por um segundo. - Bom... Vai lá só cumprimentá-la, sim?

Faço um sorriso forçado e vou calmamente até à porta da sala. Abro-a muito lentamente e paro a meio. Não. Não. Não.Não. 

- Mãe? - chamo muito baixinho. 

Ela aparece confusa com o avental todo sujo. Aponto para a sala pela frincha da porta aberta. Ela olha e vejo os seus olhos marejados. Bom... Mmm... O meu pai ou é muito amigo da chefe, ou ela está desmaiada e precisa de respiração boca-a-boca ou... O meu pai andou a trair a minha mãe durante este tempo todo. A mulher ao meu lado funga e entra de rompante na sala. O meu pai afasta-se rapidamente do beijo e parece assustado. 

- O QUE É ISTO? - a minha mãe grita.

O meu pai olha para mim com pena e vem até à porta, fechando-a na minha cara e trancando-a por dentro. A raiva começa a crescer dentro de mim e sento-me no meu  do corredor, com as costas na porta da sala. Isto tinha mesmo de acontecer? O que é que vamos fazer agora? 


An All New LifeOnde histórias criam vida. Descubra agora