Pessoal, voltei!!!!
Estava em outra cidade para uma palestra, mas voltei com os capítulos. Estamos na reta final!!!
Me mandem comentários se estão gostando...
Beijos,
Fernanda.
PS: Farei dois lançamentos do meu novo livro, O Pulo da Gata, e quero convidar vocês!!! Um em São Paulo (17/10) e outro em Campinas (sábado agora, 03/10). Se vocês forem dessas cidades e quiserem saber detalhes, aqui estão os links:
Campinas: https://www.facebook.com/events/1315328011827032/
São Paulo: https://www.facebook.com/events/1712909662263501/
Eu ia amar conhecer vocês! <3
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Na audiência que aconteceu dias depois da primeira, pedi para Bernardo não ir. Ele disse que gostaria de estar ao meu lado, mas eu queria me lembrar, a todo o instante, de que ali eu era advogada. Nada de misturar assuntos pessoais, e naquele momento só eu e Manuela deveríamos acertar as contas. Ele concordou.
Minha segunda atuação como advogada seria contra a mesma pessoa, mas agora em Juizado Especial Criminal com uma ação de calúnia. Eu poderia não aceitar nenhum acordo na audiência preliminar, mas não pretendia levar adiante aquela história. Já havia provado que era inocente e isso que importava. Logo no primeiro encontro, o advogado da mulher com cabeça de fogo me propôs um acordo e eu o aceitei. Para Manuela, era melhor doar as cestas básicas para uma instituição do que se arriscar a ir parar na cadeia. Assim, por um ano algumas crianças receberiam cestas básicas daquela maluca.
Senti orgulho por ser minha própria advogada. Na saída, o mesmo rapaz que me entrevistou no dia do vernissage me esperava para escrever uma reportagem sobre o caso. No dia seguinte, a página cinco do jornal trazia uma matéria sobre o sucesso da pintora que resolveu ser advogada, embora eu seja uma advogada que decidiu ser pintora. Meu telefone começou a tocar ainda mais e agora tinha duas agendas: uma para encomendas de quadros e outra para contatos com clientes que pretendiam pagar pelos meus serviços como advogada.
Eu queria desistir do Direito. Não tinha a menor vontade de trabalhar mais em escritórios, mas aí pensei na possibilidade de montar meu próprio escritório.
Dona Cotinha foi comigo à audiência preliminar em que o acordo foi feito. Na volta, perto da hora do almoço, paramos em seu apartamento. Minha vizinha fazia questão de que às vezes eu fizesse companhia a ela em uma refeição. Sempre deliciosas, o prazer era meu.
— Blanda, minha filha, você conheceu Dona Justina? – perguntou Cotinha, com a colher na mão enquanto esperava a minha resposta. Ela sempre comia de colher.
— A mãe de Bernardo? – eu perguntei, após uma garfada de polenta com molho vermelho.
— Ela é minha amiga.
— Como o mundo é pequeno, Dona Cotinha.
— Preciso contar algo e tenho medo de que você não goste do que eu vou dizer, mas eu não posso esconder nada de você.
Em uma fração de segundos, pensei que Dona Cotinha fosse me contar que Bernardo era casado ou qualquer outra novidade que estragaria a felicidade vivida nos últimos dias.
— Naquele dia em que eu pedi para você ir ao banco, eu sabia que você ia encontrar o Bernardo.
— Dona Cotinha, eu estava ridícula!
— Bernardo queria te ver – ela disse com um olhar cativante e a voz doce.
— Mas como a senhora sabia?
— No dia da sua estreia de quadros, quando você apresentou sua arte às pessoas, ele fez muitos elogios a você. Aquela antiga namorada dele estava junto, mas eu percebi que ele queria encontrar você novamente. Nunca desconfie da intuição de uma velha como eu, filha. Minha suspeita foi confirmada quando ele mesmo disse que não conseguia te esquecer. Então eu dei um jeitinho de colocar vocês juntos novamente.
— Então a senhora é a culpada de tudo – eu exclamei com um sorriso.
— Não, querida. Vocês mesmos são os culpados, eu só dei um empurrão – ela disse e ergueu os ombros, como se não tivesse feito nada. Mas tinha feito, e sabia que tinha feito.
Dona Cotinha, apesar de estar sempre presente em minha vida, pouco falava da sua. Era uma mulher alegre, mas parecia esconder, atrás de seus olhos, histórias de muitas vidas. Nas poucas vezes em que perguntei sobre sua família, ela não respondeu e eu respeitei. E nossa amizade seguia regada a sinceridade, mas cautela. Por isso eu me surpreendi quando ela começou a me contar um trecho de sua história de vida, sem eu ter perguntado nada.
Tudo começou com Juliano, o filho de Dona Cotinha. E eu só sabia que ele morava longe.
Juliano devia ter poucos anos a mais do que eu. Apesar de não ter havido suspeitas na gravidez de que ele nasceria com problemas de saúde, a mãe descobriu um bebê frágil e que precisaria de cuidados especiais. "Um probleminha no pulmão, minha querida, mas isso não tem a menor importância diante dos fatos", ela disse, e seguiu com a história. Dois anos depois, no meio de uma internação, Dona Cotinha descobriu que Juliano não era seu filho biológico. Não existiam testes de DNA na época, mas, quando viu o menino de outro casal, Dona Cotinha soube que era seu. O mesmo aconteceu com os pais da outra criança, que reconheceram em Juliano o filho biológico. O hospital, por sua vez, admitiu o erro e o caso ficou conhecido pela mídia.
— Por isso, minha querida, se hoje eu estivesse grávida, meu filho nasceria em casa – disse Dona Cotinha, com bom humor e certa de suas palavras.
Assim que perceberam a troca, as duas famílias pediram a guarda do filho biológico, mas nenhuma aceitava entregar o bebê que já estava sendo criado há dois anos pelos pais adotivos. Dona Cotinha era mãe solteira, em uma época em que esse fato a deixava ainda mais vulnerável, mas ela não abriu mão de querer criar os dois meninos.
O impasse seguiu até que Cotinha decidiu não abandonar Juliano. Ela conhecia seu estado de saúde, todos os gostos e necessidades daquele menino frágil e amoroso, e não o deixaria. As duas famílias, mesmo em um momento difícil, acabaram se unindo. O irmão visitava Juliano no hospital e logo se tornaram amigos. A recuperação de Juliano parece ter ganhado uma força extra e inexplicável com a convivência com o outro menino.
Dona Cotinha desistiu da guarda da outra criança e a outra família também. Juntos, decidiram que não aconteceria a troca, porque os verdadeiros pais são aqueles que criam. O laço de amor foi responsável por unir os pais e filhos de sangue. Cada criança chamava as duas mulheres de mãe e Juliano, que havia nascido em um lar sem pai, agora tinha um.
— Juliano sempre foi uma criança adorável e meu filho de coração. Hoje ele é um homem lindo e saudável, sem resquícios da saúde abalada da infância. Mora no Havaí e é astrônomo. E quanto a meu filho verdadeiro, ele sempre me chamou de mamãezinha. Não há nada mais que eu poderia pedir na vida, Blanda.
Já emocionada, eu perguntei por que ela nunca tinha me contado essa história.
— Talvez meus instintos estivessem pedindo resguardo. E quer saber, minha querida? No fundo, eu sempre soube o que estava fazendo – ela disse, sem modéstia ou arrogância. – Anos depois, o exame de DNA confirmou que Bernardo é mesmo meu filho biológico, Blanda. Isso significa que, na prática, eu sou a sua sogra.
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9 Minutos com Blanda
RomanceO maior inimigo de Blanda é o despertador. A advogada está desempregada, quase sem dinheiro e divide o apartamento com seu gato Freddy Krueger. A presença constante de Max a recorda que ela tem um namorado, embora ele nunca tenha assumido o relacion...