Um dia não produtivo é o pior que pode acontecer para quem está à procura de uma produtividade remunerada. Vaguei por alguns escritórios de advocacia que mais pareciam salões de beleza e cheguei a questionar por uns instantes se aquilo era mesmo profissão para mim. Uma das secretárias perguntou a hora marcada e eu disse que somente havia levado o meu currículo. A acéfala insistiu na hora marcada e eu acabei jogando o envelope na mesa dela. Eu admito que paciência não é o meu forte.
Nunca fui uma exímia advogada. Eu engavetava os processos, procurava informações na internet e redigia bem os textos, mas não gostava de enrolar muito e ia logo ao capítulo final. Aí que meus chefes não gostavam, um chegou a me sugerir certa vez para eu ser jornalista. O velho disse que eu colocava as informações mais importantes logo no primeiro parágrafo, que aquilo era coisa de jornal e que eu deveria aprender a escrever um bom texto. E como deveria ser, afinal?
Voltei para casa depois de visitar cinco escritórios. Cinco em apenas uma tarde, porque a manhã tinha sido perdida no banco, da maneira mais estúpida que uma pessoa pode perder o seu tempo. E o moral, é claro. Não pretendia voltar lá depois da vergonha que passei na frente do gerente. Não que eu não quisesse vê-lo.
Cheguei em casa e desejei ter uma banheira. Quando me conformei com um chuveiro vagabundo, a resistência pifou. E como determina o decreto para os infelizes, eu não tinha uma resistência reserva em casa. Tomei banho gelado, nada mau para o tempo frio que fazia lá fora e considerando o fato de um vidro da janela do banheiro estar quebrado. Aquele plástico azul deplorável não segurava o vento, então imaginei estar esquiando em Aspen.
Coloquei um par de pantufas e um pijama de flanelas perfeito para a ocasião. A estampa de ursos não era exatamente o que se poderia de chamar de vestuário sensual, mas eu estava aquecida e feliz, determinada a acordar pelo menos meia hora mais tarde no dia seguinte. Não bastaram alguns minutos para a campainha tocar e eu ter de sair debaixo das cobertas. O pior foi ver pelo olho mágico a figura do Max lá fora, com cara de idiota.
— Max?
— Eu mesmo, benzinho. Estava com saudade?
— Não me chame de benzinho. Chame do que você quiser, mas benzinho não, é muito brega. E, além disso, por que você não entrou direto? Você tem a chave.
— Queria fazer uma surpresa – disse com um sorriso sacana.
— Surpresa você teria feito se não tivesse me tirado da cama. Entra logo. Se quiser comida, tem sopa de ontem na geladeira. Tô indo dormir.
— Blandinha, calma, calma. O que houve? Deita lá na cama que eu já vou te levar a surpresa. Aliás... não dá para tirar esse pijaminha broxante?
— Não, Max. Esse é exatamente o efeito que eu espero dele hoje.
Max fez uma careta, mas eu realmente não me importava depois de ele ter me tirado dos edredons. Voltei para a cama e ouvi barulhos vindos do banheiro. Quando me lembro de ter aberto os olhos novamente, lá estava Max, com uma ofuscante luz vermelha de fundo, dançando ao som de uma música que eu não conhecia e vestindo uma cueca bastante diferente. Mais de perto eu pude comprovar que era... uma sunga de elefante!
Eu não podia acreditar que Max estava ali, na minha frente, usando uma cuequinha e com a tromba de um elefante vestindo o seu troféu. Esfreguei os olhos e ele disse, com uma voz rouca, que estava ali para satisfazer todos os meus desejos.
— Ah, é, elefantão, você veio fazer tudo o que eu quiser?
— Vim, yes...
— Desde quando você fala inglês?
— Ah, isso aí aprendi num filme.
— Imagino o nível.
— Vamos, lindona, qual o pedido para seu elefantão? Tudo o que quiser.
— Tudo mesmo?
— Tudo.
— Então apaga a luz e me deixa dormir. Estou morrendo de dor de cabeça.
Ele podia até não acreditar, mas dor de cabeça nem sempre era uma mentira. Virei para o lado e sem remorso nenhum deixei o aspirante a paquiderme teorizando sozinho sobre os supostos falsos relatos de dores de cabeça da ala feminina da humanidade. Mal ele sabia que eu teria usado aquela desculpa mesmo se não fosse verdade.
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9 Minutos com Blanda
DragosteO maior inimigo de Blanda é o despertador. A advogada está desempregada, quase sem dinheiro e divide o apartamento com seu gato Freddy Krueger. A presença constante de Max a recorda que ela tem um namorado, embora ele nunca tenha assumido o relacion...