5. Com que roupa eu vou?

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Quando eu saí do banheiro, Max não estava mais na sala. Ele era ótimo em sair sem se despedir, sem me dar um beijo de bom-dia e sem fazer nenhum barulho. Não se despediu, mas deixou uma casca de mamão em cima da mesa. Não dentro de algum prato, mas em cima da madeira, com as sementes espalhadas de forma a parecer um desenho ao redor da casca. Freddy tentou alcançar uma das sementes, mas foi logo repreendido com um "não" e desceu da cadeira. Pelo menos o gato me ouvia. Às vezes.

Mas eu não ia me irritar. Não naquele dia tão inusitado, quando passaria a existir oficialmente para a família do meu namorado. Liguei o som e estava tocando a música de Shrek. Aumentei o volume e dancei sozinha pela sala, até que Freddy apareceu e me olhou com cara de "preciso fugir daqui agora", mas não deu tempo – eu o agarrei e ele dançou comigo. Não posso dizer que feliz da vida, mas dançou. E como prêmio ganhou a sua ração favorita, em pasta. Isso é para provar que eu sei reconhecer quem é bom comigo.

Decidi ficar em casa e me preparar para o grande jantar. Abri o guarda-roupa e olhei o conteúdo sem muita motivação. Devia existir um manual para as mulheres na faixa dos 20. Com um pouco menos, um pouco mais, mas não muito menos nem muito mais, ou seria ideal para a filha da vizinha ou para a minha mãe. É difícil se vestir sem parecer ridícula. Eu não queria ser falsa e tentar aparentar menos idade e também não podia me comportar como uma velha nesse encontro. Precisava apenas me apresentar como Blanda e não sabia como fazer isso.

A peça mais cogitada para a ocasião era o terninho cinza, mas ele estava no cesto de roupas imundas, na categoria "precisa ficar de molho no vinagre". Além do mais, ternos não são ideais para o primeiro encontro com a sogra. Eu precisava parecer mais jovial, afinal, eu sou jovial, oras. Então um vestido seria uma boa opção, mas qual vestido? De festa? Com manga? De alcinhas? Qual cor? Eu mal tinha acabado de acordar e estava no meio de um dilema importante quando a campainha tocou.

— Filhaaaa!!!

— Ah, não, mãe, é você?

— Queria que fosse quem, Blandinha? Olha o que a mamãe trouxe!

E lá foi a minha mãe para a mesa de centro da sala, onde abriu uma mala imunda de propaganda de agência de viagens e tirou de dentro dela um laço vermelho de bolinhas brancas como o da Minnie, feito com um tecido que brilhava. A não ser que fosse a uma festa à fantasia, eu jamais usaria uma porcaria cafona daquelas.

— Ah, mãe, é legal. A senhora pretende usar onde?

— Agora é que vem a surpresa!

— Conte, onde a senhora vai usar?

— É um presente para você!

Não. A minha mãe queria me obrigar a falar a verdade. Porque eu iria tolerar que ela o usasse, já que adora parecer uma árvore de Natal em qualquer época do ano, mas eu não poderia usar aquele laço ridículo na minha cabeça.

— Mãe, olha, eu agradeço de verdade, mas eu não gosto de brilho, esqueceu?

— É só para usar à noite, bobinha. Fico feliz que você tenha gostado – e sorriu de orelha a orelha. Eu não disse que tinha gostado de nada, mas naquele momento eu não tive coragem de dizer a verdade. Pensei em quantas vezes na minha vida não tive coragem de dizer a verdade para as pessoas com medo de magoá-las. Sabia que não valia a pena esconder o que eu sentia, mas mesmo assim eu não conseguia ser diferente.

— Mamãe, eu tenho um monte de coisas para fazer hoje, por que não nos falamos amanhã?

— Posso te ajudar, você não quer minha ajuda? – e lá estava Amaralina, advogada aposentada do Fórum, uma mulher que talvez tenha influenciado – ou pressionado – a minha infeliz escolha acadêmica. A senhora de cabelos loiros-de-mentira e com sorriso sincero tentava me convencer de que eu precisava de sua ajuda. Mamãe não tinha muita noção dos fatos e pode ser que soubesse disso, mas fingia não saber.

9 Minutos com BlandaOnde histórias criam vida. Descubra agora