39. Sim, sim e sim!

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As mulheres se aglomeraram em volta de mim na pequena sala do meu apartamento para ouvir o pronunciamento oficial feminino.

- Sim, sim e sim... Eu vou me casar!

Mamãe riu e chorou ao mesmo tempo, Dona Cotinha e Dona Justina se abraçaram, enquanto Catarina e Teca soltaram um grito de felicidade. Liguei para Jaime e Roberto e coloquei a ligação em viva-voz para anunciar a novidade. A reação dos meus amigos foi ainda mais animada. Não pude identificar as palavras, já que ambos falavam juntos e numa euforia como se fossem convidados para serem damas de honra.

- Mas e as alianças? - perguntou Teca.

- Eu e Bernardo vamos escolher amanhã. Ele quer que eu participe desse momento importante para nós dois - eu respondi, com um olhar voltado para o quadro com o pedido de casamento e que agora ocupava um lugar de destaque na sala.

- Precisamos fazer uma festa de noivado - interferiu minha mãe.

- Ah, mãe... Não precisamos de festa agora. Já teremos o casamento e será simples, no campo e do jeito que nós dois queremos. Que tal um jantarzinho só para a família no próximo fim de semana? - e todas pareceram gostar da ideia. Dona Justina ligou para Seu Veloso e contou a novidade, enquanto meu pai chorou de felicidade ao telefone. Deixei a comemoração por conta das duas sogras e da minha mãe.

No resto do dia pensei na minha vida, sozinha com Freddy no apartamento. Primeiro eu não queria casar, mas acabei em uma cilada e pensei ter encontrado o passaporte para a felicidade. Quando percebi que não seria feliz e descobri uma nova profissão, conheci um homem que mexeu com a minha razão e me fez perder a noção de tempo e espaço. Entre desmascarar o traidor do ex-namorado e estabelecer um relacionamento com o homem que virava a minha cabeça, o tempo foi curto. A nova atividade passou a ser levada como profissão. Com um namorado que apoia minhas decisões, sou mais livre do que quando estava sozinha. Ganhei uma nova família, fiz as pazes com o meu passado e um único detalhe continua me incomodando quase diariamente: o despertador.

Nos dias seguintes, organizei as duas agendas, uma para as encomendas de quadros e outra para os clientes do meu escritório de advocacia. Enquanto não tenho dinheiro suficiente para alugar um espaço, Dona Cotinha permitiu que eu usasse um dos cômodos de seu apartamento e ainda se tornou minha sócia. Seu telefone passou a ser meu número comercial e é ela quem atende às chamadas, marca reuniões com clientes, gerencia o meu tempo e ainda serve biscoitos amanteigados. Desconfio que voltam justamente por isso.

O ateliê continuou no meu apartamento. Quando preciso manter as telas afastadas de Freddy, fecho a porta do quarto. As paredes da sala estão tomadas por quadros novos. Um deles sempre chama a atenção dos compradores, só que não está à venda, porque é parte da minha história.

Pintei um quadro especial chamado "O começo" e dei de presente para a Dona Lilibeth, amiga da ex-sogra e a primeira pessoa a me oferecer uma chance de expor minhas obras. Já expus mais duas vezes na sua butique e as vendas são cada vez maiores.

Bernardo e eu compramos as alianças, mas deixamos para decidir detalhes da cerimônia quando a data estiver mais próxima. O mais importante é ficarmos juntos. Vez ou outra, ele dorme lá no meu apartamento, mas geralmente uma das sogras telefona pela manhã para saber "se está tudo bem". Penso que os preparativos para o casamento ainda vão render muitas risadas e boas lembranças. Combinamos que teremos um altar ao ar livre, como eu sempre quis.

Apesar de continuar como gerente do banco, os trabalhos com a Banda Zoom são cada vez maiores, tanto que aos fins de semana quase não podem tocar no bar. São festas de casamento, formaturas e logo aconteceu o primeiro convite para tocar no aniversário de uma cidade próxima à nossa. Pouco dinheiro, mas ampla divulgação. Eu apoio o meu gerente-baterista e ele incentiva a sua pintora-advogada.

Chegar aos vinte e cinco anos foi o começo da melhor parte da minha vida. Eu não sabia nem quem era e sinto que já me encontrei. Mas decidi continuar buscando algo a mais. Afinal, este é o sentido da vida.

FIM


9 Minutos com BlandaOnde histórias criam vida. Descubra agora