Vulnerável

35 4 1
                                    

Mal cheguei a casa senti umas mãos cheias de areia nas minhas costas e gritinhos histéricos aos meus ouvidos.

- ahhahaa JU pára!

- hehe apanhei-te Lilly!

- Fiquem quietas!!

Gritei a plenos pulmões, odiava esta peste e a sua amiguinha sabe tudo.

- Evelyn chegas-te?

- Sim tia.

- E a Lilly?

- Sim, infelizmente....

- Não sejas assim com a tua prima Evelyn e vai arrumar o teu quarto, está um caos!

Olhei Lilly com ar chateado e ela mostrou-me um dedo, só a minha tia não via estas coisas! Subi os degraus de dois em dois e entrei no meu quarto, ( que não estava assim tão desarrumado) escolhi uma roupa casual mas bonita para ir ao almoço preparado por Constança Beltrán, pelo que tinha lido no convite que ela tinha enviado á minha tia, era esse o seu apelido. Fiquei a pensar que apelido teria Dilan, talvez malvadez ou maldisposto. A principio tencionava faltar mas eu tinha de ir, tinha que descobrir qualquer coisa...

- Evelyn vem almoçar!

Ups tinha esquecido de avisar que não ia almoçar em casa, desci já pronta ( uns 20 min depois), na cozinha encontravam-se as pestinhas sentadas na mesa de pedra a brincar com a comida.

- Fizeste-nos perar.

- Queres dizer esperar, analfaeta.

- hahaha è analfabeta.

Não acredito que a corrigir fui corrigida pela amiga da peste!

- Eu vou almoçar a casa dos vizinhos.

- E só me dizes isso agora?

- Desculpa, até logo...

- Espera ai, quais vizinhos?

- Os novos, acredito que tenhas recebido o convite.

A minha tia ficou com uma expressão estranha de preocupação misturada com...receio?

- Naquela casa? Eu não vou e tu também não.

- Porquê Tia ? calculei que não fosses por causa do medo que tens daquela casa, mas eles estão a contar comigo.

Disse-o mesmo não sendo totalmente verdade e dirigi-me á porta.

- Foi onde os teus pais foram assassinados...

Ela disse-o num sussurro ténue de forma a convencer-me a não ir. Fiquei parada em frente á porta por um segundo e depois sai, não olhei para a minha tia mas com certeza estava abalada e as miúdas que estavam aos risos tinham-se calado, no entanto eu apenas precisei de processar a informação e agora não havia dúvidas eu iria descobrir quem matou os meus pais e o que realmente aconteceu naquele dia. Já tinha conhecimento de mortes naquela casa e que os meus pais viveram lá durante uns meses enquanto a minha mãe estava grávida de mim, mas o que aconteceu depois?

Vi o Mat no jardim e fui ter com ele, muitas pessoas da nossa rua estavam ali e outras que nunca tinha visto...

- Hey, tudo bem?

- Sim.

- Estás com uma cara! Vem para dentro, a Lu já lá está.

- ok.

Atravessa-mos o jardim e antes de entrar-mos imaginei o que poderia encontrar ali, já lá tinha estado uma vez, antes apenas tinha dado algumas voltas á casa, os outros vizinhos nunca foram muito amigáveis... era a minha chance. Logo que entrei vi a Lu com, não podia acreditar, Dilan. Chamei-a e ela teve a lata de dizer que estava a socializar com aquele rapaz, que para além de anti social era incrivelmente....

- Irritante, sinceramente, tentei ser simpática e ele ainda gozou com a minha cara.

- Ser simpática com ele não resulta.

Disse-lhe, no fundo senti-me meio aliviada por não se terem dado bem, não sei apenas não me sentiria bem ele dar-se com todos menos comigo.

Tentei manter-me alerta e comecei a observar a casa enquanto o Mat atacou os aperitivos e a Lu distraiu-se a conversar com umas miúdas. Pelo que tinha lido em cartas e visto em fotos dos meus pais, que se encontravam perdidas no sótão, eles tinham um estilo muito clássico e gostavam deste tipo de casa, tinha vários quadros de arte que não sabia se pertenciam á casa ou se eram obra de Constança... Tinha de ver os quartos e o escritório, talvez acha-se alguma papelada do tempo em que os meus pais aqui estiveram ou de quando foram mortos...

- Constança desculpa deves estar muito ocupada...

- Tudo bem querida, ainda bem que podes-te vir.

Ela olhou-me de cima a baixo e eu não gostei nada.

- Sim, não houve problema obrigada pelo convite, como se estão a adaptar ? Soube que o Dilan está a ter algumas dificuldades a fazer amizades...

- Bem, está tudo a correr bem, o Dilan sempre foi assim fechado mas ele é um bom rapaz para as pessoas que está habituado.

Onde é que eu já tinha visto aquele sorriso falso...

- Claro compreendo, a Constança é amiga do Dilan, parecem muito próximos.

Tentei devolver-lhe o sorriso..

- Vais ter de me desculpar mas tenho de ir dar uma palavrinha ao meu colega querida.

Ela passou a mão no meu ombro e saiu em direção a um homem de fato com barba escura.

De seguida fomos todos comer, eu comi rapidamente e sai por uns segundos sem ser notada, pelo menos era o que eu pensava. Enquanto todos conversavam lá em baixo subi as escadas devagar e entrei num corredor meio sombrio, era menos iluminado e tinha uma estranha tapeçaria que devia ter muitos anos. Resolvi entrar no quarto à esquerda pois a porta estava entreaberta; até que senti um toque no ombro e apanhei o maior susto da minha vida, naquele momento passaram muitas coisas pela minha cabeça, um monte de desculpas para não estar com os outros , sentadinha no meu lugar.

- Não é ai a casa de banho.

O meu coração estava a mil, era Dilan, reconheci imediatamente pela voz suave que era impossível de saber se estava a gozar ou a falar a sério. Os olhos agora ainda mais escuros, o que era irreal, olhavam-me e tive medo. Dei uma desculpa qualquer que nem me lembro mais e ele obviamente não acreditou chamando-me coscuvilheira. Não quis saber de mais nada e fiz-lhe todas as perguntas que me lembrei que estavam entaladas na minha garganta.

Ele pareceu-me irritado, agora estava entre os seus braços contra a porta e não sei mais o que senti, eu queria saber, eu precisava, talvez se eu lhe contasse ele me pudesse ajudar, mas nem os meus melhores amigos sabiam disto...eu não sei, ele estava a pressionar-me e eu quando dei por mim as palavras saíram.

- Os meus pais morreram aqui.

Quando o disse, dei realmente conta da dimensão daquilo, como os tinha perdido quando era ainda nova tinha-me habituado á ideia de que eles não voltariam, mas quando o digo ainda doí, e quando soube que alguém os tinha assassinado, os tinha tirado de mim e que eu estava lá e não me lembro de nada, apenas fico assim, vulnerável.

Enquanto isto, não raciocinei que estava a ser abraçada até o que pareceram minutos depois e abracei de volta.

Tão quente, tão familiar...











DespertarOnde histórias criam vida. Descubra agora