Irreal

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Eles foram-se embora...

Sai quando a minha tia foi levar a miúda á escola e os vizinhos e conhecidos questionavam-me se me sentia melhor, sorria que sim mas por dentro gritava que não. A casa estava vazia, tinha falado com a Lu na praia e tanto ela como o Mat e como a Bi não sabem do que falo, acerca da festa de Constança, a própria Constança, o nosso assalto a meio da noite e o Dilan, nada... eu começava a desconfiar de mim mesma. Acabei de acordar de um sonho impossível. Foram todos para as aulas hoje, eu estou de repouso, acho que repousei demais, não podia estar certo! Eu sei o que vi, o que senti...

Parei em frente da casa, estava a começar a odiar realmente aquela construção, se a minha tia tivesse condições financeiras na altura, eu nunca tinha voltado a ver esta casa, se tivesse ido embora não tinha conhecido a Luísa ou o Matias, muitas coisas não teriam acontecido. Olhei em redor e a maior parte das pessoas estavam nos cafés perto da praia ou a apanhar as ondas matinais, de qualquer forma demasiado concentrados nas suas vidas para reparar em mim entrando por aquela pequena abertura daquela grande casa.

Estava alguma claridade, consegui observar aquela mesma mesa cheia de papeis, caixas e caixinhas... O copo á beira do armário cheio de pó e aquela caixa onde estavam pequenas coisas minhas, os dois vestidos, muito papel sem significado e no fundo a foto da minha mãe comigo ao colo á frente da casa. Não entendo... rodei a maçaneta da porta que levava á casa, a porta chiou um pouco antes de abrir, nada estava como antes...

Os quadros não eram os mesmos, a pintura numa das paredes da sala estava desbotada, pó por tudo o que era canto e grande parte das coisas estavam tapadas, realmente notava-se que alguém se tinha mudado, estava diferente mas era familiar de alguma forma. Estava parada no meio da sala até ouvir passos e a minha tia apareceu, fiquei sem reação, o que a minha tia fazia na casa ? Ela tem pavor deste sitio.

- Camille! Camille?

Não estava a entender a minha tia não estava a ver-me, ela continuava a chamar Camille, não sei quem seria, a única que conhecia era...

- Tem calma irmã.

- Mandaste-me mensagem para que viesse aqui ter contigo e eu aqui estou.

- Eu queria dar-te isto.

Ela estendeu-lhe um caderno de uma cor rosa escuro, a minha tia sorriu-lhe e abraçou-a, uma menina estava a espreitar lá de cima, era tão diferente da mãe dela, tão parecida comigo.

- Ainda bem que te vais mudar mana, esta casa é assombrosa, fico feliz com a tua decisão.

- Eu sei, nós temos tido problemas aqui...

- Que proble....

Deixei de as ouvir, estava tudo a ficar escuro, de repente eu vejo Dilan entrar e Constança descer a escada, as minhas amigas descem para a cave, a minha mãe desapareceu, a minha tia foi embora mas eu continuo ali, a espreitar sentada nos degraus com um curativo no joelho direito, tão pequena, tão sozinha a olhar para mim mesma sem saber o que aconteceu, no meio de todas aquelas personagens, eu sou a única que me mantive aqui, presa á casa, presa ás memórias, num lance de imagens eu apago, só espero despertar e que todas as pessoas ainda estejam aqui, que eu não esteja sozinha.

...

Maria Luisa

Estava na festa com toda a gente e a Eve desapareceu e pouco depois o Mat, acho que estes dois ainda vão dar qualquer coisa... A Bi não sabe deles, pois está demasiado entretida com um surfista. Sempre desconfiei dos sentimentos do Mat, ele andava sempre com aquelas coisas, depois era muito fofinho para ela e não tanto comigo, enfim é o Mat.

Sempre me questionei sobre isto tudo, a Eve e a sua obsessão com a verdade, o eterno apaixonado e a Bi, sempre a mesma, divertida, social e completamente on neste mundo. Já eu sou mais de musica on e mundo off, hoje ia dançar até não poder mais e deixar de me preocupar tanto com pequenas coisas... pelo menos era o que pensava, onde estão a ir todos?

- Maaaaattt! Aqui estás tu! Onde te meteste?

- ah desculpa.

Não podia acreditar, ele estava com uma miúda loira, alta e horrível! Ele não podia trocar a Eve por uma miúda daquelas! Tenho de por juízo na cabeça deste rapaz. Puxei-o para longe dela e dei-lhe o maior sermão do século.

- Posso saber o que fazes com uma canivetes daquelas?

- Desculpa?

- Não desculpo nada, eu sei que gostas da Eve por que andas agarrado aquela?

- o..o que... espera, primeiro a Eve não sente nada por mim além de amizade e segundo tu não tens nada a ver com isso Lu!

- Tenho sim, que eu saiba...

Ele não estava a prestar atenção a nada do eu estava a dizer! Olhei para onde ele olhava e ao longe estava a minha melhor amiga no chão e uma pequena multidão em redor dela, estava a tornar-se uma multidão considerável, tentei perceber o que se passava, vi um carro, um homem assustado e chamaram a ambulância, horrorizada corri para lá com o Mat no meu encalço.

A Eve estava afinal no colo de Dilan e ele parecia estar apavorado porque ela não estava a respirar...

- Eveee!!

Comecei a soluçar e perguntei o que tinha ocorrido não recebi resposta, a tia dela estava a chorar e segurava alguém, acho que era a prima da Eve.

- Eve acorda!

Chamei também por ela, o Mat estava ao meu lado e a Bi tinha ligado para a ambulância.

- Eve!!

Dilan sussurrou-lhe algo ao ouvido.

...


Não sabia como acordar... estava escuro aqui, eu passeava de quarto em quarto com a miúda atrás, saber que ela era eu lembrava-me que isto não era real. Entrei no quarto que supostamente era de Dilan, agora estava lilás e em vez de um armário cheio de livros e uma prancha, estava uma poltrona cheia de roupas e um urso de peluche gigante. A pequena eu entrou e sorria, tinha o cabelo todo desordenado e um pequeno corte no lábio, toquei nos meus lábios, ainda tinha uma pequena marca, a sua roupa era o vestido branco e umas botas castanhas cheias de lama.

Ela ria e convidava-me a entrar no quarto, o quarto parecia turbulento como se de água se trata-se, quando tocas a água clara e tranquila ela agita-se, aquilo parecia o mesmo, uma ilusão que se agitava e depois voltava ao lugar.

- Eve acorda!

- Eve!!

Agitava e voltava ao mesmo.

Eu ia entrar, ia mesmo, mas um sussurro arrastou-se, era como se o dono da voz estivesse mesmo atrás de mim a dizer-me que segui-se na outra direção.

- Evelyn está na hora de voltares.












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