Colisão

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Eu não podia acreditar, estava tudo a misturar-se, ele estava aqui e  ela... aquela miúda sempre está onde á problemas. Ela olhava-me com confusão espalhada pela sua face clara á luz da noite e ele segurava-lhe o braço, o que é que ele fazia aqui? Tinha de sair dali, tinha de fugir outra vez...

Minutos atrás:

Tinha falado com Constança e íamos mudar-nos novamente, depois de tudo o que aconteceu e da vizinhança... pensamos em voltar a Inglaterra. Arrumava as coisas e sentia-me vazio, mais do que o costume, para quê tudo isto? Para quê fugir? Haverá sempre alguém que me vai apanhar, que se lembrará do meu outro eu.

A rua estava mais cheia do que o habitual, surfistas passavam, vizinhos, miúdas aos gritinhos histéricos... não tinham mais nada para fazer a uma terça-feira? Percebi que haveria algo na praia, estavam todos a falar nisso.

- Vais?

- Vou onde?

- À festa na praia?

- Não, tu sabes que não.

- Dilan tens de viver, tens de parar de te esconder.

- Não é isso que fazemos Constança? Nos esconde-mos? Não é por isso que nos mudamos, que vivemos a fugir?

- Tu não podes viver assim para sempre, como um fantasma.

Não consegui evitar sorrir da ironia, ela estava deitada a olhar-me com os olhos cansados, se eu a perde-se não tinha mais ninguém. Estava sentado na cadeira á beira da cama a olhar a janela.

- Porque fizes-te isso? Porque te cortas-te? Sabes que se morresses eu ficaria sozinho.

Ela olhou-me e parecia demasiado cansada para mentir, estávamos ambos.

- Não, não ficarias... David.

- Esse morreu.

- Não, ele está em coma, precisa de acordar e aprender a viver de novo.

Respirei fundo, uma dor que não saia, uma lembrança que estava cravada em mim e todo o tempo que passava e não mudava nada. Atravessei o corredor até ao meu quarto, vesti algo e fui até á praia que agora se encontrava cheia de pessoas, uma grande fogueira, musica alta... Olhava em volta e vi os amigos de Eve, e uns rapazes de preto, entre eles... Ian, preparava-me para ir embora até ver a estúpida daquela miúda segui-los para as rochas. Fui atrás dela, quão parva é, de certeza que era por causa da foto, foda-se.

Parei a meio caminho, ele não podia ver-me, eu tinha de me ir embora, eu tinha... que merda. Fui até lá e ali estava ela parada atrás de uma rocha de repente apenas a vejo correr  e ele segue-a. Estava consciente que não devia ter vindo mas que não podia voltar atrás.

- Ian!

- David á quanto tempo...

- David?

Ele largou-lhe o braço e eu fiz-lhe sinal para que se fosse embora mas claro que não foi. 

- Desde quando estás aqui em Bondi Beach ?

- Podia fazer-te a mesma pergunta. Mas para isso eu tinha de querer saber e além disso tenho de ir, se não te importas levo a inoportuna comigo.

Agarrei-lhe o outro braço e puxei-a dali, ela continuava a olhar-me assim com o olhar de quem  não está a perceber nada.

- Não te vejo á séculos e é assim que me recebes?

Não me virei para lhe responder, para quê?

- Ele já não fala com gente como nós Ian, tá muito fino.

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