Dor

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Na ultima página tinha frases escritas, a letra era idêntica á da minha tia atualmente, a sua letra muito direita e muito certa a comparar com uma letra mais torta mas bonita da sua própria forma. A ultima vez que a minha mãe escreveu ali foi no dia em que morreu, a data estava bem definida.

20-09-2001

Já não escrevia aqui á algum tempo, depois que recebi o diário que me ofereces-te mana, esqueci-me deste, são quase idênticos. Este marca a nossa juventude e o novo marcará a nossa criancice visto que somos adultas e tu obrigas-me a escrever.

Já te mandei mensagem para vires ter comigo, quero dar-te este visto que vou

Ela não acabou a frase, umas páginas a diante a minha tia escreveu.


Estou nervosa, preocupada...

Evelyn é muito parecida contigo, insistente, corajosa mas quer sempre saber demais. Ela sempre se mete em problemas, não sei o que fazer com ela irmã, não escrevia aqui á séculos, o nosso diário, quando éramos novas e confidentes isto fazia mais sentido, continuo a escrever aqui pois assim é como se ainda aqui estivesses, comigo... Afinal a única coisa que me resta de ti são estas fotos antigas e as mensagens que me mandas-te...


Quaisquer que fossem as mensagens não se encontravam ali, aliás, nem o outro caderno que como a minha mãe refere é como este mas mais recente e estava em sua posse. É esse que eu tenho de encontrar, esse tem as respostas.

- Ok, tu estás incrivelmente calada...

- Leste?

- Li, não diz muito...

- Eu sei, mas pelo menos é uma pista, vou passar estas ultimas páginas e vamos sair daqui.

Pequei umas folhas que estavam arrumadas sobre uma mesa a que faltava uma perna e em substituição estava um banco a segura-la, rabisquei o mais importante e guardei as folhas. Levei o caderno para o sitio onde estava antes e sentei-me numa cadeira minúscula.

- Agora só falta sairmos...

- Como? A porta está fechada e não há aqui nada para abri-la, os teus tios podem chegar a qualquer momento e deixei o meu telemóvel na praia.

- Yah, o meu está no quarto... Mas estas coisas não caberiam naquela pequena porta, tem de ter outra saída!

Estava cansada, meio zonza desde a praia, eu sempre quis encontrar um sitio assim, repleto de coisas que pertenciam aos meus pais, histórias, recordações... E agora estava presa entre elas. O Mat sentou-se ao meu lado.

- Eve, já pensas-te que podias estar agora com ela...

- Com quem?

- Com a Lilly, ela de certeza que gostaria que estivesses lá, que a abraçasses... afinal ela salvou-te a vida...

- O que queres dizer?

- Que em vez de estares com ela estás aqui... Que em vez de ires com os teus tios, ficas-te. Estás presa aqui, de todas as formas.

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