Sussurro

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Levantei-me e não reconheci o meu quarto, estava silencioso sem a Lilly, estava muito arrumado e não se ouvia quaisquer vozes lá em baixo... A minha tia não me tinha falado nada quando desci, tudo correu normalmente, como se de um dia normal se tratasse.

- Evelyn queres vir ao hospital ver a prima?

- Claro.

- Mas amanhã vais á escola, já perdes-te muitas aulas minha menina!

- Sim tio.

- Come tudo, estás muito magra Evelyn...

- Eu estou bem...

Os meus tios estavam estranhos... Enquanto pensava nas peripécias do dia anterior e repensava a estranha reação dos tios o Enzo desceu a escada e falou alto e de forma alegre.

- Bom dia!

- Bom dia querido.

Dei-lhe um sorriso e o meu tio acenou sem desviar os olhos do jornal. Ele disse que me levaria ao hospital, pois precisava falar comigo. Os tios saíram pouco depois deixando-nos na sala.

- O que se passa?

- O que andas á procura?

Não gostei da expressão na cara dele, parecia que tinha mudado de faceta, uma alegre e bem disposta para uma mais sombria e eu senti-me assustada.

- O que queres dizer...?

- Eu vi as ferramentas e o tapete... Arrumei tudo antes de os tios verem...

- Então é por isso que...

- Tu tens de parar com isto Eve, fica sossegada e segue com a tua vida.

- Enzo? Enzo espera...

Ele saiu para a rua e eu segui-o.

- Não me vais levar ao hospital?

- Entra.

Entrei no carro. A viagem foi demasiado longa e silenciosa, o silêncio parece que me persegue agora. Eu não estava a entender todo o escândalo, de todos ele era o que nunca pensei que me julgaria por tentar descobrir mais sobre os meus pais. Estou perdida.

- Não entendo Enzo, porque estás a levar isto tão a peito? Eu descobri que os tios escondem coisas dos meus pais, estou a descobrir tudo...

- Eu sei... Mas depois vais desejar não ter descoberto.

A sua voz não era a mesma, o tom estava grave e sombrio e não reconheci nem gostei da sua forma de falar. Ele deixou-me no hospital e foi embora sem mais palavras. Senti-me muito mal, sou um repelente de pessoas? O que se está a passar afinal? O pesadelo não acabou? Mesmo que ele tenha escondido as coisas e os meus tios não tenham descoberto, a minha tia não ouviu o barulho? Porquê esta reação? Porque é que ele disse aquilo? Porque todos parecem saber mais e não me contam?

Entrei no hospital e segui até á sala onde a Lilly estava, os meus tios estavam sentados junto a ela, ainda não tinha entrado, estava junto á porta a espreita-los. Vamos voltar ao que éramos... Talvez fosse melhor esquecer realmente o passado para viver o presente.

- Evelyn que fazes na porta?

Entrei e sentei-me junto a eles, só ia sair dali quando ela acorda-se, o meu anjo da guarda, a única que nunca me abandonou. Dei-lhe a mão e os meus tios saíram para falar com o médico.

Tirei um caderno do bolso, eu desde pequena tinha queda para o desenho e a minha prima também, encontrei aquele caderno no seu lado do quarto e não resisti a trazer-lo. Encontrava-se ali boas memórias que tínhamos de preservar.

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