Criança

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Não fazia a menor ideia do que estava a fazer, no momento apenas pensei em fecha-lo em algum lugar para que elas não fossem descobertas. Os braços dele estavam na minha cintura e o beijo meio atrapalhado foi apenas para o levar para o quarto, assim que ele atravessou a porta, agarrei a chave e tranquei-a.


- Que estás a fazer?

- A verificar que não nos entregas.

- Nos? Estás doida? Quem mais está aqui?

- Ninguém.

Ele aproximou-se repentinamente e estendeu o braço para me retirar a chave, coloquei-a no primeiro sitio que me lembrei que ele não tocaria. Ele ergueu a sobrancelha, e ameaçou-me de chamar alguém, mas eu sabia que ele não o faria pois Constança ia aparecer e ver-me no seu quarto. A minha reação foi fugir e ele tentava apanhar-me, parecíamos crianças aos saltos por todo o lado, se não fosse uma intrusa que tinha acabado de trancar o vizinho no quarto da casa onde os meus pais morreram e as minhas amigas estivessem a coscuvilhar lá em baixo eu podia rir-me da situação.

- Devolve-me o raio da chave, pára quieta....

- Vem buscá-la.

Ele caiu sobre mim na cama e a chave saltou para a alcatifa, ficamos a olha-la e quando ele se preparava para sair da cama puxei-o pelo fio que tinha ao pescoço, não estava á espera era que os lábios dele caíssem sobre os meus, fiquei meio paralisada e ele agarrou a chave, saltei para as suas costas quando ele chegou á porta, conseguiu abri-la mas eu segurei-o e caímos. As minhas costas doíam,ele pediu que o larga-se mas eu recusei, de repente apenas vejo o seu sorriso, não era falso como de costume, era sincero. Enquanto ele se ria da situação eu sorri, realmente parecíamos crianças tontas, mas eu nunca o tinha visto sorrir assim desde quando o apanhei na praia a surfar, a fazer algo que gostava, a ser feliz.

O momento não durou para sempre, uma luz, uma sombra e Dilan levantou-se de repente, eu assustei-me e segui-o.

- Esconde-te no armário, já!

- Não grites comigo!

- Não estou a gritar, estou a sussurrar!

Odeio quando ele vira aquele chato, fui em direção ao armário rapidamente. 

- Eu não cabo no armário, está cheio de tralha.

- Não é tralha.

Tentei analisar algum espaço onde me esconder, mexi algumas roupas e uma foto caiu, incrível era a segunda vez que via aquele sorriso hoje, aquele era Dilan? E o rapaz ao lado quem era? 

  - Quem é este? 

Ouvi passos e de repente apenas senti os braços de Dilan puxarem-me para a cama e os lençóis por cima de mim, comecei a reter a respiração, sempre faço isto quando tenho medo. 

  - Dilan, estás acordado? 

Quando ouvi a voz de Constança, senti-me mal, apenas abracei Dilan, tinha medo de ela me encontrar, tinha medo de Constança? Não sei explicar, apenas uma dor no peito, tinha noção da força com que o abracei e ele abraçou-me de volta, deixei-me assim ficar, mais segura.

Havia um relógio qualquer que tocava, eu ouvia-o ao longe. Ainda tinha a foto de Dilan, guardei-a no bolso. Sentia-me embalada naqueles braços, era-me familiar, lembrava-me de quando criança, não sei porquê, tinha saudades deste toque, mas não fazia sentido, acho que apenas esquecia-me onde estava e voltava ao tempo em que a minha mãe estava comigo, apesar de ser muito nova na altura.

... 


- Hey, acorda...

Uma voz...sussurrava, eu ignorei-a, queria dormir para sempre. Senti um desconforto, frio, e um braço abanou-me.

DespertarOnde histórias criam vida. Descubra agora