Chegada

19 3 0
                                    

Notava muita diferença da forma de conduzir descontraída do Richard , o homem da carrinha e Constança que conduzia como se estivesse a fugir á máfia. Fizemos algumas paragens no caminho e numa delas comprei umas calças e tratei a ferida que tinha na perna, noutra apanhamos uma rapariga que vagueava na estrada.

- Hey Rich!

A rapariga acenava e ele parou a carrinha.

- Hey miúda. O que fazes por aqui?

- Deixaram-me aqui.

- Andas-te a aprontar das tuas?

- Se me deres boleia eu conto-te...

Ela era ruiva com muitas sardas e tinha os braços todos tatuados, as suas roupas muito cortadas e uma mala ás costas que lhe chegava quase aos joelhos. Sorria de orelha a orelha, era bonita, fazia lembrar Sarah...

Todo o resto de caminho foi bastante divertido, ela contava piadas e peripécias passadas com as amigas e "amigos". Ela sorria-me e tentava fazer-me rir, mas eu só lhe sorria para não ser rude e para não ficar na beira da estrada.

- Que te aconteceu à perna?

- Um pequeno incidente.

- Tu não falas muito pois não?

- Ele fala normal Elaine, não é como tu que falas pelos cotoveles...

Ela sorriu-lhe, fazia muitas perguntas mas quando não recebia resposta continuava a conversa anterior ou deixava essa incompleta e começava a contar outra história completamente diferente. Resumindo, nunca fechava a boca e nisso lembrava-me outra pessoa.

Quando avistei Bondi Beach, Richard perguntou-me onde ficava a minha casa, pedi-lhe que me deixa-se na minha antiga rua e despedimo-nos.

- Espero voltar a ver-te miúdo, porta-te bem!

Assenti com a cabeça.

- Também espero.

Elaine saltou para o banco da frente e precipitou-se sobre mim, dando um beijo na minha cara e sussurrando no meu ouvido.

- Também espero ver-te por ai Dilan, talvez possamos conhecermo-nos melhor um dia.

Não lhe respondi, ela piscou-me o olho e o condutor ria da situação, desapareceram na esquina... Acho que não voltaríamos a encontrarmo-nos, as pessoas entram na nossa vida para momentos como este mas não ficam, nunca...

Não tinha para onde ir por isso comecei a andar em direção á casa onde anteriormente vivi, não tinha a chave mas consegui distinguir vidros partidos junto a uma das laterais da casa e ali estava uma janela partida que daria para a cave. Entrei e remexi os bolsos, eu sabia que tinha a chave algures... mas não foi necessária porque a porta estava aberta, subi os degraus e já me encontrava no final do corredor quando os ouvi ranger atrás de mim. Esperei um pouco e dei meia volta de novo para a sala, vi uns cabelos passar e reconheci-os.

- Estás de pé...

Ela parecia que se tinha arrependido de ter me seguido, quando falei ela parou e virou-se. Era linda, estupidamente linda. Estava de tranças e o seu olhar passava de surpresa e confusão para um certo olhar de desprezo.

- Não respondes?

- Eu tenho de ir.

Não acredito que ela ia mesmo, não parecia a mesma, eu esperava perguntas, exclamações e bem... mais perguntas. Ela simplesmente ia embora. Mas ela não podia ir.

Agarrei-lhe o braço e tivemos um certo momento de tenção, perguntei-lhe porque tinha vindo até aqui mas ela contornou a pergunta com outra pergunta. Senti-me na estúpida obrigação de questionar como ela estava, mas ao fazê-lo senti-me corar, não sei porquê e ela sorriu de satisfação, divertia-se com o constrangimento dos outros.

DespertarOnde histórias criam vida. Descubra agora