Mentes perturbadas que não esperam respostas

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Era Dilan! Corri pela casa á sua procura, chamava-o em vão, a miúda fez cara triste e fechou a porta do quarto, quando desci para a sala, estava na festa de Constança. Reconheci-a algumas facetas mas era tudo muito irreal, lembranças recentes mas meio varridas do meu subconsciente, porque era ele que estava a criar este mundo certo? E o mundo real? Onde estava? O que me aconteceu? Morri?

A Lu e o Mat estavam lá, eram os únicos que conseguia destingir as feições e tentei chama-los mas em vão, outra feição que distingui foi a de Constança, ela estava a olhar para mim e não estava feliz, encontrava-se sentada, todos estavam a ir-se embora agora e ela ali estava a seguir-me com o olhar.

- Onde está Dilan?

Perguntei-lhe mas ela apenas continuava a olhar, eu estava assustada, voltei lá a cima á procura de mim mas as escadas não acabavam... quando me cansei e encostei-me na parede bati com as costas numa maçaneta, uma estreita porta, com um papel escrito com letra infantil, este dizia " Só entram mentes perturbadas que não esperam respostas". 

Não quis entrar, isto estava a parecer o meu exclusivo filme de terror. Corri as escadas, queria ir embora, queria voltar mas estava difícil. As minhas mãos prendiam-se no corrimão como se ganhassem raízes, a minha mente vagava, não me recordava da saída, era como se eu mesma estive-se a prender-me ali. 

- Eu já percebi ok! Estou presa ao passado, estou presa nesta casa! Eu só quero voltar!

O silêncio... a casa estava novamente vazia, ali em frente estava a porta de saída, desci até ela mas não abria, do outro lado conseguia ouvir as vozes dos meus tios, dos meus amigos e de Dilan, a minha prima apareceu do meu lado e abriu a porta facilmente, ela parecia uma boneca inanimada que olhava para o nada, os seus olhos estavam escuros e tinha feridas nos braços, eu tentei ajudá-la, tentei falar-lhe mas de repente ela empurrou-me para fora e a porta fechou-se. Estava agora na minha rua que se encontrava muito escura e parecia maior, a praia estava muito longe e a fogueira estava apagada. Estavam ali todos reunidos em frente, eu estava aqui? Estava de volta? Isto é real?Era o fim deste pesadelo? Então ainda posso mudar o que...

Alguém chamou a ambulância, os gritos... interromperam os meus pensamentos e puxaram-me para o meio da multidão.

Avancei devagar para eles e ali estava a minha tia, os meus amigos, Dilan, eu mesma e.... a minha prima!

Estava tudo muito confuso, eu estava nos braços de Dilan e a minha prima estava ao meu lado nos braços da minha tia que gritava e tentava acordar-nos, a Lu estava muito nervosa e a chorar e a Bi reclamava com o Dilan a perguntar o que raio tinha acontecido, o meu tio tanto gritava com o homem do carro como implorava á minha prima que acorda-se e o Enzo estava a tentar acalmar a tia mas também não se encontrava em melhor estado. Tudo muito rápido... só a ambulância era lenta demais...


Eu lembro-me como isto aconteceu, começou comigo a fazer perguntas sem respostas, o Dilan foi embora e eu chamei-o David e ele parou, talvez tenha despertado alguma lembrança,  a minha prima estava a espreitar por uma brecha da porta de casa, eu não devia ter descido, ela devia ter-se deitado, a tia devia estar ali mas não, o destino assim não o quis, eu fui ter com ele e a minha prima viu o carro.  

  O ruído, o chiar das rodas naquele chão, a minha prima correu para mim e Dilan olhou para trás, aqueles olhos negros... apenas senti o empurram dela e cai para a frente, o carro embateu nela e não em mim nem em Dilan, o meu coração caiu, a  sensação de desespero familiar, o medo... Todas estas sensações eram reais só por motivos diferentes.  Levantei-me e tinha avançado na obscuridade da noite, com as lágrimas a transbordar no meu rosto e o dono do carro saiu assustado, cai novamente ao pé dela e não aguentei, Dilan agarrou-me e eu fechei os olhos para entrar na maior ilusão que tive e que agora queria que fosse real.

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