Levantei-me de manhã com a ideia de que os meus pais estavam aqui, que iríamos todos juntos para a tais férias que tínhamos combinado, quase consegui ouvir a minha mãe a chamar-me lá de baixo para que me despacha-se, nessa altura era tudo mais fácil, as minhas grandes preocupações eram as de um rapaz normal, divertir-me com os meus amigos, passar de ano e ter o máximo de miúdas possíveis.
Tropecei nos grandes livros que agora estavam espalhados pelo quarto, enquanto não os arrumava.
Apetecia-me sair de casa, Constança tinha saído para fazer compras para o almoço que tenciono faltar mas que sei que no final vou acabar sentado no meu lugar, odeio estar aqui, desci para a sala e olhei a janela; não resisti, peguei na prancha do Brad, sempre adorei aquela prancha mas agora simplesmente não fazia sentido tê-la, fui até á praia. Tinha de aproveitar que ainda ninguém tinha despertado, não queria ter de "conviver".
Estou tão farto desta merda toda, odeio olhar os outros felizes, odeio fingir que estou bem, queria que ele estive-se aqui, que os meus pais estivessem aqui, começo a correr em direção ao oceano, penso em todo o caminho que percorri até agora e como desisti. De repente apenas a água a passar o meu corpo, a adrenalina de uma onda e o cheiro da água salgada importavam.
Quando sai cruzei-me com aquela miúda intrometida, Evelyn... Ela olhava como se quisesse ver a minha alma, ou algo do género, como se lesse os meus pensamentos e isso assustava-me, ela reparou que a vi pois escondeu-se ridiculamente debaixo da toalha, avancei e comentei, ela acabou por vir atrás de mim. Devia ter ficado quieto.
Ela começou logo com as perguntas bobas, odeio esta miúda, ela estava a ser demasiado intrometida, nunca se calava, tentei assusta-la, segurei-lhe o braço com força e pedi-lhe que me deixa-se em paz, ela calou-se mas consequentemente aproximou-se. Naquele momento não fiz nada, não insultei, não a empurrei para longe apenas mantive-me na mesma posição, não que quisesse estar perto, acho...
-Eve está tudo bem ?
Um rapaz chamou-a e aproximou-se, aproveitei para me ir embora, eu tinha de me manter afastado de pessoas como ela.
Cheguei a casa, guardei a prancha atrás do armário, tomei um banho e vesti qualquer coisa. Quando desci a Constança estava a preparar o almoço.
- Bom dia Querido, queres ajudar-me?
- Não.
- Não sejas assim, seria mais rápido... sabes se as tuas amigas vêm?
- Elas não são minhas amigas, não percebo o motivo deste almoço.
- O almoço é uma casualidade; mas em relação ás meninas pareceu-me ver-te com uma delas perto da praia.
Ela cortava os legumes agora mais rápido e a sua calma habitual desapareceu por segundos, estranho... ela costuma ser muito boa a manter a máscara.
- Estávamos só a conversar, casualidades...
Ela sorriu, aproximou-se e eu tentei desviar a cara mas demasiado tarde, ela tocou os lábios nos meus.
- Eu sei.
...
A musica estava baixa mas ecoava pelo meu quarto, as janelas estavam fechadas e eu estava deitado na cama, a Constança já me tinha chamado duas vezes, resolvi descer.
- Oi, Dilan certo?
A miúda loira de olhos azuis olhava-me e sorria de uma forma irritante.
- Lisa certo?
- ahaha não Luísa, mas todos me chamam...
- Lu!
- Sim! já vou, estou a socializar...
Claro que a outra vinha também... observei-a por segundos, ela olhava tudo em volta como se de uma detetive se trata-se.
- Podes me chamar Lu, a Evelyn podes trata-la por Eve e o rapaz ao pé dela não sei se já o conheces, é o Mat.
- hmm a mim podem não me chamar, eu ficaria muito feliz.
Dei o meu melhor sorriso e fui ter com Constança.
- Não me estou a sentir bem, posso ir para o quarto?
- oh querido é má educação deixar os nossos convidados.
- Teus convidados.
Não valia a pena argumentar, quando começaram o jantar comi o mais rápido possível e fui para o meu quarto, vi Eve subir a escada e fui atrás dela, estava desconfiado. Passado um bocado ela entra no quarto de Constança. Vou atrás dela e tocou-lhe no ombro.
- Não é ai a casa de banho.
Ela deu um salto obviamente estúpida o suficiente para pensar que não seria descoberta a coscuvilhar.
- Não, eu...eu pensei... eu estava á procura... de....
- De?
- De ti.
- De mim?
Fingi espanto, a sério? Ela pensa que eu sou burro?
- A Constança estava á tua procura...
- Tu estavas a tentar coscuvilhar, eu não sei qual é o teu problema, não percebi se é por sermos novos aqui e tens a necessidade de saber tudo ou se o teu problema é a casa.
- Eu só estava a tentar entender... Quem é a Constança? Porque estás com ela? E a tua família? Porque vieram para aqui?
Ela conseguia irritar-me, os meus braços estavam estendidos e tinha-a presa contra a porta, ela parecia mais indefesa dessa forma, mas ao mesmo tempo eu parecia vulnerável porque ela olhava-me daquela forma como se consegui-se ver por trás de tudo.
- Não tens nada a haver com isso.
- Tenho.
- Tens?
- Os meus pais morreram aqui.
Naquele momento, não soube o que dizer ou pensar, achei que ela fosse daquelas raparigas que não tinha nada para fazer senão meter-se na vida dos outros, aquelas a que eu estava habituado a mandar passear, as que eram fáceis de afastar e magoar.
Ela olhava o chão com aquele olhar de tristeza que era-me familiar de certa forma e não sei porque apenas abracei-a.
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Despertar
RomanceCorro e corro o mais que posso mas não alcanço a saída, ele está tão longe mas tão perto... -Corre o mais rápido que conseguires - ouço me gritar "Este é o fim..." penso, mas como sempre ela apareceu e mostrou-me o caminho. ... Esta história é apen...