Elas andavam em redor no sótão a observar tudo o que eu tinha conseguido até então, a Lu parecia triste de alguma forma e eu desconfiava que era por não lhe ter contado antes que a busca continuava.
- Não acredito nisto, escondes-te tudo isto de mim?
- Não, eu escondi de toda a gente.
Ok eu estava a enterrar-me, mas não tinha sido a única a ocultar informação. Tentei remediar a situação.
- Ouve, eu apenas preciso de acertar tudo na minha cabeça, preciso de descobrir mais, eu já sei várias coisas, agora recentemente descobri que os meus pais morreram naquela casa, coisa que os meus tios nunca me contaram até ao almoço de Constança, nem vocês, porque eu presumo que os vossos pais sabiam e consequentemente vocês também.
- Eve tens de entender que nós só queremos o melhor para ti e eu não acho que isso seja meteres-te numa busca que não dará em nada, a escola começou e daqui a poucos meses vamos naquela viagem que temos combinada á séculos, vamos divertirmos-nos, vamos voltar a ser como éramos.
A Bi constatou, mas não me convenceu.
- Eu não consigo, trouxe-vos aqui acima porque eu preciso da vossa ajuda, preciso que me ajudem a achar o cabrão que matou os meus pais, sei que pode ser pedir muito mas eu preciso.
Duas lágrimas caíram, não pude conte-las.
- Tem calma, nós vamos ajudar-te, pensemos do inicio, os teus pais viveram e morreram ali.
- Sim... acho que já tinham saído daquela casa, muitas outras pessoas morreram ali antes deles, só que mesmo depois de terem ido, voltaram, parece que retornaram para morrer.
- Tu estás tão preocupada em achar informação na casa e se não houver nada lá? E se foram apenas assaltantes? O que farias se descobrisses a pessoa que o fez?
Eu estava a sentir-me em baixo, não sabia o que fazer, elas tinham razão, eu nunca tinha pensado, o que faria se descobrisse tudo? Era o fim da busca.
- Eu saberei o que fazer na altura, não foram meros assaltantes, se fossem não matavam os meus pais e deixavam-me ali a chorar, depois de vê-los morrer.
- Como descobris-te que estavas lá?
- Não descobri, apenas sei.
- Vamos confirmar, invadimos a casa e viramos tudo do avesso.
A Bi riu-se da própria ideia e a Lu olhou-a com desaprovação, mas eu achei curioso e adorei.
- Vamos.
- O quê?
- Vamos lá, entramos pela janela da cave, eu reparei nela entreaberta hoje quando passei lá.
- Não podemos.
- Lu faz alguma coisa louca uma vez na tua vida.
- Eu sempre faço e sempre me meto em problemas por vossa culpa.
- Eu alinho.
- Está combinado.
- Oh meu Deus.
Arruma-mos o que achamos essencial, elas ligaram aos pais a avisar que dormiam na minha casa e eles passaram-se, afinal amanha temos aula, não acreditava que estávamos mesmo a fazê-lo, quão irresponsáveis somos, mas finalmente tinha uma verdadeira chance de encontrar uma pista e não ia perde-la. Descemos as escadas, a Lu não parava de dizer que apenas nos ia acompanhar á casa e que não ia entrar, nós ignorávamos. Atravessamos a rua, estava uma noite de luar e as ondas do mar ouviam-se embater nas rochas.
...
Não conseguia dormir, os pesadelos tinham voltado, devia ser do dia que me esperava amanhã, o aniversário, não acredito que passou um ano. Levantei-me deviam ser uma três e tal da manhã, fui á casa de banho e quando regressava para o quarto embati em algo, talvez a porta... não, era uma pessoa e ela estava a tentar fugir de mim, agarrei-a e constatei que devia ser uma rapariga, tinha uma cintura fina e os olhos castanhos, aquela cara da minha querida vizinha intrometida, devia estar a alucinar, eu tinha me levantado certo? Quão determinada é esta gaja para vir aqui á noite.
- O que fazes aqui miúda? Como é que entraste?
Ela parecia assustada e tentava soltar-se a toda a força. Disse-me algo do género "preciso de encontrar informação sobre os meus pais, podes ajudar-me?" não acredito, por um lado não estou assim tão surpreso,mas obviamente não ia ajuda-la, miúdas como ela só trazem problemas... mas era satisfatório te-la aqui, costumam dizer para ter os inimigos por perto, mas as pessoas dizem muita merda. Ela dizia que ia embora e não voltava, como se eu acreditasse.
- Vais soltar-me?
- Não sei.
- Vais entregar-me?
- Não sei...
- Não estás preocupado que a Constança nos veja? Estás demasiado perto...
O que é que eu estava a fazer? A Constança, eu não podia... não bastava tudo o que tinha passado eu não podia, não com a Evelyn, o que se passava na minha cabeça?
Quando dei por mim ela beijou-me demasiado rápido e meio desleixado, estava a puxar-me para o quarto e eu não conseguia controlar a situação, logo que passei a porta ela trancou-a.
- Que estás a fazer?
- A verificar que não nos entregas.
- Nos? Estás doida? Quem mais está aqui?
- Ninguém.
Tentei tirar-lhe a chave mas ela guardou-a dentro da camisola, ela estava a gozar comigo?
- A sério? sabes que basta eu chamar alguém e vocês estariam apanhados, conseguem ouvir-me daqui. Ou simplesmente posso ir buscar a chave, não penses que não tenho coragem.
Aproximei-me e ela fugiu, parecíamos crianças a correr no meu quarto, odeio tanto esta miúda.
- Devolve-me o raio da chave, pára quieta....
- Vem busca-la.
Tropecei na porcaria de um livro, mas consegui agarra-la e a chave caiu no chão, estava a tentar sair da cama para apanhá-la e ela puxou-me pelo fio no pescoço, sem querer beijei-a, não foi premeditado, logo afastei-me e fui até á porta com ela agarrada ás minhas costas, consegui abrir-la mas caímos os dois no soalho.
- Larga-me.
- Não.
- Eu não te vou entregar, eu só quero que te vás embora.
Estávamos sentados no chão, ela em cima de mim, não consegui conter o riso para a figura que estávamos a fazer para além dela estar toda despenteada e vestida assim, que personagem. Uma luz acendeu-se no corredor, e uma sombra aproximava-se, era Constança, ela não podia ver Evelyn.
Deitei-me na cama e ela seguiu-me.
- Esconde-te no armário, já!
- Não grites comigo!
- Não estou a gritar, estou a sussurrar!
- Eu não cabo no armário, está cheio de tralha.
- Não é tralha.
- Quem é este?
Ela segurava uma foto minha com o Ian, no meio de todas a coisas, tinha de pegar naquilo; a maçaneta rodou, puxei-a para a cama e tapei-a.
- Dilan, estás acordado?
Mantive-me em silencio até ouvir a porta fechar, suspirei de alivio e por um segundo esqueci-me dela, estava abraçada a mim, deixei-me ficar assim, a minha cabeça doía e os meus olhos estavam a fechar-se, esperava acordar depois e pensar que tudo era apenas outro sonho.

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Despertar
RomanceCorro e corro o mais que posso mas não alcanço a saída, ele está tão longe mas tão perto... -Corre o mais rápido que conseguires - ouço me gritar "Este é o fim..." penso, mas como sempre ela apareceu e mostrou-me o caminho. ... Esta história é apen...