De volta

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A Viagem até á escola foi bem rápida, talvez porque passei grande parte a fazer perguntas e as respostas foram bastante vagas. Eu não conseguia acreditar no carro, era lindíssimo. Devia ser um Aston Martin one 77, um carro inglês. Sempre tive jeito com marcas de carros, nisso sou como o meu pai, pelo que os pais da Bi me contaram á uns anos atrás, ele era louco por todo o tipo de carros, mas sobretudo os clássicos.

- Finalmente acabaram-se as perguntas?

- Não respondes a nenhuma, é como falar com as árvores. Gosto do teu carro.

Ele não respondeu, ter-me trazido já foi grande sorte, estava sentada no passeio a pensar numa maneira de chegar á escola, já a considerar faltar hoje mas não podia. Pus-me a caminho e um carro parou bem perto.

- Entra.

- Não.

Ele ficou a olhar para mim, eu não gostava de seguir ordens e ele gostava muito de as dar. Não estava a perceber,quando é que ele tinha voltado?

- Que fazes aqui? Desde quando tens carro?

- Desde sempre, queres boleia ou não?

E foi assim, entrei e agora estou quase a chegar á escola, ele está diferente do que eu me lembrava, mais magro e bronzeado, já eu estava meio despenteada e toda de preto, com a roupa amarrotada.

- Tu estás igual Eve, não mudas-te nada!

- Tão engraçadinho, já tu mudas-te bastante mas apenas na vestimenta. Quando voltas-te?

- Ontem á noite, vim fazer uma visita á tia e encontro-te sentada no passeio a olhar para o nada.

- Perdi o autocarro, a tia ia matar-me.

- Que andas a aprontar rapariga?

Ele olhava-me com aquela cara de gozo de sempre, não conseguia imaginar o Enzo de outra forma, era o meu primo preferido, ele viveu com o meu tio, até este ir para um lar e ter um ataque de coração, depois largou a escola e foi trabalhar, teve sucesso, pelos vistos tinha emagrecido bastante e agora estava de volta.

Foi uma longa viagem, quando viramos a curva para a escola e me preparava para sair, não aguentei a pergunta.

- Porque voltas-te?

- Negócios, vai mas é estudar, vemo-nos mais tarde.

Ele piscou-me o olho e foi-se embora a alta velocidade, sempre o mesmo... Que negócios ele viria tratar? Havia de descobrir...

Foi o pai dele, o tio Eda como eu lhe chamava, que me tinha trazido a casa da minha tia para ficar, após o caso dos meus pais, não sei que idade tinha, sei muita pouca coisa, por isso sempre quero saber mais, costumava ser sempre a ultima a tomar conhecimento das coisas. Estava a pensar nisto quando entrei na escola, quando me dirigi aos cacifos e quando me deparei com o Mat encostado ao meu.

- Hey.

Ele não me parecia nervoso pela conversa nem chateado por o ter deixado na praia, estava calmo e um pouco sombrio devo sublinhar, respondi-lhe com a mesma calma.

- Hey.

- A Lu e a Bi andam á tua procura feitas loucas.

- Pois... estão na nossa sala, certo?

Fiz-lhe a pergunta e comecei a andar sem esperar resposta mas ele deteve-me, agarrando-me o braço, estava meio dorida no ombro das voltas que dei no quarto de Dilan ( isto não soa bem, com isto eu quero dizer infantilidades da noite passada) e acabei por fazer uma careta.

- Doí-te o braço?

- É mais as costas...

- Porquê?

- Bati em algum sitio, sabes como eu sou...

- Sei?

- O que se passa Mat? Estás estranho.

- Eu estou normal, só gostava que confiasses mais em mim ás vezes.

- Eu confio em ti.

- Confias? Eu conto-te tudo, conhecemo-nos á algum tempo, eu era teu melhor amigo.

- E és, eu não estou a perceber a tua conversa.

Comecei a exaltar-me, eu sei que estava complicada a minha relação com o Mat depois de tudo... Mas ele era meu melhor amigo e ele sabia disso. Respirei fundo e tentei ir direita ao assunto.

- Mat explica-me o que se passa?

- Por onde devo começar?  Talvez pela parte em que não me contas-te que ias assaltar a casa do vizinho e que continuas a tua busca pelo assassino dos teus pais, apesar de no fundo saberes que não vai dar em nada.

Eu não podia acreditar, quem lhe tinha contado aquilo? 

- Mat... quem te contou essas coisas?

- Ninguém, eu mesmo vi...

- Tens me observado?

- Talvez...

 Fiquei numa mistura de confusão e alguma fúria, afinal quem é que não confiava em quem? Avancei pelos corredores da escola, mais uma vez deixei o Mat sozinho, eu não sabia o que fazer, primeiro descubro que ainda tem sentimentos por mim e depois quando penso falar com ele sobre isso, descubro que me anda a vigiar como se tivesse alguma posse sobre mim.

Talvez deve-se lidar de outra forma com a situação mas não consigo, encontro caras conhecidas mesmo ao pé da escada, estas mudam de uma expressão preocupada para admirada e logo me sorriem. Lu e Bi aproximam-se, lá vinha o sermão...














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