Despertar

Porquê?

A luz embatia no teto do meu quarto, não sei exatamente á quanto tempo estava ali deitada, não queria descer e olhar a cara de desapontamento da minha tia que teve de me ir buscar ao hospital e estava chateada por eu ter ido sem dizer nada, o meu tio estava em casa hoje, nunca abre o café ás segundas e a minha prima estava deitada ao meu lado, devia ter-se esgueirado a meio da noite para a minha cama.

Porquê?

Doi-me tudo por dentro, estou tão cansada. Lágrimas miseráveis escorrem no meu rosto, quão previsível. Tinha chegado tarde na noite anterior, depois de ir ter com a Lu, ela levou-me ao hospital num dos carros dos pais dela apesar de ter apenas 16 e de a mãe te-la avisado que se se metesse em confusão novamente, iria para um colégio interno. Quando cheguei lá, ainda vinha a tentar perceber o porquê que eu queria tanto lá estar. Dilan devia estar mal e não tinha mais ninguém pelo que eu sabia, ele não tinha me tratado bem mas ele é assim, tem uma estranha forma de ser e eu sempre tive queda para o estranho. Quis ver como estava Constança, quis saber o porquê, afinal é sempre o que quero saber, porquê. Quis pedir desculpa pela minha atitude, acho.

Tudo o que aconteceu depois, foi apenas outro Dilan, mais... Vulnerável.

Tudo o que descobri depois, foi que Constança era claramente mais que uma amiga para Dilan de uma forma que ela se cortaria a si mesma só porque o viu com outra rapariga, mas porquê que ele me beijou? Porquê que me sinto tão atraída para ele? Que história têm estes dois?

Tudo o que sempre quis foi saber o que aconteceu com os meus pais, porque não podia ter uma família como todos os miúdos da minha escola? A minha Tia sempre se mostrou carinhosa mas distante ao mesmo tempo, o meu tio dizia (ás vezes bêbado outras vezes irritado com aquele ar sério) que se pudesse iria embora e nunca mais voltava, a minha prima é só uma criança que eu sempre desprezei porque me fazia lembrar dos miúdos da minha infância. O Mat, chegou a estar apaixonado por mim, mas eu nunca notei até ao Verão passado e ele nunca me disse porque não queria estragar a nossa amizade, já a Lu é a pessoa mais próxima de mim, eu adoro-a mas nunca lhe consegui dizer como me sentia porque eu não queria dar-lhe o trabalho de se preocupar, queria que ela fosse feliz, para isso eu tenho de estar feliz... ou pelo menos fingir.

DIIIIIIIIIIIII   DIIIIIIIIIIIIII   DIIIIIIIIIII 

Desligo o despertador e levanto-me devagar para não acordar a minha prima que ainda tinha tempo. Arrastei-me até á casa de banho, ao sair olho-me no espelho, estou horrível. Subo até ao sótão para pegar as coisas da escola, visto-me... até avistar a partir da janela um quarto vazio cheio de caixas, era o quarto de Constança, consegui ver a partir da janela entreaberta, até que alguém veio fecha-la. Dilan, conseguia ver a sua expressão, o seu olhar e de repente nada.

Desci e peguei uma torrada, a Lu estava sentada no sofá , era o primeiro dia de aulas, para não variar ela devia estar á minha espera á meia hora.

- Bom dia, tu realmente demoras-te muito!

Ela parecia meio zangada, mas eu sabia que era na brincadeira, ela nunca se chateava realmente.

- Desculpa, estava meio ensonada, tu também podias ter subido, além disso é o primeiro dia de aulas dá-me um desconto. 

Arrastei a voz, ela sorriu.

- A tua tia abriu-me a porta, ela parecia meio chateada, obviamente sabe da nossa escapadela ontem. 

- Pois, onde ela está?

- Saiu agora á pouco.

- Espero que não se esqueça de levar a miúda á escola.

Saímos e eu aproveitei para perguntar enquanto nos dirigia-mos para a paragem.

- Os teus pais chatearam-se contigo, por causa de ontem?

- Não, eles nem desconfiaram, assim que te deixei no hospital, voltei e guardei o carro na garagem como combinamos, como os meus pais tinham saído com o outro e voltaram tarde nem deram por isso.

Ela parecia orgulhosa de si mesma e bastante entusiasmada.

- E  tu? O que aconteceu ontem? Liguei-te e não atendes-te! 

- Desculpa, não tinha bateria. Não sei por onde começar, apenas me deparei com um Dilan diferente, descobri que além de Constança não ser sua mãe, não é apenas sua amiga, são muito mais e o motivo de se ter cortado...fui eu.

- O quê? Não acredito. 

- Acredita.

- Mas tu.. tu e o Dilan? 

- Não eu e o Dilan nada, ele beijou-me mas acho que foi só para me provocar e ela viu.

- Vocês beijaram-se? Bem, ela é mais velha que ele e não me parece que ele goste dela desse jeito.

- Pois, devias te-lo visto ontem! Estava tão mal, com medo de perde-la.

- Mas ela está bem?

- Está a recuperar.

- Sabes que mais devia-mos telefonar á Bi, ela está cá em Bondi Beach, falei com ela ainda á bocado antes de sair de casa, ela vai voltar para a nossa escola e tudo. Vamos sair todas juntas e relembrar os velhos tempos, pois acho que precisas abstrair-te um pouco destes.

- A sério? Tinha tantas saudades dela, olha o nosso autocarro vem ai.

Subi e sentei-me no lugar de sempre, no banco em frente tinha as iniciais de nós as três escritas numa letra meio torta. A Bi tinha voltado, ela era minha amiga de infância, conhecia-a praticamente desde que nasci, os seus pais eram grandes amigos dos meus, ela e a Lu eram as únicas que me entendiam e me ajudaram a passar pela fase, que agora não tinha a certeza se tinha passado de todo.