9. Reconciliação

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-Parece que estamos te levando para a forca. Ânimo, Rafael! - minha mãe tentava, inutilmente, me animar. Estávamos quase chegando no Guarujá e eu parecia estar sob tortura.

- O papai só vai amanhã. O Mateus só vem amanhã, por que eu tive que vir hoje?

- Seu pai teve que resolver uns problemas da firma e seu irmão vai vir do Rio com a namorada para passarmos o feriado juntinhos, em família.

Minha mãe tinha um olhar de esperança. Ela não me falara nada, mas eu percebera que as coisas já tinham estado melhor em casa. Meu pai trabalhava até tarde todos os dias, enquanto minha mãe, professora, reduzira sua carga horária. Eu ouvia suas discussões cada vez mais frequentes e meu pai passara a beber. Queria acreditar que aquilo era só uma fase, e minha mãe também - ela tinha a esperança de que um tempo em família fosse reuni-los novamente.

- A Bia tá animada, né, filha?

Minha irmã sorriu. Ela era três anos mais velha que eu e já estava fazendo faculdade. Diferentemente de Mateus, o primogênito, que estudava no Rio de Janeiro, ela decidira ficar por perto e estudava em Ribeirão Preto, a apenas uma hora de Grande Abaré.

-Pensei que você fosse estar animado para passar quatro dias inteirinhos com a Vê. - ela me provocou e eu revirei os olhos.

-Cala a boca, Beatriz. - resmunguei, encostando a cabeça na janela do carro.

-Não consigo entender o que aconteceu com vocês dois. - minha mãe se lamentou. - Eram tão amigos! Como pode?

-Ai, tá bom, mãe. - respondi mal humorado, e suspirei aliviado quando o carro parou em frente a uma casa à beira mar. Já tinha passado muitos verões ali e várias lembranças me invadiram. Desci com uma mala na mão e Alice veio correndo em minha direção.

-Rafa! - ela gritou, e pulou em meu colo.

-Meu Deus! Como você tá pesada, Alicinha. Comeu uma melancia, foi ? - brinquei, e ela riu.

-A Verena tá brava. - ela disse baixinho, como quem conta um segredo. Coloquei-a no chão e seguimos para dentro da casa.

-Ah, é? E você sabe o porquê?

Alice começou a me responder, mas eu não estava mais prestando atenção. Podia ver Verena de biquíni na piscina e toda minha atenção ficou concentrada ali.

Só voltei à realidade quando minha irmã passou por trás de mim e me deu um tapa na cabeça.

-Ai, Bia! - reclamei.

-Já descobri. - ela sorriu. - Você tá apaixonado pela Vê, é isso, não é? Por isso brigaram.

Revirei os olhos. 

-Vai encher o saco de outro.

-A Verena sabe? - ela perguntou, mas eu não respondi. Ela riu e virou-se para Alice : - Sabe, Alicinha, o Rafa tá muito chato hoje. Vamos deixar ele sozinho um pouco. Que tal um banho de mar?

As duas saíram conversando animadas e eu revirei os olhos.

-Tia Flávia? - chamei, entrando na cozinha, onde o almoço era preparado. Ela se virou sorrindo.

-Oi, querido. Fizeram boa viagem ?

- Aham. Onde posso deixar as malas?

-Ah, reformamos o andar de cima. Você deu sorte. Ficará com um quarto só para você!

Menos mal, realmente. Se tivesse que dividir quarto por quatro dias com a minha irmã, acho que me mataria.

- Verena! - tia Flávia gritou, e Verena entrou na cozinha, ainda só de biquíni. Ela estava me provocando, não era possível. - Seja educada e mostre o quarto que seu amigo ficará.

VERENA - concluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora