- Rafael, não aconteceu nada, que saco. Eu vou passar o Natal com meus avós por parte de pai no Paraná, só isso. - Verena passou a mão pelo cabelo , parecendo estressada, enquanto jogava peças e mais peças de roupa em uma mala gigante.
-Você sabe que não pode mentir para mim, Verena. Eu sei quando você está mentindo, porra. - gritei de volta, andando pelo seu quarto nervoso. - Me diz o que eu fiz de errado, por favor. - pedi mais baixo e ela suspirou, sentando na cama e me olhando nos olhos pela primeira vez desde que eu entrara ali. Sentei ao seu lado e ela segurou minha mão.
- Você não fez nada de errado, Rafa. Desculpa. - sua voz estava embargada, como quem estava prestes a chorar.
- Vê, conversa comigo. Por favor. - pedi mais uma vez, e ela desabou. Lágrimas grossas rolavam em seu rosto delicado, molhando minha camiseta. Ela encostou sua testa na minha e depositou um beijo suave em meus lábios.
- E-eu não posso. Desculpa. - ela sussurrou.
- Como assim você não pode, Verena?! - eu queria ficar bravo, mas não conseguia. Minha voz transbordava preocupação e tristeza por vê-la naquele estado. Ela apenas balançou a cabeça, chorando ainda mais. Eu tive a impressão de ver tia Flavia passando pela porta do quarto com o rosto molhado por lágrimas também, mas eu deveria estar apenas projetando minha tristeza e a de Verena em outras pessoas.
Abracei-a, acariciando sua cabeça e esperando que ela se acalmasse, mas seu choro parecia não ter fim.
- Só me promete que vai voltar para o Ano Novo.- minha voz saiu mais baixa que eu gostaria, mas ela ouviu, pois levantou a cabeça e tentou esboçar um sorriso.
- Eu não sei, Rafa...
- Por favor, Vê. Eu preciso de você aqui.
Ela me encarou, como se sentisse a dor em minha voz. A verdade era que, querendo ou não, eu ainda era filho de meu pai e menor de idade. Assim, ele ainda mandava legalmente em mim. E me chantageara. Sim, meu próprio pai me chantageara. Ele preferia de chamar de negociação, mas era uma chantagem. Precisava de sua autorização para assinar contrato com qualquer gravadora, e ele só autorizaria caso eu aparecesse em sua festinha de Ano Novo na casa que tinha acabado de comprar com sua namorada-quase-noiva. Ele pretendia pedi-la oficialmente em casamento nessa festinha ridícula, e eu estava prestes a vomitar. Meu irmão não iria, ele passaria no Rio de Janeiro com a namorada e aquele showzinho seria presenciado apenas por mim e por minha irmã, que provavelmente estaria chapada demais para ser uma boa companhia. Então o que eu disse era a mais pura verdade. Eu precisava de Verena. Ou então acabaria tão chapado quanto Bia, o que deixaria meu pai puto e ameaçaria minha possível carreira musical.
- Tudo bem. - ela concordou depois de um tempo.
- Promete? - eu me sentia tonto fazendo aquele papel, mas não podia evitar.
- Eu prometo. - ela me beijou, e só então percebi que também estava chorando. - Eu volto para o ano novo, meu amor.
- Ufa. Você ainda me ama. - tentei brincar, mas no fundo era realmente um alívio ouvi-la me chamando de ' meu amor ' .
- É claro que sim, seu bobo. - ela revirou os olhos, e por um instante voltou a ser a Verena que eu conhecia tão bem.
Passamos o resto da tarde sem tocar no assunto de sua viagem repentina, o que era estranho, pois ajudei-a a arrumar sua mala. Alice se juntou a nós e logo o clima ficou mais leve, e ela parecia a única pessoa capaz de fazer Verena rir. Vê insistiu que estava tudo bem quando nos despedimos, mas não conseguiu olhar nos meus olhos quando disse aquilo.

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VERENA - concluída
Ficțiune adolescențiVerena e Rafael são amigos desde o berço.E essa é a história de como eles passaram de melhores amigos inseparáveis a algo a mais. Algo grandioso. Algo que algumas pessoas passam a vida inteira procurando. Juntos, eles descobriram a raiv...