15. Sim

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Sempre que lembro do dia em que pedi Verena em namoro, um sorriso surge em meus lábios. Eu estava tão nervoso que achei que talvez ela não tivesse entendido minha pergunta e os poucos segundos que se passaram até que ela me respondesse se arrastaram.

Quando um 'sim' baixinho saiu de seus lábios, foi como se fogos de artifício estivessem sendo estourados dentro de mim. Beijei-a como nunca tinha beijado-a antes, com a incrível sensação de que finalmente pertencíamos um ao outro. A cada briga, a cada discussão, a cada traição, a cada momento de raiva, a cada separação, a cada decepção, a cada choro, a cada crise.. a cada momento difícil que a vida nos reservaria pelos próximos dez anos, a cada vez em que pensamos em desistir, eu me segurei na sensação que tive quando a beijei naquela noite, depois do 'sim'.

- Nós vamos realmente fazer isso? - ela me perguntou quando nos separamos, nossas testas grudadas e a respiração ofegante.

- Na verdade, não. Foi uma pegadinha. - brinquei e ela revirou os olhos, mas riu.

- Eu ainda estou brava com você por não estar aqui essa semana, não se esqueça. - ela fez um biquinho.

- E como posso me redimir? - ela colocou uma mão no queixo e semicerrou os olhos, pensativa.

- Acho que , agora que você é um popstar, uma música em minha homenagem seria uma boa forma de se desculpar.

- Ok, mas saiba que Cai Cai Balão é uma obra de arte comparado às músicas que eu componho, depois não venha reclamar.

Rimos juntos e eu a abracei.

- Como você chegou aqui, afinal de contas?

- Davi. Ele me emprestou o carro.

- Você veio dirigindo de Ubatuba até aqui? - sua expressão, até então suave, transformou-se em um misto de ira e preocupação. - Você é doido?!

- Ei, eu estava em uma aventura romântica! - defendi-me.

- Imagina que romântico seria você sofrendo um acidente na estrada! Argh, eu vou matar o Davi, ele deveria ser o responsável. - uma risada debochada escapou quando ela disse aquilo, e acabamos rindo juntos. Responsável era um adjetivo que definitivamente não combinava com meu amigo. - Nunca mais faça isso.

- Isso vindo da menina que achou que era uma boa ideia beber absinto, roubar as chaves do jipe do pai e dirigir por aí sozinha. - desdenhei, lembrando da última Páscoa em que passamos no rancho de seus avós.

- Ok, não somos os melhores exemplos de responsabilidade. - ela disse baixinho, rindo. - Mas me conta, em uma escala de zero a dez, quão péssimas foram suas férias sem mim? E se sua resposta não for dez, estarei reconsiderando minha resposta a seu pedido de namoro.

- Onze. - fiz uma cara de desespero e ela riu. Passamos horas conversando sobre os dias em que ficamos separados, sobre sua viagem, sobre nossas famílias, sobre nós. Contamos piadas, rimos, nos beijamos, nos provocamos e aquele foi o melhor dia das minhas férias. Quando o dia já estava amanhecendo, voltamos para a casa de Verena. A sala parecia uma zona de guerra. Copos espalhados, bebidas derramadas e encolhida em um canto, Aisha dormindo profundamente. Na parte da piscina, Lucas roncava em uma das espreguiçadeiras.

- Oi, filha. Bom dia! - tia Flavia descia as escadas, ainda de roupão. - A festa acabou muito tarde? Eu e seu pai dormimos feito pedras.

- Não... - Verena disse incerta. - Acabou até cedo. Ficamos conversando depois. A Aisha tá dormindo na sala e o Lu lá fora. - ela avisou.

- Ok... Nossa, que cabeça a minha, nem tinha te visto, Rafael! Você não estava em Ubatuba?

- Ah, eu... - pensei no que ia dizer. Minha mãe não poderia saber que eu tinha voltado sem avisar para ela. Com certeza ela faria várias perguntas e não acreditaria se eu dissesse que vim de ônibus, pois só havia um ônibus por dia saindo de Ubatuba com destino a Abaré e ele saía às 15h.

VERENA - concluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora