VERENA - concluída

21. Pai do ano

Era mais uma tarde de domingo de outubro como outra qualquer. O Campeonato Brasileiro encaminhava-se para o final e eu assistia ao clássico Palmeiras versus Corinthians no quintal de casa na companhia de Lucas, Diego e Sapo. Era uma partida morna, os dois times já não tinham chance de consagrarem-se campeões ou de serem rebaixados.

- Mas fala aí, cadê a Nena? - Diego perguntou, jogando uma latinha de cerveja em minha direção.

- ENEM. - expliquei, abrindo a latinha.

- Mas pra quê? Ainda estamos no segundo colegial! - Sapo tentou entender.

- Experiência. Ou algo assim. - dei de ombros. - Só sei que não a vejo direito faz duas semanas. Ela tá louca com essa prova.

- Ué, nem vale nada!

- Parece que você não conhece a Verena, Sapo. Além do ENEM, ela vai prestar FUVEST, UNICAMP e UNESP como treineira. Não quero nem ver como vai ser ano que vem. - suspirei e Lucas riu, dando um tapinha nas minhas costas.

- Pois é, cara. Boa sorte em lidar com ela em ano de vestibular... Não vai ser nada fácil. - Diego riu e eu revirei os olhos. - O que ela vai prestar, afinal de contas?

- Boa pergunta. Ela chora toda vez que toca no assunto. O pai dela é médico e quer que ela faça Medicina, mas ela quer Jornalismo. Tá foda.

- Porra, foda mesmo. Meus pais já começaram a me cobrar disso também, acreditam? - Sapo nos encarou incrédulo. - O sonho da minha mãe é ter um filho engenheiro, coitada. Eu pego recuperação em matemática desde a quinta série, sem chances! Eu quero é fazer Educação Física!

- Fala pra sua mãe me adotar, Sapo. Já tô decidido em ser engenheiro químico! - Diego sorriu feliz. Era difícil acreditar que Diego Aranha fosse bom aluno, mas essa era a mais pura verdade. Sempre tivera facilidade e entendia as matérias com rapidez impressionante. - Já me vejo na UNESP!

- Com a sua média eu já me veria até em Harvard, Dieguinho. - Lucas brincou, mas depois ficou sério. - Eu sempre soube que iria fazer Direito... Filho de dois advogados, me dou bem com humanas, me identifico com a profissão. Então meus pais tão suaves em relação a isso. O problema é a faculdade! Meu, eles só aceitam que eu faça São Francisco... Caralho, vocês fazem ideia de quão difícil é entrar na USP?!

- Você passa, Lucas. - tranquilizei-o, porque sabia que aquilo era verdade. - Pelo menos vocês sabem o que querem fazer... Eu não sei nem se quero ir pra faculdade.

Meus amigos me olharam um tanto quanto espantados. Éramos todos de classe média alta, estudávamos na melhor escola da região, fomos educados para prestar os melhores vestibulares do país... E eu falava que sequer sabia se queria ir para a faculdade. Eu e Verena tínhamos tido uma discussão sobre isso há pouco. Era inadmissível que eu não tirasse um diploma de nível superior. Para ela era fácil, afinal, boa aluna, inteligente, sempre gostara de estudar... Mas, para mim? O buraco era mais embaixo.

- Porra. Quando começamos a deixar de falar sobre o novo GTA para discutir nosso futuro acadêmico? - Diego riu. - Acho que amadurecemos.

Caímos na gargalhada, pois aquela observação era ridícula. Éramos quatro moleques inconsequentes e irresponsáveis que davam muita dor de cabeça para os pais. Nossa risada foi interrompida por um furacão, também conhecido como Verena. Minha adorável namorada, que não sei como entrara em minha casa, abriu as portas de vidro que davam para a piscina e caminhou em minha direção quase correndo. Sentou-se em meu colo e olhou para a TV séria, sem falar nada.

- Hm, Vê? - eu chamei depois de um tempo. - Tudo bem?

- Aham. - ela limitou-se a dizer, voltando a assistir ao jogo. Eu olhei para meus amigos em busca de ajuda, mas eles pareciam tão espantados quanto eu.