O verão em Grande Abaré sempre beirava o insuportável. 40 graus celsius na sombra era algo comum, e toda a população já tinha desenvolvida suas técnicas para driblar o calor.Sorveteiros ganhavam dinheiro como nunca e a cidade ficava insanamente movimentada, pois ninguém aguentava ficar dentro de casa. Em uma tarde de fevereiro, tentávamos esquecer a sensação térmica que beirava os 45 graus no clube da cidade.
Era um clube relativamente grande para o porte de Abaré e frequentado em sua maioria pela população jovem. A não ser pelas quadras de tênis e de golfe e pelas salas de sauna e de pilates, todas as outras instalações do recinto eram dominadas por adolescentes. Meus pais eram sócios desde sempre, e eu costumava passar o sábado inteiro ali, jogando bola, nadando e tomando o melhor sorvete da cidade.
Saí da piscina com os cabelos pingando, e me sentei ao lado de Verena, que tomava sol, molhando-a. Ela não pareceu se importar nem um pouco e apenas sorriu, voltando sua atenção para a amiga.
- Meus pais estão me enchendo tanto o saco com essa história que eu não aguento mais ficar dentro de casa. - Aisha reclamava, dando um gole em sua caipirinha.
- Você tá tomando caipirinha de limão no sol? Vai ficar toda manchada. - Lucas avisou, aproximando-se também. Aisha revirou os olhos.
- O que eu faço? - ela se virou para Verena, que levantou os óculos de sol e encarou a amiga séria.
- Qual o drama, Aisha? - entrei no assunto, roubando a água de coco de Vê.
- O de sempre! Meus pais querem que eu arranje uma namorada para meu irmão. Quando eles vão entender que o Pedro é gay? - ela suspirou. - E agora que ele saiu de casa, eles ficam falando o tempo todo sobre isso comigo! ' Ah, Aisha, conversa com seu irmão, deve ser só uma fase. Ele vai te ouvir' - ela fez uma voz fina, tentando imitar a mãe. - Qual a dificuldade em aceitar que o filho deles gosta de meninos?
Aisha trazia um semblante cansado, como quem não aguenta mais aquele assunto. De fato, desde que seu irmão mais velho assumira a homossexualidade há cerca de um ano, Aisha nos contava como seus pais estavam sendo intransigentes.
- Bom, dê um tempo a eles, Ai. Seu irmão já tem sorte o suficiente de os seus pais não o expulsarem de casa. - Lucas disse, e Verena lhe lançou um olhar de cumplicidade.
- Como assim sorte? Maior zuado isso, Lucão. O Pedro sente atração por meninos ué, não deveria ser tão difícil pros pais dele aceitarem. Não é como se ele fosse um bandido ou coisa do tipo.
- Mas o pensamento de muita gente ainda é atrasado, Rafa. Assim como é difícil para um gay se assumir gay, também é difícil para os pais, que foram educados em uma época diferente, aceitar.- Lucas deu de ombros, pegando o copo da mão de Aisha e dando um gole. - Saco, esqueci que isso era limão.
Eu ri, mas ainda estava pensando na resposta de Lucas. Seu tom era estranho, um tanto quanto condescendente e eu não conseguia entender o motivo.
- Ei, quer sair daqui? - Verena perguntou baixinho no meu ouvido e eu rapidamente assenti, me levantando. Ela também se levantou e colocou um short jeans por cima do biquíni. - Já voltamos! - ela gritou por cima do ombro, me dando a mão enquanto saíamos da área da piscina.
Sabia para onde estávamos indo. A caminho do campo de golfe havia uma pequena área com várias árvores fechadas, uma mini floresta. Uma cerca com uma placa indicava que o acesso a aquele local só era permitido aos funcionários. Costumávamos chamar aquele local de Floresta dos Chapados, mas algo me indicava que, diferentemente das outras vezes, não estávamos indo ali para fumar maconha. Ignoramos o aviso e passamos por debaixo da cerca rapidamente, nossos dedos ainda entrelaçados. Caminhamos alguns poucos metros adentro daquela mata para que não pudéssemos ser observados, e Verena se encostou em uma árvore, sorrindo para mim.
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VERENA - concluída
Teen FictionVerena e Rafael são amigos desde o berço.E essa é a história de como eles passaram de melhores amigos inseparáveis a algo a mais. Algo grandioso. Algo que algumas pessoas passam a vida inteira procurando. Juntos, eles descobriram a raiv...