VERENA - concluída

14. Sorte

O toque de Use Somebody, Kings of Leon, começara e era minha deixa. A última música do show. Estava atrás do palco, tomando água e tentando me recuperar. Tinha sido uma semana puxada, com shows todos os dias. Era nosso penúltimo show, e eu estava em parte aliviado. Apesar de amar cantar, tocar e estar com aquela banda, as apresentações eram cansativas.

Subi no palco, um pouco atrasado, Murilo segurou a entrada na bateria por mim e eu agradeci com um aceno. Saímos do palco aplaudidos e agradecemos ao público mais uma vez. Era uma oportunidade e tanto.

- Mandou benzão hoje, Mu. - Davi cumprimentou, quando já estávamos fora do palco. O ruivo agradeceu batendo as baquetas no boné do amigo, que riu. - Espero que tenham gostado do show, galera. Porque foi o último da temporada.

- Como assim? Não seria amanhã? - perguntei confuso.

- Então, Rafa, mudança de planos. O show de amanhã seria para um evento fechado, e o organizador cancelou. - ela revirou os olhos. - Mas ainda vamos receber nossa parte.

- Nós falamos sobre isso antes do show, mané. Onde você tava com a cabeça? - Carlinhos riu.

Adivinha? Verena. Era aniversário dela e eu tinha tentado falar com minha suposta melhor amiga de todas as formas, e ela me ignorara lindamente. Recebi fotos de todos comemorando seu aniversário de 16 anos em sua casa, eles tinham passado a tarde inteira na piscina, bebendo todas e a essa altura estavam completamente bêbados. Minha irmã estava lá, e me enviara um vídeo do parabéns sendo cantado, Verena atrás do bolo, só de biquíni, rindo ao não conseguir apagar as velas, todos batendo palmas animados.

Eu queria estar lá.

Tínhamos sido a primeira das três bandas, além do DJ, que se apresentariam naquela noite, portanto, ainda era relativamente cedo. Olhei para o visor de meu celular, ainda na esperança de que ela tivesse me respondido, e vi que ainda eram 22h. Pelo que conhecia do meu grupo de amizade, a festa ainda demoraria a acabar. Então tive uma ideia.

- Davi, posso te pedir um favor?

- Fala, Rafa. - ele me encarou e eu considerei o que ia pedir. Entenderia se ele me negasse.

- Hoje é aniversário da Verena. Ela é minha melhor amiga e eu estou totalmente apaixonado por ela. E ela não acredita em mim. - Davi sorriu. Ele vinha me enchendo o saco há um tempo sobre meus sentimentos em relação a Verena, e eu sempre o mandava para aquele lugar. - No momento, ela está puta da vida comigo porque, bem, eu transei com outra e porque não estava em Abaré quando ela voltou de viagem e nem hoje, no seu aniversário.

- Já entendi... Você quer voltar para Abaré hoje, né ? - ele riu, estendendo a chave do seu carro para mim.

- Que? Eu ia te pedir uma carona... Tenho 16 anos e não tenho carta, Davi!

- Eu bebi, o Murilo e o Carlinhos também, não estamos em condições de te levar... Além disso, tenho certas coisas para fazer aqui hoje. - ele sorriu em direção a uma loira que o encarava. - Rafa, você nos levou para o hotel todos os dias dessa semana, pegando estrada. Eu já vi você dirigir, maninho. Relaxa. Se algum policial te parar, fala que você pegou escondido.

Ele jogou a chave para mim e eu a olhei confuso. Suspirei, ponderando se deveria fazer aquilo ou não. A estrada era tranquila, e eu dirigia desde os catorze. Ainda assim, era arriscado. Se minha mãe descobrisse, ela me mataria.

- A gente volta amanhã com o carro do Mu. - ele me puxou para um abraço.- Vai conquistar sua Julieta, Romeu.

Assenti rapidamente com a cabeça e saí dali quase correndo em direção ao carro de Davi. Pulei para o banco do motorista e dei a partida antes que mudasse de ideia. Apesar da pressa, tentei não passar o limite de velocidade, afinal, se algum policial me parasse as coisas não acabariam bem. Ao longo do percurso de pouco mais de três horas, tentei de todas as maneiras falar com Verena. Ignorado, recorri a meus amigos.