27. A bomba ( parte 1)

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- Rafa, eu não acho que seja uma boa ideia você ir lá agora...

- Foda-se, Aisha! Eu preciso! - eu praticamente grunhi, incerto de que minha amiga entendera o que saíra da minha boca. Mas ela deve ter lido minha expressão, um misto de raiva, preocupação e tristeza e moveu seu corpo, que bloqueava a porta da minha casa, para o lado.

O fato de eu e Verena sermos vizinhos talvez nunca tivesse sido tão útil. Naquele momento eu tinha urgência em vê-la,em xingá-la, em abraçá-la. Toquei a campainha seguidamente até a porta se abrir. Tia Flávia atendeu como se soubesse que era eu quem estava ali, como se soubesse o que acontecia.

- Quem te contou? - ela perguntou após alguns segundos em que nos encaramos sem nos dizer nada. Balancei a cabeça, fechando os olhos. Aquela pergunta era a confirmação de que era verdade.

- Aisha. - estiquei meu pescoço tentando ver Verena. - Eu preciso falar com ela. Agora.

- Eu não sei se ela quer te ver, Rafael. - ela tinha um semblante de dor, e parecia estar pedindo desculpas.

- Desculpa, tia. - eu disse, antes de levantá-la do chão facilmente, liberando minha passagem. Não olhei para trás para ver sua reação, apenas subi as escadas e fui em direção ao quarto de Verena. Estava trancado, mas não me intimidei.

- Verena, abre essa porta! - gritei, enquanto batia na mesma. - Eu juro que eu vou arrombar essa bosta se você não abrir agora, Verena. Um, dois...

Eu já tinha tomado distância para arrombar aquela maldita porta quando ela se abriu.

- Você está assustando a minha irmã. - Verena disse entredentes, com Alice escondendo-se atrás dela.

- E você está me assustando! Há mais de uma semana! - exasperei-me, colocando a mão na cabeça. - A gente precisa conversar agora, Verena!

Ela olhou nos meus olhos, cruzando os braços. Suspirou e disse em um tom mais baixo:

- Ali, vai para o seu quarto, ok?

- Vocês vão brigar? - Alice parecia preocupada, olhando seguidamente de Verena para mim.

- Não, a gente só vai conversar, rapidinho e o Rafa já vai embora.

Eu não consegui segurar uma risada, pois embora não soubesse que rumo aquela conversa iria tomar, sabia que, definitivamente, não seria rápida.

Assim que Alice entrou em seu quarto, fechei a porta do quarto de Verena atrás de mim. Ela não me encarava, apenas olhava o chão decidida, os braços ainda cruzados.

- Olha para mim. - pedi. Ela parecia relutante, mas após alguns segundos me atendeu. Seus olhos eram de um azul escuro, tempestuoso e naquele dia estavam mais escuros que o normal. - Como você pôde mentir para mim, Verena?!

- Eu não menti... Eu omiti.

- Você, você... Eu não sei nem por onde começar!

Eu realmente não sabia. Há uma semana, no primeiro dia do ano, Verena e eu tínhamos terminado o nosso namoro. Na verdade, ela tinha terminado comigo. Foi ridículo. Eu acordei e ela já estava completamente vestida, a maquiagem escorrendo e borrada como se tivesse chorado a noite inteira, me encarando seriamente.

- Precisamos conversar. - ela dissera, mas fora praticamente um monólogo. Ela não titubeou ao lançar aquelas palavras: - Eu não te amo mais.

De início achei que fosse alguma brincadeira. Era surreal demais para ser verdade. Há apenas algumas horas estávamos nos declarando um para o outro, nos beijando, transando. Eu realmente chegara a achar que fosse uma brincadeira, tanto que ri. Mas meu riso logo morreu quando percebi que ela continuava a me encarar seriamente.

VERENA - concluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora