5. Estranha

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Eu não sabia se deveria levar a sério a fala de Verena, então resolvi passar em sua casa antes da festa para verificar.

-Oi, Rafa! Tudo bem? - Flávia, a mãe de Verena, me recebeu com um abraço carinhoso depois de abrir a porta.

-Oi, tia. Tudo sim.  Eu queria falar com a Vê...

- Ela já deve estar descendo. Vocês vão na casa da Lara, não é? Achei estranho a Verena se interessar nessa festinha, elas nunca se deram muito bem. Aconteceu alguma coisa?

-Que? Ah, não que eu saiba. - desconversei, olhando para baixo. - Será que ela vai demorar?

Ouvi a voz de Verena me respondendo, do alto da escada.

- Se eu soubesse que você estaria me esperando teria enrolado mais. - ela riu e eu revirei os olhos. Enquanto ela descia a escada, observei-a atentamente. Ela estava com uma saia jeans ridiculamente minúscula, uma regata branca simples e uma camisa jeans aberta. O cabelo claro solto batia no meio de suas costas, e a única coisa que eu pude pensar foi que ela estava gata pra caralho. E eu sabia que era proposital.

-Verena, dá pra ver seu útero. Vai trocar de saia agora! - Roberto, seu pai, acabava de entrar na sala, acompanhado de Alice.

Ela sorriu irônica.

- O que você acha, Alice? Estou bonita?

- Tá bonita! - ela concordou com a cabeça enfaticamente e Verena agradeceu, piscando um olho em sua direção.

-Você vai deixar sua filha sair assim, Flávia? - ele exasperou-se.

- Ela tem catorze anos, amor. As meninas da idade dela usam essas roupas mesmo.

-Quase quinze. - Vê corrigiu distraída, mexendo no celular. Suspirou e olhou para mim, que observava a discussão quieto. - Vamos?

-Você vai mesmo? - perguntei receoso
.
- Mas é claaaaaaro. - ela riu. Estava impossível. - Tchau, gente. A casa da Lara fica a dois quarteirões daqui, vamos a pé mesmo, ok?

Roberto bufou.

- Cuida dela, Rafael! Não deixa ela beijar ninguém. - brincou, me dando uns tapinhas nas costas, enquanto saíamos.

Ri sem graça, e Verena segurou a risada.

-Pode deixar, tio.

- Não voltem tarde! - gritou, quando já estávamos na rua e Verena apenas acenou.

-Vai, pode soltar. Que merda você tá planejando? Te conheço! - falei, assim que viramos a esquina.

- Eu? Jamais! - ela colocou a mão no peito, fingindo choque. - Quero apenas aproveitar minha sexta feira, assim como você.

-Aham. Tá bom. - revirei os olhos. Eu sempre revirava os olhos quando estava em sua companhia.

-Sabe, eu achei que você teria um assunto mais importante pra discutir comigo, além do fato de eu estar indo na festa da minha arqui-inimiga.

Eu sabia onde ela queria chegar. Se ela queria jogar esse jogo, tudo bem por mim.

-Tipo o que? - me fiz de inocente. Já podia ver a casa de Lara e a movimentação de adolescentes. Ela parou e eu fiz o mesmo, virando-me em sua direção.

- Tipo o fato de você ter me beijado semana passado e ter fingido que nada aconteceu. - seu olhar era desafiador. Quando ela tinha virado uma completa adolescente? Não conseguia identificar nada da Verena criança com quem convivi tanto naquele semblante.

-E você não ignorou? - arqueei a sobrancelha e ela sorriu.

- Só queria saber se você estava arrependido. - ela deu de ombros e eu cocei a cabeça. - Pelo visto, acho que sim.

VERENA - concluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora